XXIX. Traição

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(...)

Dois meses se passaram e eu estava no Rio de Janeiro. Aulas, estágios, muito estudo e pouco tempo. Nos meus intervalos, minha vida era resumida em arrumar a casa, fazer comida, comprar mantimentos e assistir Greys Anatomy nesses intervalos. No último mês, o Tomaz ficou direto em São Paulo, e não veio me visitar nenhuma vez. Desde que eu voltei, percebi que ele estava mais distante, mas não me importei muito, afinal, eu também estava, e queria um tempo sozinha pra pensar. Só não imaginava o que estava por vir.

Fiz amizade com minhas colegas de sala, e as vezes saíamos pra tomar uma cerveja, ou ir no shopping comprar roupas, e as vezes também chamava elas pra virem pro apê ficar comigo. Muito raramente, íamos em alguma festa da faculdade, ou pra balada. As minhas amigas mais próximas eram a Isabela e a Clara. E também tinha o Pedro, um menino que virou meu amigo depois de um seminário que apresentamos juntos.

* INTERFONE TOCA * 

HORÁRIO: 19:00 horas

- Portaria falando. Pedro está aqui. Pode subir?
- Pode sim Ronaldo. Obrigada!

(...)

- Falaaaa Lu, cheguei! - ele disse, todo animado, pulando direto no sofá.

- E aí, qual a boa de hoje? - perguntei dando risada.

- A boa é você, todos os dias, gata! Rolê hoje?

- Hmm, tenho que ver! - falei, meio chateada, lembrando que o Tomaz ultimamente não estava querendo que eu fosse nos rolês sem ele.

- Lu, isso não tá certo cara. Tu não pode deixar de viver também só porque o Tomaz tem ciúme que você saia sem ele. Porra, tu mora sozinha, no Rio, um monte de coisa pra fazer. Vai sair sim e pau no cu de quem reclamar! Já peguei foi raiva.

Ele estava certo. De uns dois meses pra cá, o Tomaz estava ficando cada vez mais ciumento. Controlando as minhas saídas, minhas roupas e até meu jeito de falar. Ele vinha me visitar muito pouco, e quase sempre, preferia dormir no seu apartamento. Mesmo assim, eu ia levando, porque quando estávamos sozinhos ele era divertido, brincalhão, e me distraía da saudade que eu estava sentindo do Felipe. Mas aquele cara que eu conheci no jantar, cheio de surpresas, tinha ficado pra trás.

Enfim, o Pedro conseguiu me convencer, e fui tomar um banho e me arrumar, enquanto ele ficou jogado na sala assistindo alguma porcaria no YouTube. Quando sai do quarto, vi que as meninas também já estavam lá e já estava rolando uma pré festa. Exxxquenta.

Fizemos um esquenta na sacada do meu apartamento, o Pedro chamou mais um colega e as meninas chamaram mais duas amigas. Acabamos tomando um garrafa de vodka inteira com suco de morango antes de sair. Resolvi que nem ia avisar o Tomaz, porque ele estava o dia inteiro sem me mandar mensagem mesmo, e não faria diferença nenhuma.

Fomos pra uma boate, onde estava praticamente toda a turma de Medicina da faculdade. O dj tava tocando funk carioca e eu e as meninas já fomos direto pra pista. Os meninos foram comprar os combos no bar e ajeitar os bistrôs pra colocarmos as bebidas.

Depois de dançar muito e tomar uns três copos de vodka, me veio uma vontade louca de fazer xixi, e fui correndo em direção ao banheiro, sem saber onde ficava. Quando finalmente encontrei, tropecei num degrau e trombei de frente com um casal que estava praticamente se comendo na frente de todo mundo.

- MEU DEUS, me desculpa gent... - minhas palavras sumiram. Eu não conseguia acreditar no que eu estava vendo na minha frente. - MAS QUE PORRA É ESSA AQUI?!?!

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Era o Tomaz. Agarrado com uma guria loira que nunca vi na vida, todo borrado de batom, pagando de casal no meio da boate, mentindo pra mim que estava em São Paulo e que não conseguiria vir me ver. Simplesmente. Minha cara foi ao chão.

- Lu-lu-ísa? O-o que você tá fazendo aqui? Como assim? - ele gaguejava, incrédulo, e dava pra sentir o peso da sua respiração, como se ele fosse desmaiar a qualquer momento.

- Não acredito nisso - virei as contas e saí andando. Ele me alcançou no meio da rua, e veio com um milhão de justificativas, implorando pra pelo amor de Deus a gente conversar. Ele parecia tão desesperado que parei pra ouvir.

Deixei ele me levar até em casa pra que ele se explicasse no caminho. Eu tava calma, porque como eu poderia surtar, se eu estava fazendo a mesma coisa com o Felipe? Chegamos na porta do prédio, e ele começou a contar a versão dele.

- Olha Luísa, eu posso explicar. A Jessica é minha ex namorada. Terminamos porque ela tinha se mudado pra Londrina. Ela era gerente da filial da nossa empresa lá, e agora está sendo gerente aqui. Quando ela foi mandada pro Rio, me mandou uma mensagem, me pedindo ajuda com a mudança. Naqueles dias que você foi pra São Paulo. Mas não rolou nada. Eu até falei pra ela de você. Acontece que você voltou muito esquisita, e eu vim a trabalho ontem, tentei falar com você pra avisar mas você não estava afim de conversa, lembra? Ela me chamou pra sair, eu aceitei, bebemos algumas cervejas e doses num boteco perto do serviço e fomos pra casa dela. Acabamos ficando. Eu não queria, mas estava confuso com nosso relacionamento.  Hoje foi a mesma coisa. Mas eu não queria! Estou arrependido. Eu amo você! Me perdoa!

- Tomaz, tudo bem. Você não precisa se explicar. Eu te perdoo sim. Pode ficar tranquilo quanto a isso. Mas acabou. Por mais que eu te ache uma pessoa boa, que sempre me tratou bem, eu mereço mais do que isso. E outra, acho que nosso lance já deu o que tinha que dar. Pelo jeito vocês dois tem muita coisa pra resolver ainda. Aproveita enquanto pode. Agora vou subir. Boa noite, fica com Deus.

Ele me olhou confuso, sem entender nada. Deve ser porque eu não xinguei, não fiquei puta, só concordei e dei as costas. Ele tentou conversar mais um pouco, e me convencer de que eu devia perdoá-lo. Mas eu não tinha o que perdoar, e sim que agradecer. Ele me libertou. Eu ia atrás da minha felicidade agora.

(...)

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