XXII. Consciência

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Que noite. Nunca tinha sentido isso com ninguém antes. Nossos corpos pareciam que se completavam, chegavam até a se misturar. Ele sabia exatamente o que eu queria e como eu queria, e fazia com todo cuidado do mundo, como se eu fosse a coisa mais preciosa do mundo. Ele me fez chegar ao prazer tão rápido, e foi tão intenso que gozamos juntos. Cada movimento, cada toque, ele fazia tudo olhando no fundo dos meus olhos. Falando que eu era linda, que ele era louco por mim. Eu não tive vergonha, medo, insegurança, como tinha com outros caras. Me entreguei completamente, sem vergonha e sem tabu, e foi incrível. Quando terminamos, ele me abraçou e dormimos assim, grudados e entrelaçados.

Acordei no domingo bem cedo com uma ressaca moral maior que a da bebida. O Felipe já tinha descido, provavelmente com vergonha da situação. Quando terminei de fechar as malas, desci pra recepção. Ele estava fazendo o checkout, e me deu bom dia quando eu cheguei. Eu respondi, sem graça, e fui em direção ao carro. Ele guardou minhas malas, e seguimos viagem.

— Quer que eu diminua o ar? — ele perguntou, passando a mão no meu braço.

— Não, tudo bem. Vou dormir um pouco. — fechei os olhos e fingi que estava dormindo, porque ainda não estava pronta pra ter aquela conversa. Enquanto "dormia", pensava em tudo que tinha acontecido noite passada, pensava no Tomaz, na minha família, até na idiota da Duda eu pensei. Aquilo era tão errado em todos os sentidos. Mas por que parecia tão certo?

E foi assim a viagem de volta pra casa. Sem trocarmos uma palavra. Vez ou outra eu sentia o Felipe passando a mão no meu braço, checando se o ar tava muito gelado, todo preocupado. Ele fez carinho no meu cabelo algumas vezes, se assegurando que eu não estava acordada pra ver. Mas eu não preguei o olho. Chegamos e eu subi direto pro quarto, de onde eu não queria sair nunca mais. Nossos pais tinham ido deixar o Lucas em Ubatuba e ainda não haviam chegado.

Eu tentava me acalmar, mas as lembranças da noite passada não saíam da minha cabeça. Assim como o arrependimento, a culpa e a tristeza que eu estava sentindo. Chorei incessantemente, até pegar no sono. Dormi sem perceber, em cima do travesseiro molhado de tantas lágrimas.

Acordei com minha mãe batendo na porta, olhei no relógio e eram 15:00 da tarde. Ela me deu um abraço e perguntou como tinha sido a viagem e a prova. Eu tentei parecer o mais animada possível, falando sobre como tinha sido minha prova, e não entrando em detalhes do resto, mas não consegui disfarçar muito bem.

— Aconteceu alguma coisa minha filha? — ela perguntou, passando a mão no meu cabelo, com um olhar preocupado.

— Nada, só estou meio cansada ainda. — eu disse, desviando do assunto. Passei o resto do dia no quarto, ignorando todas as mensagens que recebi do Gustavo, da Mariana e... do Tomaz. Quando já era de noite, tomei um banho e coloquei um pijama, e voltei pra cama mais uma vez. Até que escuto a campainha tocando.

— Luísaaa, o Tomaz tá aqui. — escuto o Lucas gritando no pé da escada. Levantei num pulo, assustada, sem saber o que fazer, e com muita vergonha de olhar pra ele. Ele tava sendo incrível comigo, e eu não podia ter sido mais imbecil com ele. Ele subiu as escadas e bateu na porta. Quando eu finalmente criei coragem pra abrir, dei de cara com ele, todo lindo, segurando um embrulho de presente com um laço gigante dourado.

— Entra. — falei, abrindo a porta do quarto enquanto ele me dava um selinho. — o que é isso?

— Vai ter que abrir. — e, sorrindo, me entregou o pacote.

Era um estetoscópio. Lindo, da Littman, azul turquesa!!! Era o melhor presente do mundo. Eu fiquei em choque. Quando tirei ele de dentro da caixa, vi um pedaço de papel. Peguei, e estava escrito: "pra futura melhor médica do mundo."

— Ei, quer testar? — ele disse, todo sorridente, colocou nos meus ouvidos, enquanto segurava o auscultador, pressionando sob seu peito, na direção do coração. — O que me diz, doutora?

— Tá acelerado. Você tá com taquicardia! — eu falei, dando uma risada.

— É assim que eu fico quando olho pra você. — ele falou, se aproximando e me dando um beijo apaixonado. Ele sabia ser carinhoso na medida certa, e eu adorava isso. Não era forçado. Era natural... tudo que eu precisava. E tudo que eu queria. Será?

— Então, dona Luísa. Queria saber se você quer companhia pra esse domingo sem graça? — Ele disse, abrindo a mochila que trouxe consigo e tirando um samba canção, um par de chinelos e um daqueles travesseiros de pescoço que dão no avião. — Ah, e só pra avisar, eu pedi pizza. Meia calabresa e meia banana com canela.

— Você não existe, sabia? — falei, pulando em seu pescoço e fazendo-o cair na cama. Ficamos nos beijando e conversando até a pizza chegar. Comemos enquanto assistíamos alguns episódios de Smallville, escovamos os dentes e fomos nos deitar. Tomaz tirou a roupa e colocou o samba canção. Eu fiquei ali, parada, apreciando o corpo dele, enquanto ele olhava pra mim com uma carinha apaixonada. Ele pulou na cama e começou a me beijar. No meio dos beijos, ele parou e começou a me olhar.

— O que você fez comigo, Luísa? — eu sorri, feliz por saber que entre nós rolava um sentimento recíproco e que tava crescendo, e triste, porque eu tinha estragado tudo ficando com o Felipe. Parei de me culpar por um instante e resolvi viver.

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