Capítulo 2

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[Lee Know p.o.v.]

Abri meus olhos vagarosamente e me vejo no meio de uma sala de estar de um apartamento. Ao redor haviam alguns poucos móveis de madeira consideravelmente antigos. Uma estante de madeira escura com alguns armários a minha frente contrastava com a TV de plasma de 40 polegadas em cima dela, como se um dinossauro estivesse segurando um smartphone. O sofá atrás de mim era de um tom de azul marinho que instantaneamente me fez pensar "brega". O apartamento era um pouco pequeno, contendo um cômodo inteiro para sala e cozinha e ao meu lado direito haviam duas portas, uma que dava para o único banheiro no local e outra que dava para um quarto também apertado.

– Pelo menos a cama é de casal – pensei em voz alta ao ver o espaço limitado que tinha para passar entre a cama, o armário, uma cômoda e uma mesinha de cabeceira.

Abri o armário e a cômoda para descobrir que haviam algumas roupas para mim. Pude sentir o forte cheiro de lustra móveis que vinha da madeira antiga, porém bem conservada, dos móveis da antiga moradora. O odor me incomodava um pouco, me fazendo correr para abrir as janelas de todo o apartamento. Assim que o fiz, os sons da cidade invadiram o local me fazendo contorcer um pouco os lábios.

Quando um cupido precisa entrar em contato com um humano, ele tem então de se tornar humano. Isso não significa que eles perdem seus poderes e seus sentidos super aguçados em relação a sentimentos e pressentimentos, apenas que o corpo passar a sentir os efeitos do mundo humano também, coisas como cansaço, frio, calor, fome, sono, dor, que normalmente não são sentidas por eles quando estão aqui em uma missão. Todos esses sentidos humanos eram como uma novidade para mim, então eu sabia que demoraria algum tempo para me acostumar.

Coloquei a mão em meu bolso traseiro da calça jeans para sentir que ali havia uma carteira, e dentro dela havia um cartão de crédito, umas poucas notas de dinheiro e o cartão que Jackson me entregou antes de vir. O cartão tinha um leve brilho furta-cor, bem sutil e tinha o nome de Eros em branco em ambos os lados do cartão. Esse cartão era o que eu precisava para transitar entre o meu mundo e o mundo humano sem problemas. Diferente dos celestes e deuses, os imieros têm um poder bastante limitado, que exige ajuda de alguns amuletos ou talismãs. Guardo novamente o cartão na carteira de couro barata e pela primeira vez decido olhar pela janela novamente para analisar visualmente o que eu não havia conseguido antes.

A rua em baixo do prédio não era muito movimentada, mas o comércio cheio de bares, lanchonetes e boutiques logo em frente era. Eu imaginava agora como não seria para Han Jisung viver em um lugar tão barulhento quando ele claramente não gostava de pessoas. Minha nossa, Han Jisung, é por isso que estou aqui! Como vou entrar em contato com Han Jisung? Se o garoto era como uma tartaruga, seria problemático já chegar forçando amizade com ele, certo? Teria de ser aos poucos, de maneira sutil e quase imperceptível. Olhei para o céu e vi que o Sol estava começando a se pôr, Han ainda demoraria a chegar em casa, como era dito em sua ficha. Então decido aproveitar este momento para me adaptar ao papel que terei que interpretar enquanto eu estiver aqui.

Era incrível como a cada segundo que passava, eu começava a sentir mais e mais como se tudo aquilo fosse real, como se eu sempre tivesse sido humano e como se toda a história que eu tinha pra contar sobre minha vida fosse verídica. E quanto mais eu respirasse aqueles ares e piscasse meus olhos, mais da realidade falsa eu absorveria.


[Han Jisung p.o.v]

Eram 19 horas agora e faltavam apenas duas horas para o estúdio fechar. Na verdade, já havia dado a hora de irmos para casa, mas meu grupo e eu sempre ficávamos até a hora do estúdio fechar, o que pra mim era ótimo. A melhor parte dos meus dias é justamente quando estou trabalhando no estúdio com meus amigos, pois eu sabia que o restante do tempo eu estava fadado a ficar preso dentro de casa por causa da minha ansiedade social. Encontrar pessoas, ter de me comunicar com elas e todo o resto me deixa nervoso como se eu estivesse sempre fazendo algo errado ou as incomodando. Meu cérebro fica em uma constante luta ao saber que todos esses pensamentos destrutivos são fruto da minha ansiedade, mas mesmo assim, ainda absorve cada ideia errada que pensa.

– O que acham de terminarmos amanhã? Eu estou cansado e acho que com bloqueio, não consigo prosseguir com a letra. – Changbin reclamou se largando no sofá que tínhamos dentro do estúdio.

– Hm...acho que não é uma má ideia, até porque eu já estou ficando com fome. – Chan respondeu lentamente tirando seus olhos da tela do computador.

Eu ignorei o que eles haviam dito porque sinceramente ainda não queria ir embora. Era triste ir embora. Parecia para mim que sempre que a hora de ir chegava uma angústia se acumulava no meu peito, pois sei que passaria o restante da noite sozinho, o que pra quem tem ansiedade social pode parecer confortável, mas é tão ruim quanto estar em uma multidão de pessoas.

– Han? – Chan chamou minha atenção – O que diz? Vamos embora?

– Não dá pra terminar amanhã. Hoje é sexta, esqueceu? – disse baixo.

– Não tem problema! Terminamos na segunda. – Changbin concluiu.

– Han – Chan me chamou de novo antes que eu tentasse ignorá-los novamente – Que tal a gente sair mais cedo hoje e irmos comer uma pizza? – ele tinha um sorriso simpático em seu rosto, quase como se ele pudesse entender o que eu estava sentindo agora.

– PIZZA! – Changbin gritou nos assustando – Abriu uma pizzaria nova no centro que eu estava doido para experimentar. Bora! – ele levantou rapidamente organizando suas coisas e nos fazendo rir.

No fim das contas fomos andando até o centro, que não era nada longe do estúdio, e fomos até a tal pizzaria que Changbin havia comentado. Por mais que não pareça, nós somos um belo trio de fofoqueiros. Aproveitamos o momento e a comida para trocar informações da vida alheia que não nos dizia respeito, além de criticar alguns trabalhos de estúdio de alguns produtores que não gostávamos, de graça. Após muitas fatias de pizzas carregadas de queijo e algumas canecas de cerveja, notamos que a hora havia corrido e já eram 21 horas. Decidimos ir para casa, mas com a promessa de que nos encontraríamos novamente no final de semana.

Voltei sozinho e a pé para casa. A rua tinha pouco movimento, o céu estava limpo, o clima refrescante e eu um pouco bêbado. De vez em quando eu me pegava rindo sozinho ao lembrar das fofocas que trocamos no jantar e pensava "Fica quieto, as pessoas vão estranhar" ao que eu mesmo me respondia "Foda-se" e começava a gargalhar novamente. Talvez uma caneca de cerveja a menos teria feito muita diferença.

Entrei no prédio antigo, subi pelo elevador mais barulhento do qual a humanidade já havia ouvido falar e parei no quinto andar. Atravessei o corredor até a minha porta e tirei do bolso as chaves de casa que sem querer puxou o crachá do trabalho e meus fones de ouvido, fazendo com que tudo caísse no chão. Quando eu estava prestes a me abaixar para pegar as coisas enquanto murmurava um palavrão, notei um garoto de cabelos castanhos a minha frente se apressando para pegar meus pertences e, com um sorriso em seu rosto, me devolvendo ele disse:

– Oi, vizinho!

Minha Criptomania  |  MinsungOnde histórias criam vida. Descubra agora