Visão No. 75

15 1 0
                                    

Meu ser anseia pelas paisagens ídilicas e preguiçosas de um tempo eterno,
Não a intensidade destes tempos frenéticos e maquinais, 
Mas que esse mundo 
tenha de volta a força da chuva, a velocidade do vento e o ardor do sol, o silêncio da terra…

Lembro com tamanha gravidade 
E com essa dor nostágica
De quando a vida era o aproximar-me das coisas reais
E de quando não havia relutância em mim de aceitar as sensações mais brutas…

Para o frio que eu sinto havia a Chama,
Para a noite escura em que vago havia o Facho,
Para a morte uma coroa de flores
Ressendendo seu olor adocicado,
E para essa solidão sem fim,
Atrair-se por outrem a ponto de surgir uma nova vida fora de si…

Para coser os andrajos de um mundo sacudido no vento havia o Mistério, 

Antes de todas as complexas redes de explicações,
Havia uma lógica pura que não se espreguiçava demais,
Alongando braços, 
Torcendo os membros… 

Havia uma lógica no crepúsculo…
Vermelha…
Roxa…
Dourada…
Um sistema complexo de mundos sobrepostos,
Onde fiz certa vez a peregrinação caótica
Rumo a mim mesmo,
Pisando nas nuvens, deambulando ao largo do píncaro do mundo, chapinhando no espelho de água que refletia o céu para que o céu o refletisse…

E então adormeci de repente
E minhas asas de Ícaro se dobraram em volta do meu corpo
E não eram asas de cera…
E não eram asas,
Mas um jogo de hélices que rodopiavam acima do mundo, 
Rápida Hermamené,
E o seu contra-giro me devolveu a trivialidade e ao altar profano de todos meus dias… 






 











VISÕES AO CREPÚSCULOOnde histórias criam vida. Descubra agora