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"Jennie"

- De quinze a meia hora ela estará aqui - Lalisa falou colocando o seu celular em cima da mesa de centro, ela se sentou ao meu lado e automaticamente fiquei nervosa sobre a sua aproximação - O que quer assistir? Filme? Série?

- Pode escolher - falei entregando o controle em sua mão - Eu.. preciso ir ao banheiro.

Sai apressadamente da sala e me tranquei no banheiro da sua suíte, fechei os olhos e contei até trinta, duas vezes, minha respiração estava funda, eu tremia tentando diferenciar as coisas, o seu toque não era o toque dele.. e ela não havia me forçado a fazer nada.. quando eu falei "para" ela parou, então estava tudo bem. Ela não faria nada.. Lalisa não era Taylor.. estava tudo bem.

- Está tudo bem, Jennie.. está tudo bem.. - sussurrei para mim mesma, uma, duas, três vezes, até que as palavras não fizessem mais sentido - Está tudo bem..

Queria acreditar naquilo, mas era meramente impossível, as palavras só entravam em minha cabeça e ficavam lá, até que em algum segundo eu me esquecia sobre o que aconteceu quando eu tinha oito anos, nove anos.. dez anos.. onze, doze, treze, quatorze.. quinze.. dezesseis..

Eu só tentava limpar a minha memória, tentava entender e tentava aceitar que a culpa não era minha, a culpa não era minha.

Ou era..?

Balancei a cabeça várias vezes antes de lavar as mãos e o meu rosto, a água gelada me fez respirar um pouco, me acordou e me fez sair do banheiro depois de um tempo. Desci as escada e vi Lalisa serrando os olhos para ler alguma sinopse de algum filme aleatório, parei um pouco para observá-la, estava séria, concentrada, com um ar de autoridade, linda, charmosa, simples e..

Me perdi no pensamento assim que ela me olhou, provavelmente eu estava parecendo uma idiota a encarando parada no penúltimo degrau, o que ela via em mim de tão interessante ao ponto de me encarar tão intensamente? Eu não sabia, e também não fazia questão de saber. Me aproximei devagar e me sentei ao seu lado, seu olhar mudou completamente, suas órbitas penetraram nas minhas, tão profundo que pude sentir ela vigiando a minha alma e todo o meu interior, tão poderoso que me fez tremer por dentro, tenso e intenso, como se tivesse vendo algo em mim, que ninguém mais via, que nem eu mesma via.

- Você está bem? - ela perguntou, com o mesmo olhar, com o mesmo ar, com a voz baixa, rouca, mas preocupada, aquilo era novo.

- Sim estou. Por que?

- Seus olhos mentem, e você também - falou - Não gosto de pessoas que mentem pra mim.

- Acha que estou mentindo pra você?

- Sim, acho. Você tremeu quando falou que estava bem, seus pelos se arrepiaram e a sua boca está seca - franzi o cenho.

- E então tudo isso significa apenas que estou mentindo pra você? O frio no meio disso é descartado? Se toca, Manoban, pelo amor de Deus.

- Não nasci ontem.

- Eu também não, querida - rebati - Quer dar uma de metaforando? Fique a vontade, mas saiba que isso me irrita, e você não é tão sabichona quanto acha que é.

- Pelo menos eu não minto.

- Ah não? Então me diga o que fez aquele dia naquele restaurante? Por que eu nunca mais vi aquele garçom bonitinho? O que você fez aquele dia?

- Ele estava dando em cima de você na minha frente. Não fiz nada, apenas o necessário.

- E o necessário foi dizer que eu era a porra da sua esposa?

The Colors (Jenlisa)Onde histórias criam vida. Descubra agora