XXV. Parabéns (parte 1)

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Cheguei em São Paulo por volta das 10:00 da manhã do sábado. Notei que não tinha nenhum carro na garagem, então estacionei o meu na vaga da minha mãe e fui descendo minhas malas. A porta da frente estava destrancada, mas isso era normal, já que o condomínio era fechado e super seguro. As luzes estavam apagadas, e como o dia estava nublado, a casa ficou bem escura.

Fui colocando as bolsas na mesa de jantar, enquanto observava as mudanças na decoração, que provavelmente partiram da minha mãe, e quando me virei pra ir em direção a escada, tomei um susto tão grande que dei um grito.

— AAAAAAHHHHH. — deixei o celular cair. Era o Felipe. Usando nada além de uma samba canção preta, segurando uma garrafa de Gatorade na mão e um saco de batata ruffles na outra.

— Des-c-cul-pa, meu Deus, eu não sabia que você viria. — ele disse, gaguejando e quase se engasgando com a bebida.

— Eu achei que não tivesse ninguém em casa. — respondi, tentando não olhar pro corpo dele. — pelo visto a noite foi boa — dei uma risada, olhando pra garrafinha de Gatorade.

— É, as comemorações começaram ontem. — ele sorriu. Eu abaixei a cabeça. Não dava pra encarar aquele sorriso. — Como tá o Rio?

— Quente. Tudo dando certo, graças a Deus. Mas já estava com saudade daqui, e de todos.

— Também estávamos. E como vai ... — ele não terminou de pronunciar. Voltei a encará-lo e percebi que sua expressão agora estava fechada, como se ele estivesse desapontado. Logo ele percebeu o ocorrido e mudou de assunto. — Humm, eu tenho que buscar meu carro no lavajato. Você pode me levar?

— Claro, vamos.

— É, hmm, melhor eu me vestir primeiro né? - ele disse, enquanto tentava se cobrir com as mãos. Demos risada e eu concordei.

Entramos no meu carro (p.s.: sim, caso eu não tenha contado, ganhei o Jeep Renegade que eu tanto queria de presente do Leonardo e da minha mãe, assim que me mudei pro RJ) e segui para o lavajato. O tempo estava bem fechado e tinha acabado de começar uma chuva fina. Ele tomou a liberdade de ligar o som, e a música que estava passando era "proibida pra mim". Mais uma vez, o destino brincando com a gente.

— Tinha que ser. — ele falou baixo, e em seguida deu uma risada.

— "Ela achou meu cabelo engraçado, proibida pra mim, no way..."   começamos a cantarolar baixo, e quando chegou no refrão, já estávamos cantando alto. Ele me olhava de um jeito que chegava a arder, e meu coração começou a bater descompassado outra vez. Droga. Ficamos rindo um pro outro assim que a música acabou, e logo em seguida chegamos no lavajato. O tempo passou voando, e só deu pra sentir o quanto eu estava com saudade da companhia dele.

— Ei, vou comprar algumas coisas pra festa e organizar o que falta. Nos vemos mais tarde. — ele falou, saindo do carro. Virou na minha direção e abriu um sorriso, acenando de longe. 

Voltei pra casa, levei minhas malas pro quarto e me sentei na cama. Respirei fundo, enquanto um misto de emoções percorria dentro de mim. Olhei pro quarto, enquanto me lembrava de diversos momentos que aconteceram ali. O Felipe me apertando contra a parede com ciúmes do Mateus; a vez que ele me pegou no flagra sem a parte de cima do biquíni; quando nos beijamos depois da festa na boate...

Depois desse surto, resolvi escolher minha roupa pra festa de mais tarde. O Felipe resolveu fazer uma comemoração mais fechada, só com a família e os amigos da faculdade e das antigas, e seria na área externa, com música ao vivo, bartender, dj, uma coisa bem organizada e bem o estilo dele, que adorava uma festa.

Escolhi um conjunto de saia mídi com um cropped preto de couro, bem justo no corpo, e um salto altísimo fechado, da Loubotin, nude, que usei no meu aniversário de 15 anos. Era sofisticado e valorizava bem minhas curvas. Fui tomar um banho e depois saí pra dar uma volta pelo condomínio. Parei bem de frente ao prédio do Gustavo e resolvi ligar pra ele, pra nos encontrarmos. Ele então desceu e, ao me ver, veio correndo em minha direção, me abraçando.

— Que saudade de você!!! — falamos ao mesmo tempo, nos abraçando.

(...)

Conversamos por horas, sentados nos balanços da pracinha do condomínio. Ele me contou sobre o namoro (estava namorando com a Bruna, aquela que ele ficou no dia do churrasco, já fazia quase 1 ano) e sobre a faculdade que ele havia passado em Minas Gerais, que começaria no próximo semestre.

— Luísa, seis meses sem te ver. Você some! Como tá o Tomaz? — ele perguntou animado, porque os dois tinham se dado super bem quando se conheceram. Inclusive viajamos uma vez pra Balneário Camboriú juntos.

— Ah, ele tá ótimo. Praticamente morando no Rio. Fica duas semanas lá e uma aqui. Inclusive ele não pode vir hoje, porque teve uma reunião importante na sede da empresa lá.

— Mas e o namoro? Está indo bem? O que vocês andam fazendo?!

— Sexo! — ele me olhou fingindo estar assustado e começou a rir muito alto.

— LUÍSA!!! — ele me deu um tapa — além disso né, se é que vocês param um pouco pra descansar e tomar uma água.

— Ai Gus, sei lá, a gente sai, bebe, viaja. Tá sendo bom! - ele não ficou muito convencido.

— E o Felipe? — ele insistiu.

— O que tem o Felipe, Gustavo? — retruquei, incisiva.

— Você sabe. Ou esqueceu que eu descobri? Se bem que nem era segredo.

— Sssshhhh. Esses últimos meses estão sendo tão corridos, que eu nem tive tempo de pensar nisso, e evitei ao máximo também. Mas ele me mandou uma mensagem uns dias atrás, e eu nem tive coragem de responder. Medo de voltar aquilo tudo de novo. Hoje mais cedo nos vimos, e eu já fiquei balançada. Mas eu estou com o Tomaz. Eu escolhi, né. — respondi, e meus olhos encheram d'água. Segurei o choro e mudei de assunto.

— Só não se engana. A gente passa a vida toda procurando pela pessoa certa. Mas às vezes nessa de ficar procurando, a gente não enxerga o que está bem na nossa frente. 

(...)

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