XXVI. Parabéns (parte 2)

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Voltei pra casa já escurecendo e subi direto pro meu quarto. Provavelmente já estava todo mundo se arrumando. Entrei no banho e deixei a água cair, enquanto pensava em tudo que eu e o Gustavo havíamos conversado. Eu estava feliz no Rio. A vida estava entrando no eixo, e a companhia do Tomaz me fazia bem. Por que é então que eu ficava tão mexida com o Felipe? Não dava simplesmente pra esquecer o erro e seguir em frente? Era como se faltasse alguma coisa, e eu não conseguia encontrar isso no Tomaz.

Vesti a roupa que escolhi, fiz uma maquiagem mais carregada, ondulei meu cabelo e coloquei alguns acessórios, inclusive um cordão com minha inicial, todo de ouro, com o "L" coberto de brilhantes, que ganhei do meu pai de aniversário. Passei meu perfume de sempre (Chloé), e finalmente criei coragem pra encarar aquela noite.

O Felipe também estava saindo do quarto. Ele estava usando uma camisa preta da Lacoste, uma calça jeans escura e um sapato social cinza. Bonito, como sempre. Ele me deu um sorriso, e eu retribui. No mesmo instante, nossos pais saíram do quarto e vieram correndo me abraçar.

- Que saudade da minha luluzinha. - minha mãe disse, enquanto beijava meus cabelos.

- Essa casa fica tão vazia sem você. Sem vocês dois, na verdade. - o Leonardo continuou, puxando todos num abraço meio desajeitado. - só está faltando o Luquinhas, pena que ainda não voltou de Ubatuba.

- Ah gente, é bom estar aqui! Tô feliz de ter vindo. Uma pena que o Tomaz não pode me acompanhar. - vi os olhos do Felipe brilhando, comemorando o fato de o Tomaz não ter vindo junto pra "estragar" a festa. Nós todos descemos as escadas e fomos receber os convidados que estavam chegando.

(...)

A festa foi boa, teve muita comida, muita bebida e muita gente. O Felipe era bem popular entre os amigos, e um foi chamando o outro. Não dava pra contar quantas pessoas tinha naquela área, e olha que era um espaço imenso. Os amigos do Leonardo e da minha mãe também foram, e ficaram num espaço mais reservado, longe da bagunça. Eu chamei o Gustavo e a Bruna, e ficamos lá no meio da galera, e grande parte nos já conhecíamos. Entre os rostos conhecidos, procurei a Duda mas não encontrei. Estranho, pensei.

Depois de horas, um DJ começou a tocar, e todo mundo foi pra pista. Teve eletrônico, funk e até aquelas músicas antigas e bregas que sempre tem em fim de festa. Mamonas assassinas, É o Tchan, entre outros... Essa hora, os mais velhos já tinham ido embora, e ficou só a nossa turma. Nossos pais foram passar a noite no apartamento do Felipe, porque a festa ia rolar até bem tarde e eles queriam dormir em paz. Ou seja, a casa era nossa!!!

Entrei pro meu quarto pra poder colocar uma rasteirinha, e quando estava calçando, ouço uma voz vindo atrás de mim.

- Eles tinham razão. - o Felipe estava escorado, bem na porta de entrada do Closet, me encarando com uma expressão que eu não conseguia definir.

- Como assim? - perguntei, tentando entender o que ele estava fazendo ali.

- Essa casa fica vazia sem você aqui. - ele foi chegando perto, e ajoelhou de frente pro puff que eu estava sentada, ainda amarrando a rasteirinha. E continuou... - Luísa, você não só fez, como está fazendo falta demais. Não tem um dia que eu não pense, sonhe ou queira falar com você, saber como você tá, como tá sua vida. Você foi embora e realmente não olhou pra trás. Eu tive que sair dessa casa porque não aguentava mais você passar por mim e fingir que eu não existia.

Ele falava meio devagar, por causa da bebida, um pouco nervoso, mas olhando fixamente pra mim, de um jeito sério, firme. Um misto de mágoa e saudade. E continuou falando, enquanto fazia um carinho na minha perna, e eu percebi que suas mãos tremiam.

- Você não entende né? Desde o primeiro momento que eu te vi. Quando esbarrei com você naquele aeroporto, e te olhei pela primeira vez, com aquele moletom enorme, o tênis surrado igual o meu e toda desastrada, eu sabia. Parecendo uma moleca, uma menininha. Mas quando você abriu a boca, mostrou uma atitude de mulher. Eu lembro que pensei "se ela me olhar de volta, eu tenho chance", e você olhou. Eu saí xingando até o carro por não ter pedido seu número, pensando em como eu ia te encontrar. E de repente, você estava ali. Desde então, não teve um dia que você deixou de visitar meu pensamento. Eu queria você pra mim. Eu te olhava e pensava "é dela que eu tenho que cuidar", quando você acabava dormindo no sofá assistindo algum filme, ou nas nossas noites de pizza, que você comia uns 9 pedaços, eu te olhava encantado, porque você é autêntica, e não deixa de ser quem é por nada nem ninguém. Você descia essas escadas todo dia e quando eu te via, sabia que meu dia seria bom, só por você estar ali. Quando aquele otário do Mateus te xingou e te beijou a força, eu queria matar ele. E te colocar nos meus braços pra nunca mais ninguém te machucar. Mesmo eu sabendo que você é uma mulher forte, independente, segura de si, eu...

- Felipe...

- Eu não terminei. Tentei te esquecer, de verdade. Usei a Duda pra isso. Claro, nunca menti pra ela, ela sempre soube que entre nós nunca ia acontecer nada além daquilo. Ela me acusou várias vezes de estar apaixonado por você. E eu nem me dava ao trabalho de negar. Me ameaçou que se eu não ficasse com ela, ela ia destruir seu namoro com o Tomaz, contar pra família, entre outros absurdos... Luísa, aquela noite, no Rio de Janeiro... foi a melhor noite da minha vida. Você me fez sentir como homem. Um homem pronto pra amar uma mulher. Foi como se fosse minha primeira vez, diferente de tudo que eu já vivi. Fiquei aquela noite toda acordado, te olhando dormir, fazendo carinho no seu rosto, passando a mão no seu cabelo, torcendo pra que você acordasse disposta a viver essa loucura comigo. Mas, infelizmente, não foi bem isso que aconteceu. Você me afastou de você. E desde então, cada dia que passa, eu sofro mais com isso. Porque eu te amo Luísa. Eu te amo, pra caralho.

(...)

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