Visão No. 44

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O que é humano em mim
(Isto é, toda extensão de meu ser)
Condena fatalmente meus ideais… 

Maior erro não há do que odiar o mundo 
Se este mundo se tece do que é humano,
E querer puni-lo não seria para mim também uma condenação?

E que eu diria de querer salvá-lo? 
Minha salvação para os espíritos decaídos 
Não seria uma nova queda?  

Deixe que caiam — é hoje meu discurso! —
Se puderem se erguer que se ergam:
Milênios sobre este chão 
E continuamos nos arrastando em vão,
Serei eu, uma breve e equivocada existência,
A redimir todos os pecados? 

Terá relevância se busco um novo mundo, 
Senão a mim e só a mim, 
Não serei condenado ao meu mundo
E não se forjará da ansiedade com que eu o ergui
Com sonhos, desejos e pensamentos? 

Toda causa não é senão egoísmo, 
Toda salvação que se generaliza,
Condenação aos  demais… 
Toda reivindicação de  justiça o desfazer da ordem que a outros servia…
Toda revolução, o pisotear a existência de alguém...
E a troco de quê?
Nada senão instintos primitivos de auto proteção,
Medos atávicos, 
Ressentimentos incuráveis 
Que subjazem dentro de minha individualidade 
Eternamente condenada a estreiteza de existir 
Aqui e agora
( Somente)...  

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