(Flashback)
Fizemos como o combinado por um bom tempo. Conseguimos ficar um mês inteiro parecendo um pouco distantes um do outro — mas não muito, pois isso também poderia denunciar nossa atuação — e Jeon começou a se aproximar de meninas para disfarçar sua verdadeira sexualidade. Estava dando certo, a cidade estava começando a parar aos poucos com os olhares e ataques a ele, mas infelizmente muitos ainda não se davam por satisfeitos, principalmente os homens de nossa faixa etária que o tratavam como se ele tivesse alguma doença. Mas esses, nós apenas ignorávamos afim de não dar a eles atenção o suficiente para eles acharem que seus pensamentos eram plausíveis.
Todas as noites, nos encontrávamos no meio do campo entre nossas casas e íamos até o celeiro abandonado. Lá podíamos conversar e contar sobre nosso dia e, quando estávamos cansados, dormíamos agarrados um ao outro, mas quando nos sentíamos bem, fazíamos amor na intenção de matar a saudade que dava por não passarmos um dia inteiro juntos como sempre foi durante nossas vidas. Era o suficiente pra aquele momento. Era pouco, mas era o que tínhamos e precisávamos nos conformar.
Mantivemos isso com constância, até que um dia, eu notei que tinha um garoto que o rondava. Onde Jeon ía, ele ía atrás, olhando torto, como se planejasse algum mal a ele. Isso me incomodava a um ponto de me deixar paranóico, e acabou por mostrar que a minha paranóia não era em vão. Uma noite que sai de minha casa atrasado para me encontrar com Jeon, notei o mesmo menino a espreita da casa dele. Ele segurava um canivete na sua mão e eu sabia no que aquilo iria dar. Fui até ele sorrateiramente e antes que ele percebesse, torci seu pulso para que ele deixasse o canivete cair no mato e o paralisei no chão.
– O que você acha que está fazendo? – questionei.
– Sai de cima de mim! – ele pediu bravo como se fosse uma ameaça, mas sabia que estava apenas fazendo pose, pois era bem magro e não tinha força para lutar contra mim.
– Você quer roubar a fazenda dos outros e acha que eu vou ficar quieto? – menti.
– Eu não quero roubar fazenda alguma, eu quero me livrar daquela aberração!
– Aberração? – questionei me fazendo de desentendido.
– Aquele menino não é normal! As pessoas esqueceram, mas eu não! – ele virou seu rosto para me encarar.
– Por que? – me aproximei de seu rosto com um olhar sádico – Porque ele gosta de homens?
– Sim! Você sabe, então me ajude!
– De onde veio essa informação?
– A cidade toda sabe.
– Não foi isso que eu perguntei! Quero saber quem espalhou isso, jumento?
– O Seungmin, filho do dono da plantação de arroz. Ele que descobriu! – o menino disse confuso, não compreendendo porque eu ainda não havia o soltado.
Finalmente o soltei, mas logo peguei seu canivete e apontei para ele.
– Não ouse chegar perto dessa casa novamente, se não eu vou contar pra cidade toda que você está de olho em outro homem. Afinal, não é isso que você está fazendo?
– Mas eu só...
– Não me interessa! Some daqui antes que eu mesmo acabe com sua raça.
O menino me olhava mais confuso do que antes, como se estivesse tentando entender em que lado da história eu poderia estar. Eu fiquei parado esperando que ele sumisse de vista e fiz de conta que voltava para casa, caso ele ainda pudesse estar de olho em mim. Depois, segui caminho até o celeiro e encontrei Jeon impaciente me esperando lá. Quando me viu, seus olhos brilharam e ele respirou fundo. Ele me abraçou apertado e eu devolvi o abraço junto a alguns beijinhos estalados em sua bochecha e pescoço.
– Você demorou! Achei que tinha acontecido algo! – ele disse ainda sem me soltar.
– Me desculpa! Mas fique tranquilo, não tem nada de errado! – me afastei para puxar seu rosto e beijá-lo em sua boca macia que retribuiu ao carinho com facilidade.
– Por que demorou? – ele me olhou curioso enquanto se sentava no canto perto da parede ao lado de uma coberta que havíamos levado para o local.
