Entre Promessas e Sentimentos

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Kuon

Ainda estou esperando que o senhor mascarado me diga o motivo de ter me chamado de forma tão abrupta. Será que falei algo que não devia? Não que eu tenha notado.

— Já está escurecendo, temos que encontrar um local para dormir.

Ele me chamou com tanta urgência que pensei que fosse algo mais sério. Não precisava ter me chamado para perto dele só para dizer isso para todas nós.

— Podemos usar o quarto onde estávamos com a Mayuko, o que acham?

Falo enquanto intercalo meu olhar entre o senhor mascarado e as meninas, tentando avaliar suas reações.

— Ótima ideia, Kuon! Se formos agora, não chegaremos tão tarde e poderemos descansar para amanhã. — Yuri sorri para mim, radiante.

Não gosto quando ela me olha assim. Nada contra ela — seu sorriso é encantador, e ela parece uma pessoa incrível, além de ser muito bonita. O problema é que sei que, em seguida, Mayuko vai começar a me encarar com seu olhar mortal.

Tenho certeza de que ela está apaixonada pela Yuri, mas ainda não teve coragem de confessar. Entendo mais sobre isso do que ela imagina. E se a Yuri prestasse um pouco mais de atenção, perceberia como Mayuko a olha, como seus olhos brilham sempre que está por perto. Sinceramente, não sei como ela ainda não notou.

O que Mayuko também não percebe é que eu só tenho olhos para uma pessoa. Nada, nem ninguém, vai me afastar dele ou me fazer desejar outra pessoa, por mais atraente que seja.

— Você e a Yuri vejam se o quarto é seguro. Eu e a Kuon vamos ao banheiro rapidinho. — Mayuko dá a ordem, seu olhar cortante especialmente direcionado a mim. Resolvo não contrariá-la.

Quando me preparo para seguir, sinto uma mão apertando a minha. Meu coração dispara. Só pode ser uma pessoa.

Olho para trás e vejo que a mão do senhor mascarado está segurando a minha. Fico parada ali, ao seu lado, aproveitando esse breve momento.

— Ela não vai com você. — A voz dele é firme.

— Por quê, senhor mascarado? — pergunto, confusa. Será que ele não confia em mim?

— Eu prometi que não ficaria longe de você novamente. Se quiser mesmo ir ao banheiro com essa louca, vá, mas ficarei aqui esperando. Se precisar de mim, é só me chamar.

Um calor suave preenche meu peito. Ele se importa comigo. E mais do que isso, está cumprindo sua promessa. Isso não tem preço. Nunca o julgaria por querer me manter segura.

— Tudo bem. Eu vou rapidinho e volto. — Solto sua mão aos poucos e sigo para onde Mayuko está, sua expressão nada amigável.

— Ele manda em você agora? — O tom dela é ácido.

Sorrio gentilmente e balanço a cabeça. Ela não entende como isso funciona.

— Passamos por muita coisa. Eu não vou deixá-lo para trás e ele não vai me deixar. Assim evitamos que coisas ruins aconteçam. Como você e a Yuri.

— Nunca enxerguei dessa forma. — Mayuko parece ponderar por um momento. — Ainda quer ir ao banheiro?

Ela segura meu braço e me puxa para dentro. O banheiro é grande, com vários espelhos e quatro cabines. Parece um banheiro de escola.

— O que você queria...? — Começo a perguntar, mas paro quando percebo que ela está próxima demais do meu rosto. Dou um passo instintivo para trás.

— Vou lhe fazer uma pergunta e você não pode mentir. Ouviu? — Sua voz é séria.

Confirmo rapidamente, assustada com a intensidade dela.

— Você gosta do Sniper?

Minha respiração trava. Meu coração dispara, minhas mãos tremem. Isso me pegou completamente desprevenida.

— D-do que v-você está falando? E-eu...

— Não minta.

Encaro o chão e respiro fundo, tentando acalmar minha pulsação. Sinto meu rosto queimar. Meu Deus, eu não esperava por isso.

— S-sim. Eu me apaixonei. Mas ele não pode saber. Você precisa prometer que nunca vai contar.

— Isso não me interessa. Só queria ter certeza de que você gosta dele e que não está de olho na Yuri.

— Promete? — insisto.

Ela assente discretamente.

Solto um riso fraco. Óbvio que notei que ela estava de olho na Yuri. Ela já me fuzilou com os olhos mais de uma vez só por Yuri se aproximar de mim. Mas Yuri nunca foi uma opção para mim.

— Fico feliz. Ela também gosta muito de você. — Pela primeira vez, vejo Mayuko sorrir e corar de vergonha.

— Você não vai contar para ela? — sua voz sai hesitante.

— Você não vai contar ao Sniper? — Respondo com um sorriso fraco.

Ela solta uma risada breve.

— Justo. Agora que tudo está esclarecido, vamos antes que venham atrás de nós.

Ao sairmos do banheiro, o clima entre nós parece mais leve. Podemos nos tornar boas amigas. Afinal, compartilhamos segredos.

No entanto, ao levantar os olhos, vejo o senhor mascarado mais à frente, conversando com Yuri. Eles estão tão próximos. Rindo. O peito aperta. Uma pontada de ciúmes me atinge em cheio, como uma faca girando no estômago.

Eles combinam. São fortes, destemidos. Ele confia nela. Será que confia mais nela do que em mim?

Sinto um enjoo repentino e paro.

— Você está bem? — Mayuko pergunta, preocupada.

— Sim, não foi nada.

Me forço a olhar para frente. A raiva de sentir isso me consome.

— Eu sei. Ter ciúmes é uma droga. — Mayuko fala com um tom de quem entende. E então, grita: — VAMOS!

Os dois olham em nossa direção. Eu desvio o olhar.

— Você está bem, Kuon? — O senhor mascarado pergunta, se aproximando.

Apenas aceno. Começamos a caminhar de volta ao apartamento. O silêncio agora reina entre nós.

Finalmente chegamos. Pareceu uma eternidade.

— Agora vamos dividir os quartos. Aqui só tem dois e... bem, o sofá pegou fogo. — Yuri ri, divertida.

— Eu arrumo outro canto para dormir. — O senhor mascarado fala. Eu queria dizer que não me importo de dividir o quarto, mas não consigo.

— Eu e a Mayuko ficamos em um. Podemos preparar um canto no chão para você dormir com a Kuon, se ela não se importar. — Yuri sugere.

Todos me encaram. Apenas balanço a cabeça. Não me importaria. Mas agora só quero ficar sozinha.

— Eu vou tomar um banho. Me sinto suja. O que decidirem está bom para mim. Ainda estou cansada de hoje. — Forço um sorriso e caminho até o banheiro.

Preciso esfriar a cabeça. Manter a calma.

Sem chorar. Afinal, ninguém tem culpa do que estou sentindo. Ninguém pode saber.

Isso tudo... é uma droga.

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