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"Jennie"

Era estranho.

Foi a coisa mais estranhamente louca que eu vivi em vinte e cinco anos da minha vida. Acho que por ser inesperado, por achar que realmente estava ali para coisas de trabalho, não estava ali para achar uma paixonite de adolescente, não estava ali para passar raiva nos primeiros encontros, não estava ali para rir a cada piada ruim, eu não estava ali para me apaixonar por um sorriso que mau era presente, mas quando era, fazia tudo brilhar.

E de fato não foi uma paixonite de adolescente, não foi. Eu achei um amor, pequeno, que crescia a cada segundo dentro do meu coração, eu achei uma mulher problemática e consegui encontrar nela uma mulher romântica, tímida com coisas bobas, que tentava fazer o que eu gostava, apenas para me fazer sorrir. Eu encontrei a minha namorada no meio daquela paixonite, eu encontrei o meu primeiro encontro, o meu primeiro beijo, a minha primeira vez, ali, naquela viagem eu entendi como era se sentir desejada, amada e especial por ela.

Não achava que era algum acaso, não achava mesmo. Eu só queria acreditar que era de verdade um amor, entre nós duas, poderia ser, iríamos fazer ser, não importava a distância, iríamos fazer dar certo. Afinal, o nosso orgulho, a nossa ignorância, o nosso egocentrismo, valia de alguma forma, não é?

- O nosso é o portão três, vai sair daqui quarenta e cinco minutos mas até chegarmos no avião - Júlia reclamou colocando seu travesseiro de pescoço e mais um moletom - Vou indo na frente. Tchau, Lalisa, espero você lá no Brasil, vou te levar nos bailes funks que tem lá em São Paulo, você vai adorar.

- Tchau, Ana Júlia - Lalisa a abraçou fortemente, e pude notar que sussurrava algo em seu ouvido, minha melhor amiga assentiu, colocando a mão em seu ombro em alguma forma de consolo.

- Vou comprar algo para comermos, não demore muito, Jen.

Dei um assentida, olhando pra Lalisa, seus olhos estavam marejados, mas ela lutava contra as lágrimas, jogava a cabeça para trás e a balançava, tentando se livrar das gotas salgadas que queriam escorrer por suas bochechas. Ao contrário dela, eu chorava feito uma criança, o soluço era alto, a dor era forte, e a sensação de ser abandonada se instalou em meu peito assim que ela me abraçou, acho que ela não quis segurar mais, Lalisa não segurou mais suas lágrimas e a soltou contra o meu pescoço.

Sabia que seria difícil, eu tinha aquela noção, mas.. estava doendo bem mais do que eu pensava. Agora eu não teria mais com quem brigar por ter roubado o meu sorvete, não teria mais alguém para chutar enquanto dormia, não teria alguém para me abraçar enquanto me assustava com algum filme de terror. Não teria mais alguém sussurrando em meu ouvido "eu te adoro", eu não teria mais. Pelo menos não fisicamente.

O meu avião partiria, eu partiria, mas o meu coração ficaria com ela, junto a ela, o meu sorriso verdadeiro estaria com ela, torcia para não ser um amor de inverno, queria que fosse um amor duradouro. Ela era o meu primeiro amor.

- Você tem que ir.. - murmurou, mas eu não a soltei, negando, sentindo sua camisa molhada por minhas lágrimas, não queria deixar ela.

- Eu não quero ir.. - sussurrei para ela, voltando a soluçar, não a deixando segurar o meu rosto, o mantendo afundado em seu peito.

- E eu não quero que você vá, meu amor.. mas você precisa ir agora.

- Amor..

- Você precisa ir agora.. não me faça implorar pela sua partida..

- Se você me pedir.. eu fico - falei, ela riu secando com as costas das mãos suas lágrimas, não adiantando de nada, mais delas caíram.

- Lembra que iremos dar um jeito? Se você quer, e eu quero, isso vai funcionar, pelo amor, Jennie, eu não aguento mais chorar - eu ri abraçando o seu pescoço, não querendo soltá-la nunca mais - Prometo te ligar todos os dias.

The Colors (Jenlisa)Onde histórias criam vida. Descubra agora