– Eu tenho uma coisa pra você e quase me esqueci de trazer, então tive que voltar pra buscar!
– O que? O que você tem pra mim?
– Fecha os olhos! – pedi e me ajoelhei a sua frente – Sabe que ando trabalhando com o ferreiro da cidade, certo?
– Sim! – ele abriu os olhos novamente.
– Fecha os olhos, eu não falei que podia abrir ainda! – reclamei.
– Que coisa, fala logo! – ele pediu irritado, fechando os olhos novamente.
– Sobra muito ferro e prata que acaba se tornando inutilizável para ele, então eu juntei todas essas sobras e pedi para usar apenas para praticar. Mas...
– Mas o quê, inferno? – ele se sacudia ansioso me fazendo rir.
– Abre o olho! – pedi.
Ele abriu e mostrei para ele um anel que tinha guardado em meu bolso. Era um anel simples, largo, feito de ferro e prata misturados. Ele olhava encantado para o que eu segurava, mas incapaz de dizer algo.
– É uma liga de ferro, o que significa que é forte que nem quando estamos juntos. O fogo pode derreter, a água enferrujar, mas nada pode sumir com ele! Enquanto houver essa mistura de ferro e prata, mesmo que alguém o divida em mil pedaços e os separe, ainda haverá nosso amor! Nossa, isso foi muito meloso, me desculpa! – pedi rindo antes de notar seus olhos brilhantes que lacrimejavam – Je... Je, o que foi? O que- – ele me calou me abraçando forte e pude o ouvir fungar.
– Eu te amo! – ele disse emotivo.
– Eu também te amo! – disse rindo enquanto o puxava para meu colo em meio ao nosso abraço – Eu sempre soube que você era emocionado, mas não sabia que era nesse nível.
– Eu sempre soube que você era gay, mas não sabia que era nesse nível! – ele retrucou me fazendo gargalhar.
Ficamos juntos pelo resto da noite, assim como nas anteriores, mas minha cabeça não parava de pensar no que fazer agora que eu sabia de onde havia vazado a informação sobre Jeon. Ele dormia tranquilo com sua cabeça encostada em meu peitoral enquanto eu passava aquela noite em claro calculando o que eu poderia fazer para resolver o problema de uma vez por todas. Perto do amanhecer, cutuquei Jeon para que ele acordasse e pudéssemos voltar para nossas casas antes que pudéssemos ser vistos. Coloquei o anel que fiz em um cordão de fio escuro para que ele pudesse pendurar em seu pescoço e, antes que nos separássemos, entreguei a ele o canivete do menino que planejava atacá-lo na noite anterior.
– Leve com você, caso alguém pense em te atacar. – pedi.
– Mas, amor, não acho que seja necessário. As pessoas melhoraram comigo e eu nem saberia usar isso de qualquer forma.
– Só leva, tudo bem? Nem que seja só para emergências.
– Tá bom! – ele disse colocando a faca em seu bolso.
Dei nele um beijo demorado de despedida, sem saber que aquilo seria de fato um adeus. Aquele foi o nosso último beijo e a última vez que o veria partir daquele celeiro. Caso eu soubesse, teria demorado mais tempo com ele ali, teria aproveitado mais o seu toque e o seu cheiro, além de admirar o sorriso mais lindo, que ele sempre dava para mim, por mais tempo. Mas eu não aguentava mais vê-lo se sentir ameaçado. Portanto, acho que mesmo que soubesse o que estava para acontecer, em nenhum momento eu teria voltado atrás. Manter Jeon a salvo era o que eu mais queria fazer, sempre foi minha razão e nunca deixou de ser. Os curativos que eu colocava em seus joelhos ralados quando éramos crianças eram uma pequena amostra de até onde eu poderia ir por ele. Era e sempre foi pela sua felicidade contagiante que eu lutava. Então, devo ir atrás do que prejudica sua alegria. Preciso arrancar o mal pela raiz indo atrás de onde tudo começou, indo atrás de Seungmin.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Minha Criptomania | Minsung
FanficUma fanfic Minsung: Lee Know é um cupido que após muitos corações flechados - modéstia parte com muito sucesso - se depara com Han Jisung, um jovem adulto que se recusa a se apaixonar por causa de seu coração partido. O cupido agora deve traçar um p...