Ficamos nos encarando por alguns segundos, até que ele tomou a iniciativa:
- Meus parabéns! Não podia deixar de te prestigiar hoje. Seu discurso foi lindo.
- O-obrigada. - gaguejei, que droga. - é, foi mais ou menos, eu estava um pouco nervosa. Mas fico feliz de te ver. Quanto tempo. - eu disse, olhando pra ele de baixo pra cima, e tentando me recordar de cada traço. Ele estava tão diferente.
- Muito tempo mesmo. Você está mais linda do que nunca. Radiante. Seu cabelo ficou muito bonito desse jeito também. - eu havia cortado o cabelo um pouco abaixo do ombro, e ele estava um pouco mais natural, loiro escuro com algumas luzes.
- Obrigada! Você também está ótimo. A barba caiu bem. - demos risada, mas por dentro dava pra sentir o nervosismo dele e o meu pairando no ar.
- Então.. - antes dele completar a frase, foi interrompido por uma mulher alta, de cabelos pretos, morena dos olhos verdes. Lindíssima, parecia uma modelo. Ela deu um sorriso sem mostrar os dentes e disse:
- Estou interrompendo alguma coisa? - dando um risinho um tanto quanto forçado, mas tentando parecer simpática.
- Amor. Essa é a Luísa. Filha da Silvia. Minha... irmã. - Ele disse, quase que sufocado, e ela estendeu a mão pra mim.
- Então você é a famosa Luísa? Ouvi tanto de você nos últimos anos, achei que nunca ia te conhecer. Prazer, Débora.
- O prazer é meu. Famosa eu não sei, mas também ouvi falar muito bem de você. - era mentira, nunca procurei saber um "a" dessa menina. Quem será que ficava falando de mim pra ela? O Felipe? Minha mãe? Que saco.
Conversamos mais um pouco e acabamos indo de encontro ao restante do pessoal. Eu não pude deixar de notar o olhar do Leonardo sob nós dois, como se tivesse esperando alguma brecha nossa pra entrar no meio. Mas não foi preciso.
- Felipe, esse aqui é o Vitor, meu namorado. Vitor, esse é o Felipe, filho do Leonardo.
Eles se cumprimentaram com um aperto de mão e um semi abraço, seguido por um tapinha nas costas. Fizeram algumas brincadeiras, até que o Vitor solta:
- Então você é o menino do sonho, né?
- Como assim? - ele perguntou, sem entender.
- A Luísa conversa dormindo sempre, e já ouvi pelo menos umas 100 vezes ela chamando pelo "Felipe" nos sonhos. Finalmente eu conheci o cara que faz minha mulher conversar a noite. - ele disse dando risada, como se fosse a coisa mais normal e engraçada do mundo.
- Nossa, e o Felipe. Ele já deve ter me chamado de Luísa umas 100 mil vezes. Eu tinha até ciúmes no começo, queria saber quem era essa tal Luísa, até ele me contar que era a irmã. - Débora deu continuidade à conversa, rindo muito.
Eu senti minhas bochechas queimarem de tanta vergonha. O que foi aquilo? Meu namorado entregando pro meu ex que eu sonho com ele direto. O que não era mentira, mas como pode??? Mas não dava pra negar que era ótimo saber que ele chamava a namorada pelo meu nome. Nos encaramos enquanto os dois riam freneticamente, e eu pude ver que ele estava tão sem graça quanto eu. Mas disfarçamos e entramos na brincadeira.
A comemoração foi bem tranquila, eu optei por não fazer festa, até porque já estava trabalhando no hospital, fazendo plantões, e ultimamente estava sendo bem cansativa e puxada a rotina. Tudo que eu queria era descansar. Saindo da celebração, fomos para um restaurante que o Leonardo reservou, comemos, bebemos e comemoramos. O pessoal foi indo embora, inclusive meu pai, a esposa e os gêmeos, que se despediram de mim com muitos abraços e um presente lindo, um conjunto da Swarovski de brincos e colar, pequenos pontos de luz.
