Visão No. 60

20 0 0
                                    

Nada quis 
De tudo que me foi dado…

E por isso o mundo veio
E a reboque seu ressentimento 
De tão grande desfeita… 

Mas nada quis 
Da glória que me era dada:
Não quis seu dinheiro além do que me bastasse,
Não quis a vaidade de me tornar maior do que sou,
Nem melhor,
Nem mais belo…
Não quis a notoriedade que se supõe de fazer
Algo de relevante aos outros,
De ser útil aos outros,
De ser produtivo para a humanidade… 

De tudo quis o que não pude evitar de querer,
Mas com parcimônia de quem tem preguiça de empreender grandes coisas para outrem… 

Mas quis, outrossim, o que me legitimasse diante de mim
(E falhei pois sou falho!),
Quis o que não me expropriasse da sanidade 
(E testemunhei minha insanidade),
Quis algo a parte do mundo 
(E erigi mil castelos de sonhos!) .

E quem estaria mais certo do que eu? 
E digo sem a pretensão de ser certo para os outros… 
Ambição que não tenho!
Mas sendo certo de não querer o que querem,
De não invejar o que invejam, 
De não dar valor ao que valorizam… 
Certo de ter-me conforme 
com outra ambição, 
Da qual as palavras são dissonantes aos ouvidos dos outros,
Uma ambição minha,
Alta como a cúspide da torre,
Mais além das estrelas que jorram luz na escuridão.
Mais escura, contudo, que essa escuridão,
Letras de um alfabeto indecifrado, 
Sequenciais de mundos inquantificáveis,
Gematria nova,
Árvore do Mundo, emanando mundos,
Desde o silêncio onde enunciou-se o meu nome inominável…

Essa ambição de mim é indiferente para com todas as coisas, 
É um tédio de tarde depois do trabalho,
É o cansaço com o que me foi dado,
É o arrepender-me de ter feito tudo o que fiz para que fosse bem visto pelos homens…

VISÕES AO CREPÚSCULOOnde histórias criam vida. Descubra agora