Visão No. 58

20 0 0
                                    

Quanto barulho!
Ah! Quanto ruído! 

Um agito todo que freme e coacha,
Como engrenagens fendidas e mal engraxadas… 

Tudo me lembra o que é inútil,
O que vem precoce 
E nem devia de vir… 
Tudo o que vem em grande excesso 
Como que excretado por uma insignificância
Que só se dá a perceber 
Pelo ruído rouco, pelo vagido da gastura
Que me vem aos ouvidos… 

Ah! Para vossa intensidade, homens,
Que tenho senão meu cansaço?
Para vossas causas arrogantes, 
Que, senão o meu tédio? 
E o meu profundo desejo de estar longe de vós,
E mais do que de vós da vossa ética, 
Calcada na autoindulgência,  
Em toda bobagem que pregais
Como a mais rara ciência…

Grandes fingidos que fingem,
Grandes fanfarrões das grandes causas,
Grandes ribombos dissonantes,
Desafinadores de instrumentos,
Ressentidos das coxias, 
Canastrões do grande teatro, 
Vendedores de panaceias… 

Pelo  palco desfilam suas faces patéticas, 
Buscando comover com dramas vagos e incertos, 
Reduzindo toda a complexidade inútil de todas as teses vagas 
À simplória brutalidade de sua expressão…

Melhor seriam calados, mas não se calam…
Julgam relevantes suas mesquinharias, 
Choram centenários uma suposta virgindade perdida 
Em dias tão incertos como lendas… 
Condenam o mundo a toda imundície 
Para dizer que os homens todos são sujos…
Tão sujos como eles… 

E por isso me canso
E cortei os laços de caso pensado…
Não me culpem
E se me julgarem que me julguem!
Só quero passar ao largo!

Não! Não é certo que algo desse instinto de rebanho nos una…
E se unir, ainda assim, 
Afasta este jugo do meu dorso, 
Quero a solidão e o meu silêncio… 

Não precisam de mim 
E se puder partir, farei o grande esforço de não lhes  ser  um fardo no fim...

VISÕES AO CREPÚSCULOOnde histórias criam vida. Descubra agora