Visão No. 0

19 0 0
                                    

No último crepúsculo do mundo,
Me ressinto de que não estejas comigo...
Sei que minha própria ausência não será sentida
Nesse mundo em que o sol desce às profundezas escuras...
Mas a tua ausência cresce,
Lança sobre si esse imenso manto escuro de andarilho,
Salpicado de estrelas,
Por onde teus pés caminham no pó...

Para o último crepúsculo do mundo,
Deixo este cansaço,
Não o levo comigo na carne,
Mas dispo-me dela também como quem chora,
Deixo ir com ela as dores que subjetivamente suportei...

Mas de repente ficou tão escuro,
E não pude mais sentir o cheiro das prímulas nem dos crisântemos,
A brisa dos dias de calor arrefeceu na minha pele fria,
O gosto do teu beijo já não era mais do que uma memória fugidia...

Não é bem como se eu partisse
(daqui para outro mundo),
Estou definitivamente aqui!
Mas tudo o mais se vai de mim,
Como uma onda que veio até meus pés e devagar foi-se afastando...

A existência que era forte e natural
Cansou-se do esforço e das lutas e da angústia
Com que o coração lhe bombeava vida
Junto com a intensidade dos sentimentos humanos.
Restou indiferente
Após o coração bater mais rápido, depois mais lento,
Numa arritmia mágica,
E então veio a canção grandiosa do fim
Num sustenido agudo que se ouviu no mundo todo...

Apenas o sol se ocultou atrás da linha sinuosa do horizonte...

VISÕES AO CREPÚSCULOOnde histórias criam vida. Descubra agora