De muito pensar
Amarga-se o sabor da vida...
Ela que é um oposto do vinho
Pois de tudo quererá estar sóbria
E não se ter envelhecida.
Por isso, ainda borbulhante ao paladar,
Aproveita dela melhor cada sensação...Os barris do pensamento,
Estocados numa adega infecta e escura
Produzem almas avinagradas...
Mas quem não se guarda
E não vê propósito em estar confinado,
É sempre fresco ao paladar...E como se há de reconhecer o prazer
Das grandes coisas deste mundo?
Cidades são cemitérios vastos,
Assembléias são velórios
Em que só se pode estar em luto,
E cada qual no seu túmulo
Define bem o que é o egoísmo humano.Todo pensamento que se guarda
Demasiado e profundo
Torna-se adequado aos momentos de tristeza,
E soa como o canto fúnebre
de quem encontrou o cadáver de si mesmo e pranteia...Deixa-o, pois, se morto.
Que se lhe enterre!
Siga um caminho à margem,
Passa ao largo
Pelas trilhas de grande altitude,
No relento da noite
Ou sobre um sol que fustiga...
Entrega ao vento teu canto...
Antes que tua alma se azede,
Antes que tua existência apodreça...
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VISÕES AO CREPÚSCULO
Puisi#COMPLETO Poesias & Reflexões Em versos brancos, uma viagem por este mundo crepuscular em que as coisas lentamente se dispersam para abraçar a escuridão da noite.