Visão No. 48

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Sentem ranço de tudo e se enojam,
A vida lhes é má que não serve aos instintos… 
Mas repara que é a vida o que querem
Enquanto aos outros é que desprezam… 

Buscam-se, querem-se 
E de querer a si tem desejos que lhes condizem,
Mas quando é que vão perceber 
Que estão atados a toda humanidade
E que seu desejo é o laço? 

Também eu queria 
Um mundo que me conviesse… 
Em que a ignorância fosse obliterada de vez
E cada qual soubesse que lugar lhe cabe 
Na balança cósmica da existência…

Também eu queria os gestos gentis,
Não ser despojado de qualquer direito já garantido pela convenção humana
E poder chamar a isso justiça… 
Teria eu todos os direitos: 
Comer, amar, um teto
E sexo o quanto os quisesse
E ninguém me privaria do meu direito 
Para me falar de trabalho ou dever.

Mas o ranço e o nojo  que sentem
São o constrangimento de a vida estar diante de si e mostrar belezas que não podem alcançar
E que os obriga a contentarem-se pouco, 
Com esta escassez incompreensível
Que é viver neste mundo
Em que falta o sentido
E sobra a  fadiga dos deveres, 
E que por isso compartilha-se com desigualdade o pão, o leito e as dores…  

O ruído das queixas revelam contradições e insatisfações… 
E a balança das relações humanas 
Oscila num alternar de pesos e contrapesos,
No vai e vem inconstante  das emoções humanas…

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