Visão No. 27

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Embalaste o mundo
Enquanto ele dormia…
Embalaste com uma canção fúnebre…

Há uma maldição para os que se convencem da adulação do mundo,
E por isso cá estou,
Nessa casca débil 
Desfazendo-me a cada dia 
Enquanto tento manter minha unidade
E não me dispersar nas suas lástimas… 

Meu ritual persiste! 
 Sorvo mais um gole.
O mundo é o mesmo de sempre…
Pelo menos aparentemente...

Por trás dele
Cantam, no entanto, o seu lulaby…
E tu não és mais do que a madrasta da humanidade.
Cantando e cantando. Gemendo e Chorando…

Por trás de paredes de tijolos,
Por trás do rumor e do barulho que enchem as cidades, 
Por trás do cansaço...
Embalas-nos num vai e vém de vida e morte...
A roda eterna gira,
A roda da mó não cessa de girar
E cada um de nós 
Ora ou outra
Sucumbirá e será moído…
Kali negra, Kali escura…
Fim de eras, Fim do fim!

Eu um dia quis,
Um dia tive esperança,
Vi a Escada de Ascensão 
E tive pés como os que ousam ascender…

Mas o que há aqui agora?
Na guerra fria do cotidiano, 
Na  hipocrisia das grandes causas?
Apenas a desfaçatez dos que lutam por seus interesses 
E o nomeiam com palavras grandiosas… 

Mas eu sei que nos embala,
Minha mãe escura, 
Senhora de névoas e sombras,
E a cuna oscila para que o sono venha,
Um sono tão escuro quanto a morte…
Um sono surgido
Sob teu ressentimento, teu ciúme, 
Sob a inconsequência que clamas como direito
E sob o desvario de exigires que vivamos a nos retratar
Dos teus crimes
E da ruína que tu mesma trouxeste…

Mas a noite é longa!
A noite — dizem os que a embalam
com seu canto de morte,
Com os pesares e as dores de quem vela-nos, —
A noite é apenas uma criança…

VISÕES AO CREPÚSCULOOnde histórias criam vida. Descubra agora