Visão No. 8

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Os sonhos são todos revelações 
Com que os deuses nos acalentam…

E foram tão benevolentes 
Que esses breves compêndios da vida
Têm dado lições que se reiteram… 

Quem já não amou em sonho 
E despertou  para a consciência 
De não ter amado?
Ou para abissal constatação
De o não ter sido tampouco?

Quem já se não  evolou ao ar 
E acordou pelo espasmo 
De pousar em algum catre?
Sob o teto mesmo 
Em que sequer se vê o céu? 

E não foi por este nobre treino,
Que aprendemos todo os  dias
Que acordar é estarmos contrariados? 

Mas vez ou outra
Em que a agonia de nos perseguirem 
Ganha formas de sonhar,
Em que feras surgem em feiura estranha,
Em que se nos amputa um membro
Ou em que morre alguém ou em que morremos…
Quem não acorda e admite de bom grado
Que nem todo sonhar é bom?

Acordei…
Abri a janela para ver lá fora o cinza 
De uma vida baça e fria… 
A preguiça desse dia morto
Despertando a preguiça de estar vivo…

E o sonho dispersando-se-me dentro, 
Com a agonia de ter morrido alguém 
Que não morrera…

Sorri triste… 
E pensei comigo, 
Se não era verdade , 
Que havia aprendido
A suportar todas as contrariedades da vida...

E isso me soou um tipo de conforto...

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