"Lalisa"
Vaguei suavemente o dedo pela taça de vinho que bebia enquanto encarava os demais quadros, olhava as assinaturas dos artistas, mas nenhum me chamou tanta atenção quanto a assinatura da tal "Jennie Kim" era um simples, e bem feito "J." apenas isso, pequeno no canto da tela, não puxando a atenção da pintura em si, que era linda. Uma rua, com luzes que pareciam ser de prédios mas que imitavam as estrelas, em um atom azulado com cinza, era diferente, leve, e muito impressionante, ao meu ponto de vista já que raramente me prendia em qualquer pintura por mais de cinco minutos.
- Richard - chamei, ainda penetrada naquela paleta de cores tão simples - Eu quero uma cópia desse quadro, quero que o coloque em meu escritório ao lado da minha prateleira de pandoras, em um ângulo que todos possam ver ao entrar em minha sala. Vou esperar essa Jennie Kim chegar para comprar o original.
- Sim, senhorita Manoban.
Tomei o último gole do vinho tinto e continuei caminhando até o estacionamento pronta para mais um ensaio fotográfico. A semana se passou de uma forma rápida, a loja e o museu tomando do meu tempo, não me deixando pensar em qualquer outra coisa a não ser a inauguração e na chegada dos artistas renomados em meu nome.
Cumprimentei sutilmente alguns convidados, aceitando uma taça de vinho de um dos garçons e continuei andando, vendo várias pessoas encantadas pelo os quadros, outras comendo os aperitivos, já outras sentadas apenas escutando a ópera mais ao fundo. Eu estava atrás da tal Jennie Kim, não sabia quem era, mas descobriria de alguma forma, porém fui impedida de prosseguir assim que uma pequena mulher se esbarrou em mim, fazendo-me derrubar o vinho em seu vestido, um vestido de gala, branco. Arquei uma sobrancelha, quando ela se afastou um pouco olhando para mancha roxeada em seu belo vestido.
- Eu não acredito nisso - falou.
- Deveria olhar por onde anda - rebati bebendo o resto do vinho que sobrara em minha taça, curvando um pequeno sorriso quando a mulher me fitou com uma grande fúria nos olhos.
- Certo, minha querida, vamos fingir que você não jogou o seu vinho em mim de propósito. Pois o meu esbarro foi bem longe da sua mão, e não tinha como derrubar em meu vestido.
- Oh... a senhorita está insinuando que eu desperdicei o meu delicioso em seu vestido? Que aliás ficou mais bonito com essa mancha.
- Como é? - perguntou incrédula, afinando a voz ao pronunciar o pequeno "é" em puro deboche - Esse vestido paga a sua casa e até a sua vida.
- É mesmo? - falei voltando a caminhar, mas parando atrás dela me abaixando um pouco para sussurrar em seu ouvido - Fique tranquila, há convidados com roupas mais feias que a sua, você é só mais uma entre eles.
Dito isso, sai andando até o meu escritório, esperando até a hora da exposição, a hora que conheceria Jennie Kim. Porém não tirava a cara de raiva da pequena mulher ao esbarrar em mim, olhos profundos, escuros, cheios de vida por conta da maquiagem e do delineador pesado em sua pálpebra, pele clara brilhante por conta do iluminador, cabelos escuros, longos, lisos presos a um rabo de cavalo alto, era uma bela mulher.
Me sentei na primeira fileira, ansiosa diria para o quadro vir ao palco junto a sua artista, esperei, começando a ficar impaciente ao ver tantos artistas mas nenhum deles era o qual eu tinha interesse de conhecer. Até que por fim, Richard colocou o quadro em seu cavalete, e ajustou o microfone para que a autora daquela obra prima falasse.
Demorou mais que o normal para que ela entrasse, olhei pelo os cantos da sala, e não a vi andando até palco, ficando puta o suficiente para querer levantar e procurá-la sozinha. Mas então ouvi barulhos de saltos pelo o assoalho do palco, fiquei levemente surpresa ao notar que a tal Jennie Kim, era a pequena mulher na qual seu vestido de gala havia sido manchado por mim, a mancha permanecia, mas um pouco mais sútil, imaginei que estava no banheiro tentado tirar a coloração.
- Uma boa noite a todos, meu nome é Jennie Kim, e eu sou a artistas por trás do quadro Uma Noite Clara - todos aplaudiram após ela se calar, seu sorriso foi pequeno e parecia grata e aliviada por tal feedback - Me inspirei nesse quadro olhando para a vista que o meu apartamento favorece para a maravilhosa cidade de São Paulo, moro no Brasil e estou aqui para divulgar o meu trabalho. Espero que seja do agrado de todos vocês, uma boa noite.
Ela assentiu e se curvou um pouco antes de sair do palco, me levantei e caminhei até aonde ela andava, senti que alguém me seguia e revirei os olhos, me virando para trás, era Richard.
- O que você quer? - perguntei impaciente, levemente receosa em perder Jennie de vista.
- Ainda há mais dez artistas para subir ao palco, senhorita Manoban, eles precisam da sua avaliação.
- Os avalie por mim, tenho algo mais interessante a fazer agora.
- Mas, senhorita-
- Você me escutou, Richard.
Segui os barulhos dos saltos finos, que seguiam novamente até o banheiro, me encostei na parede do corredor, esperei que ela entrasse e em seguida abri a porta, a vendo concentrada em tentar tirar a mancha de seu vestido.
- Isso não vai sair - comentei a fazendo dar um pequeno pulo.
- Não, não vai sair, por culpa sua. Vê se da próxima vez enxergue quem é menor que você.
- A culpa é minha se você praticamente se atirou para cima de mim? Olha sei que sou linda, mas acho que uma abordagem mais convencional como "oi, me passe o seu número" seria melhor do que você literalmente se atirar para os meus braços.
- Cheguei a conclusão que além de cega, você só fala merda.
- Posso ser cega, mas pelo menos não sou atirada como você.
- Eu não estava me atirando pra cima de você! Eu nem te conheço! - eu ri, achei graça em vê-la irritada, uma pequena mulher irritada era algo cômico.
- Oh, minha querida, não fique tão irritada. É só uma pequena mancha.
- Eu deveria fazer você me pagar por outro vestido igual a esse, mas você não deve saber o que é uma loja da Chanel, e provavelmente não deve ter dinheiro para isso. Aliás, como está nesse evento? Entrou escondida?
- Eu sou a dona desse evento.
- Ah sim, e eu sou a dona da Pandora.
- Sinto lhe informa que eu também sou dona da Pandora, então não, você não é dona de lá.
Ela arqueou uma sobrancelha mas logo em seguida revirou os olhos e voltou a tentar limpar o seu vestido, continuei encostada na pia, apenas a encarando de início, a feição séria era atraente, quente, autoritária.
- Por que não desiste? Isso não vai sair.
- Olha, da pra você calar a porra da sua boca? Se não está aqui para achar uma solução para a merda que você fez, por que não sai?
Dei um meio sorriso e sai, a deixando com o seu frustrante vestido manchado. Mas eu não a deixaria tão cedo, provocá-la havia sido bem interessante.
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The Colors (Jenlisa)
FanfictionAonde Jennie encontra as cores que precisa em Lalisa, e Lalisa encontra o amor que precisa em Jennie.