De lá, fomos todos para meu apartamento. Agora eu estava morando em outro lugar, num condomínio próximo do hospital. O apartamento era bem maior, com três suítes, sala com cozinha integrada, banheiro social, área externa pra churrasco, lavanderia separada. Minha mãe teve a brilhante ideia de ficarem todos lá, ela e o Leonardo, e o Felipe e a Débora. Tudo certo pra dar errado.
- Chegamos, fiquem à vontade. - eu disse, enquanto ligava as luzes da sala de jantar, segurando uma das malas da minha mãe. - vamos entrando.
Mostrei o apartamento pra todo mundo, já que ninguém tinha ido lá ainda. Mostrei também os quartos e peguei roupas de cama e de banho pra todos eles.
- Ai, que linda sua casa Lu, já pode chamar o Vitor pra morarem juntos. - a Débora solta essa do nada. Que porra de Lu o que garota, sebosa. Pensei alto.
- Hahaha, quem sabe daqui um tempo! - respondi, dando um tapinha na mesa.
- É a melhor coisa né, amor? - ela se virou chamando o Felipe. Não é possível que eles já estavam morando juntos!!! - Então, eu me mudei pro apartamento do Felipe aos poucos, fui deixando minhas coisas lá, agora nem fico mais na minha casa. E tá sendo ótimo!
Ele só fez que sim com a cabeça, nem mudou a cara pra esboçar um sorriso, e continou a conversar com o Vitor e o Leonardo. Eles estavam tomando um whisky que eu comprei. Ficamos ali por mais um tempo conversando e todos foram pros quartos se preparar pra dormir.
(...)
Acordei no meio da noite morrendo de sede, e o Vitor estava desmaiado na cama, então tive que ir buscar água sozinha. Puxei a porta de leve pra não fazer barulho, e fui até a cozinha. Enchi um copo d'água e me virei pra voltar do quarto. Abafei um grito, quase derrubando o copo.
- Que susto. - sussurrei.
- Desculpa, acordei com sede. - Felipe respondeu. Ele estava usando apenas uma calça de moletom. Não sei o que ele tinha feito todo esse tempo, mas estava mais gostoso que nunca! Voltei minha atenção pro rosto dele, ignorando aquele abdômen trincado. - Tive um dejavu agora!
- Com o que?
- Essa cena. A vida se repete. - ele respondeu, me fazendo lembrar exatamente da primeira vez que nos beijamos, na cozinha, depois de eu derramar toda a água na minha camiseta.
Começamos a rir, tentando fazer o mínimo de barulho possível. Acabamos tendo uma crise de riso, até que ele parou de rir e colocou a mão sobre a minha. Estávamos sentados nas banquetas da cozinha.
- Luísa... não sabia muito bem o que te falar. Estava com medo de vir, ansioso, preocupado. Fiquei uma semana sem dormir direito. Eu não sabia se você queria me ver, como seria sua reação. Mas eu estou muito feliz de ter vindo e de estar aqui com você.
- Obrigada. É muito importante pra mim saber disso. Você fez parte dessa história, querendo ou não. Acho que você tinha que estar aqui.
- É. Queria ter feito parte de tudo. Infelizmente, não consegui. Mas me arrependo todos os dias. Eu fui um covarde. Fui atrás de você na faculdade, um mês depois de tudo. Vi você descendo as escadas e travei. Tive medo de confrontar meu pai e colocar tudo a perder.
- Eu sei. Eu te vi. Você não foi o único covarde. Eu não quis bater de frente com seu pai também. Tinha medo dele estragar tudo pra você. Mas ainda bem né. Seguimos a vida.
- É... - ele disse, com incerteza, e começou a fazer um carinho na minha mão. Eu arrepiei só de sentir o calor da pele dele na minha. Era como se meu corpo estivesse em choque. - ... Quando te vi hoje, não tive mais tanta certeza disso. Só queria poder voltar no tempo.
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DESEJO PROIBIDO
RomanceAté onde você iria pelo amor você sente por alguém? Ultrapassaria os limites aceitáveis e quebraria as regras para se arriscar por uma paixão? Às vezes o amor nasce nos lugares mais inimagináveis. Ou talvez até comece com um desejo proibido.