Capítulo 24

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[Han Jisung p.o.v.]

Acordei muito cedo, por volta de umas sete da manhã. Minho ainda dormia e eu sabia disso apenas por causa de sua respiração lenta. Ele ainda estava de frente para mim, mas não me abraçava mais. Notei que eu estava descoberto e minhas pernas estavam arrepiadas de frio, mesmo com o pijama cumprido que eu usava. Esfreguei minhas pernas uma na outra e procurei o lençol pela cama e não o encontrei de modo algum, até que me recordei de que eu nunca havia o pego na noite passada. Me levantei, fui rapidamente ao banheiro e ao passar pela janela notei que o dia estava nublado e as poucas pessoas na rua pareciam se proteger do frio. Quando voltei para o quarto, ainda bastante sonolento, peguei um lençol em meu armário e estendi ele na cama, aproveitando para cobrir Minho. Me deitei devagar ao seu lado novamente, com medo de acordá-lo, e me acomodei.

Eu havia acabado de fechar meus olhos quando senti ele se movimentar na cama. Olhei para ele curioso, mas ele continuava a dormir. Fechei meus olhos mais uma vez e quando estava prestes a pegar no sono de novo, ouvi Minho gemer de dor. Abri meus olhos para notar que ele tremia, seus dentes rangiam e uma lágrima escorria pelo seu rosto. Me levantei rapidamente e coloquei minha mão em sua cabeça, colocando seu cabelo para trás. Ele reclamava de dor novamente, mas dessa vez como se ele realmente estivesse sendo ferido fisicamente.

– Minho! – chamei enquanto o balançava.

Ele tremia mais e continuava a gemer de dor até que eu o segurei firme e o balancei com mais força.

– Acorda, Minho! – disse preocupado.

Ele finalmente abriu seus olhos, ambos marejados, sua pupila dilatada e uma expressão de horror. Ao olhar para meu rosto ele respirou fundo e começou a piscar normalmente como se finalmente estivesse se lembrando da realidade. Ele colocou ambas as mãos em seu rosto e enxugou as lágrimas que ameaçavam cair a qualquer momento. Me aproximei dele e comecei a fazer um cafuné em seus cabelos. Ele se virou para me olhar, mas ao invés de se demonstrar aliviado novamente, ele parecia confuso e perdido. O puxei para perto de mim e o abracei. Ele afundou seu rosto em meu peitoral e me puxou para si como uma criança assustada. Beijei o alto de sua cabeça e afaguei suas costas lentamente.

– Foi só um pesadelo, Min! Tá tudo bem! – disse em um sussurro.

– Não vai embora. – ele pediu.

– Como assim? – perguntei confuso – Para onde mais eu iria?

– Eu não quero te perder de novo. – ele disse enquanto soluçava.

– Minho...

O puxei para mais perto de mim e entrelacei minhas pernas nas suas. Cobri partes do seu corpo que estavam para fora do lençol e tentei deixar a cama o mais aconchegante possível para que ele se acalmasse. Sua respiração foi desacelerando aos poucos e seu choro cessou. Eu estava extremamente preocupado, mas conseguia controlar isso agora, pois sabia que tinha que fazer com que ele se sentisse seguro. Seguro comigo... Nunca imaginei que eu pudesse passar essa sensação para alguém, mas lá estava eu acalentando Minho. Tinha sido apenas um pesadelo, mas talvez essa seja a única coisa que eu seja capaz de protegê-lo. Depois de um tempo notei que ele parecia melhor, mas que permanecia acordado, então, para confirmar, perguntei:

– Você tá melhor?

– Sim. – ele disse baixo.

– Foi só um pesadelo, certo?

– Acho que sim. – ele respondeu e fungou.

– Deve ter sido bem ruim. Quer falar sobre isso?

– Não tenho certeza!

– Por que?

– Porque eu tenho vontade de contar tudo pra você, mas ao mesmo tempo sinto que não devo.

– Minho, você pode me contar tudo que quiser! – dei um beijo no alto de sua cabeça novamente sentindo o cheiro doce do shampoo que ele usava.

– Você vai me julgar. – ele disse e riu sem graça.

Me afastei um pouco dele e levantei seu rosto para que ele me olhasse. Seus olhos brilhavam ainda por causa das lágrimas, seu nariz estava avermelhado assim como sua boca e bochechas. Como alguém podia chorar daquele jeito e permanecer lindo? Beijei a ponta de seu nariz e disse:

– Eu prometo que não vou te julgar. Se quiser me contar alguma coisa, pode contar sem medo, ok?

Ele assentiu com a cabeça e deu um leve sorriso antes de afundar seu rosto em mim de novo.

– Foi um sonho ruim – ele começou – Mas não pareceu bem um sonho.

– Como assim? – questionei.

– Pareceu muito real, como se tivesse acontecido antes. Machucou igual!

– Você está dizendo que sentiu dor de verdade?

– Sim!

– Como isso é possível?

– Sabe quando alguém te fala sobre como dor de dente dói e é quase como se você pudesse sentir a agonia na hora, não porque seu dente está doendo, mas porque já doeu uma vez e você se lembra da sensação?

– Sim! – respondi a espera de uma continuação.

– Eu acho que foi tipo isso.

– E o que você estava sentindo?

– Queimaduras. Em todo lugar. – ele disse me fazendo empurra-lo rapidamente.

– Você tem queimaduras? – questionei assustado – Quem te queimou? Onde?

– Ei, ei, calma! – ele pediu rindo bobo da minha reação – Eu não tenho queimaduras!

– Então...como você sabe... – eu o olhava confuso enquanto ele suspirava e se levantava para se sentar.

– Você acredita em vidas passadas? – ele perguntou.

– Não tenho certeza. – respondi me sentando a sua frente.

– Eu acredito e... acho que o sonho foi isso. Foi como se tivesse acontecido uma vez e eu estivesse relembrando... – ele me olhou para notar que eu estava paralisado e em silêncio – Sabia que você ía me achar estranho. – ele baixou sua cabeça.

– Não! – disse rapidamente me aproximando dele – Eu não te acho estranho. É só que... é meio surreal?! Não que eu não acredite em vidas passadas e essas coisas, eu tenho a mente aberta pra isso, mas...nossa. Isso me deixa muito...

– Muito o quê?

– Lembrar da sua reação enquanto você estava tendo o pesadelo e ouvir você dizendo que você já passou por isso, mesmo que em outra vida... Dói. – coloquei minha mão na altura do peito e apertei a blusa do meu pijama – Dói só de imaginar!

Ficamos nos olhando por um momento em silêncio e eu senti uma vontade súbita de abraça-lo novamente. Ele sorriu para mim e se aproximou para me abraçar, acabando com a distância entre nós, e disse:

– É por isso que você é minha alma gêmea! 

Suas palavras me fizeram sentir um arrepio na espinha. Era bonito de se ouvir e me deixava muito feliz, pois estou apaixonado por ele, mas ao mesmo tempo me deixava ansioso, como se eu tivesse que me alertar para algo. Seria mais uma vez minha ansiedade gritando por medo de um rótulo que parece tão pesado? Não. É diferente! Era um sentimento nostálgico, quase como um deja vu que me deixava emocionado, mas ao mesmo tempo com muito medo.

Minha Criptomania  |  MinsungOnde histórias criam vida. Descubra agora