XXXI. Turistas

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(...)

Passei o resto do dia deitada na cama, com o Felipe deitado do lado, me fazendo carinho. Eu não queria conversar, não queria comer e muito menos me levantar. O Tomaz me acertou em cheio com as palavras, e falou tudo que eu estava com medo que acontecesse. A reação das pessoas ao descobrir que nós estávamos juntos.

- Lu, vou no mercado comprar algumas coisas. Eu já volto. Fica bem. - ele disse, dando um beijo no meus cabelo e se levantando.

Fiquei chorando por mais um tempo, até que resolvi me levantar e ir lavar o rosto. Me limpei e fui até a sacada, fazer uma coisa que só fazia quando estava muito nervosa. Acendi um cigarro e comecei a fumar.

As últimas cenas ficaram passando na minha cabeça e eu tentei assimilar tudo. Eu não podia deixar o Tomaz sair por cima de toda essa  situação. Nós dois cometemos o mesmo erro. Independente de com quem foi que fizemos. Porque eu era mais errada que ele, então? Eu não era. E não ia deixar com que ele me fizesse sentir assim.

O Felipe chegou do supermercado com várias sacolas, e segundo ele, ia preparar um filé à parmegiana, um dos meus pratos favoritos. Ele perguntou se eu podia ajudar e eu assenti, mesmo estando sem ânimo. Ele abriu um vinho que tinha comprado e encheu duas taças, me entregando uma.

- Então você fuma? - ele perguntou, puxando assunto.

- Só quando eu fico ansiosa. Péssimo hábito pra uma médica né. - dei uma risadinha.

- São ossos do ofício. E tenho que te dizer, é muito sexy te ver fumando. - eu dei um tapinha nas costas dele, e continuamos preparando a carne.

A janta ficou pronto e o cheiro tava ótimo. O gosto melhor ainda. Jantamos, conversando sobre coisas aleatórias. Em momento algum ele forçou o assunto, e preferiu deixar com que eu me recuperasse do acontecido de mais cedo. Fiquei feliz por essa atitude. E terminando a janta, lavamos a louça e eu dei a ideia de assistirmos algum filme.

Ele foi pra sala de tv escolher e o filme escolhido foi "Rebecca, a mulher inesquecível", um remake de um filme de suspense do Hitchcock. Me deitei em seu peito e ficamos ali, sem dizer nada, só nos sentindo e deixando a poeira baixar. Quando o filme acabou, fomos pro quarto e nos deitamos. Ele me puxou pra uma conchinha e eu deixei. Fiquei recebendo um cafuné, e quando estava quase adormecendo, escutei um sussuro baixinho: "Te amo demais." E peguei no sono.

(...)

Nosso domingo foi bem tranquilo, resolvemos aproveitar a manhã pra dar uma volta no calçadão. Alugamos duas bicicletas e fomos pedalando até o Posto 15, onde paramos pra tomar uma água de coco e ver o mar. Eu já estava bem mais tranquila com o que tinha acontecido, e o Felipe estava sendo muito compreensivo, fazendo de tudo pra me animar. 

- Ei, vamos entrar na água, que tal? - ele ficou insistindo e eu cedi. Tiramos as roupas e entramos no mar. A água tava gelada, mas muito gostosa, e a gente ficou mergulhando por um tempo, e depois nos sentamos em umas cadeiras de praia que tinham por ali. 

- Nossa, o dia hoje tá lindo. - falei, olhando pro céu. Tinha tudo pra ser perfeito. O sol, a praia o mar e meu amor, ali, tudo pra mim. Mas meu coração insistia em doer, e em ver tudo aquilo como um erro. Eu estava me sentindo a pior pessoa do mundo. - Fê... e se o Tomaz tiver razão? E se esse lance entre a gente realmente for errado?

- Luísa, por mais que pareça, você sabe que não é. Não estamos fazendo nada além do que as outras pessoas fazem. A gente se gosta e gosta de estar junto. Não somos parentes, não temos o mesmo sangue e nem moramos mais na mesma casa. O que tem de errado nisso?

- Eu sei... mas o jeito que ele falou. Sei lá, com ódio, nojo, repulsa. Eu tô me sentindo um lixo! - falei triste, e ele brincou.

- Então eu sou o seu gari. - rimos e finalmente nos beijamos. Resolvi ceder um pouco e fazer com que ele tivesse um final de semana bom do meu lado, afinal, ele viajou até o Rio, de madrugada, só por minha causa.

Fomos almoçar num restaurante famoso, o Bolinha. Tinha um grupo de pagode cantando ao vivo e as mesas estavam quase lotadas. Almoçamos, tomamos algumas cervejas e umas caipirinhas e fomos embora. De tarde, resolvemos dar uma turistada, e eu aproveitei pra mostrar alguns dos meus lugares favoritos que conheci nos últimos tempos. O Felipe adorou tudo. Tiramos várias fotos e fomos chegar em casa só no fim da tarde, já escurecendo. Fui direto tomar um banho, porque não estava aguentando meus pés.

Quando sai do banheiro, me deparei com uma das coisas mais lindas que já tinha visto. 

(...)

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