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"Jennie"

Os pensamentos não faziam o menor sentindo quando expulsamos alguém que amamos da nossa vida. Quando nos permitimos nos afastar, nos isolar, pensar em apenas nós mesmos, nos auto consumimos para a ruína que o nosso subconsciente cria, para o mundo paralelo que achamos que existe. Depois de um tempo, você enxerga o que você fez, o que você errou, aonde errou, com quem errou, quem você afastou da sua vida, e cabe a você decidir o que irá fazer.

A decisão era minha, eu deveria escolher naquele momento. Sentar e fechar os meus olhos poderia ser uma opção boa, correr até ela.. esperar que ela corresse até mim novamente, isso não aconteceria, eu deveria fazer aquilo, e não ela. Eu estava errada, não ela, eu estava errada, e não as filhas dela, que não tinha culpa.. duas crianças que já conheciam a dor, e que agora se reerguiam com ela. Meu pensamento nunca foi tão doloroso, e a culpa nunca foi tão pesada como estava sendo naquele segundo.

Eu a amava demais para deixá-la ir, a amava demais para competir, a amava demais para mandá-la embora, se aquelas duas meninas eram a sua fonte de felicidade agora, eu aceitaria, não fazia mais que o certo ao aceitá-las, eu não poderia exigir absolutamente nada, não deveria. Ela sempre me colocou em um pedestal, no seu pedestal, sempre fui o primeiro lugar em sua vida, em sua lista de prioridades meu nome era destaque, em sua saudade, em seus sentimos, em seu desejo, em seu coração, e mesmo depois das duas pequenas, eu ainda ocupava o seu primeiro lugar. Ela me mostrou isso, mas eu não quis enxergar, por puro orgulho.

Ela me pediu tantas desculpas, que no fim, a culpa também era minha. Óbvio que ela havia errado, sim ela havia errado feio, mas diferente de mim, ela admitiu, tentou de novo, mostrou que errou e que estava aprendendo com o seu erro. Diferente de mim, que só a destratei, juntamente as suas filhas, eu estava errada, e queria mostrar a ela que eu poderia tentar de novo.

Aquela era a minha última chance, a última e única.

Peguei a chave do meu carro e dirigi o mais rápido que conseguia até o aeroporto, quase causando alguns acidentes, ultrapassando os sinais fechados, driblando carros e caminhões, tudo só para chegar até ela. Ficou mais difícil quando começou a chover, chuva de verão, forte, grossa, potente, quente, minha visão não era das melhores, as pistas ficaram escorregadias, e com isso tive que desacelerar um pouco. Meu desespero era mais que real, eu só precisava chegar até ela.. antes que fosse tarde demais.

Corri entre as pessoas, ficando nas pontas dos pés, tentando achá-la, era quase impossível, o aeroporto era enorme, eu nunca a acharia.

Olhei para a grande Tv percebendo que o avião com destino a Europa havia acabado de decolar. Eu havia perdido Lalisa.. ela havia ido embora, e eu não poderia fazer nada.

Me sentei em uma cadeira próxima, coloquei as mãos em meu rosto e depois de pensar em tudo, as lágrimas chegaram com enchentes contra o meu corpo, caíram em grande quantidade, apenas rolaram para baixo, freneticamente, desesperadamente, percebendo o quão idiota eu havia sido, em tê-la recusado, por ter errado. Ela também havia errado, mas o seu erro era o de menos naquele segundo, eu nem me importava mais com o que ela havia feito, já não importava mais.

Eu havia acabado de deixar o meu amor partir, sem ao menos tentar tê-lo de volta.. agora era tarde demais.

Levantei um pouco a cabeça e olhei para uma das entradas. Meu coração se encheu de esperança quando a vi. Era ela! Era ela! Era Lalisa bem ali! Segurava a mão de Olivia, a menina estava quase dormindo, acho que estava aguardando algo ou alguém.. mas.. o seu voo já tinha partido, como ela ainda estava aqui..?

Pare de pensar! Vá até ela!

Me levantei, caminhei lentamente, parando quando ela se virou para trás e sem querer seus olhos pousaram exatamente em mim, Lalisa ficou surpresa, franziu o cenho e forçou um pouco mais a sua vista, apenas para ter a certeza que era eu. Meus olhos se embaçaram, minhas pernas enfraqueceram, mas não o suficiente para me impedir de correr até ela, como se a minha vida dependesse daquilo. Dependesse dela e do seu abraço.

The Colors (Jenlisa)Onde histórias criam vida. Descubra agora