Visão No. 47

18 0 0
                                    

Teu amor pelo novo 
E desapego do que julgas velho 
É apenas a juvenil deselegância 
De quem nasceu há pouco… 

Tem um azedume de leite coalhado,
Uma incontinência de fluídos 
Que deixa nódoas amarelas na carne… 
Uma vivacidade precipitada, 
Uma temeridade que é um desperdício da força vital…

Falta-te a estética 
Que nem adquiristes e já rejeitas… 
Amas com força,
Mas é preciso amar com paciência,
Para não estiolar a vida inteira...

(Se se perder a sepa presente,
Enfraquecer-se-ão obviamente as vindouras…
És nada além de pontes para o futuro
E não o futuro em si)

A vida que queres e que descobres na tua aurora,
Que julgas de um viço inédito
E por isso te faz crer no ineditismo das tuas experiências, 
Desmascaram apenas a inocência 
Que te arrasta a um processo de individuação tão tedioso
Quanto uma sucessão de milênios…

És a velha novidade, 
O renovar intempestivo da terra,
A mesmice que se veste de novas modas,
As modas que revisitam o classicismo inalterável da humanidade… 

Lançarás ao chão o pão que te alimentou 
Para pareceres em cisma com o mundo.
Verterás ao chão o vinho que bebeste,
Quando o excesso te trouxer ao lábios um gosto amargo...
Porque essa é a essência da novidade: 
Condenar o velho porque envelheceu.
Mas sem a consciência de que a eternidade 
É esse círculo pelo qual todos nós seremos dobrados sobre nós mesmos
E o novo há de se converter 
De novo no velho…

VISÕES AO CREPÚSCULOOnde histórias criam vida. Descubra agora