Capítulo 2 - Segura

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Ray seguiu para o balcão no fim da sala de estar, o mini bar, e pegou a garrafa de whisky logo enchendo o copo em sua mão e tomando em alguns goles.

Ana se sentou no braço do sofá, processando a notícia.

Ela tinha mais alguns anos, ela estava segura naqueles anos que se seguiriam, e depois, em sua mente com planos, ela provavelmente iria embora do país, faria sua filial talvez do Japão ou da Inglaterra se tornar a principal e ficaria lá.

Ela tinha alguns anos de segurança.

E agora não tinha mais.

_ Por que? É muito tempo. Como ele pode ficar menos dez anos solto? - ela questionou.

_ É muito raro que a justiça vá em frente com uma sentença longa assim, ainda mais se o criminoso está tendo um bom comportamento, sem contar que hoje em dia é tão corriqueiro o feminicidio que eles tratam como um caso de homicídio isolado, como se o criminoso não pudesse ser capaz de cometer outro crime - foi Christian quem respondeu, a morena nem percebeu quando ele se aproximou tanto dela, mas ele estava ali, bem ao seu lado.

Ana franziu o cenho.

_ Mas ele não só matou a esposa - ela insistiu.

_ É um ponto em que vai poder ser revisto. É o que o advogado vai entrar com processo de negação para promotoria - ele respondeu e Carla balançou a cabeça concordando.

_ Com certeza será aceito, filha. Você é uma mulher poderosa, a promotoria não iria querer um escândalo na imprensa, ainda mais agora, ano de eleição - a sra. Adams falou.

Ana a encarou.

_ Não. Isso não pode. A Imprensa não pode se envolver nisso. É o meu nome, nao pode ser ligado à um assassino, sem contar que seria um desastre se descobrirem o que aconteceu. Já não basta o tanto que eu tenho que lidar com homens machistas que não aceitam que eu sou mais inteligente que eles, nao vou dar mais um motivo para eles duvidarem da minha sanidade mental - Ana murmurou.

Carla sentiu o coração ficar apertado. Ela sabia o que Ana passou por aquilo durante anos, os familiares sempre souberam sobre ela, sobre o que a morena havia sofrido quando criança, a tratavam como especial, como se ela não tivesse capacidade mental para muitas coisas.

Ana odiava. As crises a deixavam completamente insana e era apenas mais motivos.

_ Não vai acontecer. Vamos cuidar disso, tá bem? - Carla falou.

A morena passou a mão pelo cabelo.

_ Onde ele está? - questionou.

_ Saiu hoje a tarde da cadeia, sua localização não é uma informação muito certa ainda, mas ao que parece... bem, ele está na sua antiga casa.

Ana revirou os olhos e se levantou.

_ Não está no nome da minha mae? - ela perguntou, cruzando os braços e se virando para a mãe.

_ Está, mas você nunca decidiu o que fazer com a casa, então ela está lá, do mesmo jeito.

_ Queima - Ana declarou.

_ Filha - foi Ray quem falou num tom de reprimenda.

_ O que? Ele não vai ficar lá e eu também não. Então vai queimar. De preferência com o Masen lá dentro.

Carla suspirou cansada.

_ Amor, por que nós não dormimos agora e depois resolvemos o que fazer? Foi um dia cheio, uma noite mais ainda.

Muita informação para uma única pessoa. Christian não era idiota, ele havia percebido o quanto a gravidez de Kate havia afetado Ana num nível referente ao próprio Christian. O fato de Ana saber que ele queria filhos a deixou insegura. E então o baque sobre o pai de Ana estar em liberdade agora.

Christian estava imaginando se alguma hora iria ter de chamar Flynn ou entao Ana por livre e espontânea vontade iria à uma consulta com ele mais cedo, e não apenas dali três dias como ela havia informado que estava marcada.

_ Sim, querida. Eu apenas precisava falar logo, não iria conseguir dormir sem lhe contar. Mas agora você precisa descansar, e não se preocupe, a mamãe vai cuidar de tudo - Carla falou.

Os Adams não se demoraram a ir embora, e logo Ana e Christian subiram as escadas para o quarto dela novamente, cada um com seus pensamentos a mil.

Acontece que Ana não dormiu, ela virou de um lado para o outro a madrugada inteira, tendo Christian a abraçando a cada movimento, sussurrando em seu ouvido que estava tudo bem, ela não precisava ficar preocupada.

Não foi o suficiente.

_ O que você está sentindo? - ele sussurrou em alguma hora da madrugada.

Ana estava deitada de barriga para cima, o braço de Chrsitian estava jogado por sua cintura, a respiração dele em sua bochecha e parecia que os dois estavam tão perto  um do outro, mas também completamente distantes na mente de Ana.

_ Raiva - ela respondeu num tom ainda mais baixo que o dele.

_ Raiva? Do que?

A morena se virou para ele. A cortina da varanda estava aberta, junto da porta, a brisa gelada entrava, o que os forçava a se cobrirem com um cobertor grosso, a luz da lua iluminava de forma precaria o local que ja era escuro devido as paredes negras, mas Ana podia ver os olhos brilhantes de Christian.

_ Não sei - respondeu, dedilhando a ponta dos dedos por seu queixo.

Ela sentia o controle se esvaindo, sua mente estava tao barulhenta que tudo o que queria era o silencio. O silencio que o controle lhe dava. O controle que ela só tinha no quarto de jogos.

Depois que Ana confessou à Christian sobre como seus submissos era parecidos com Troy, eles nunca tiveram uma cena no quarto de jogos, eles ate transavam la, mas nada de cena, nada de submissao ou qualquer coisa do tipo. Christian era tao diferente. Christian era apenas o Christian, e Ana nao sentia mais vontade de fazer aquelas coisas com ele.

Ela tinha o controle antes. Sua mente estava vazia e apenas ele e as empresaa rondavam tudo. Agora, ela estava tentada a fechar as portas da varanda apenas porque nao se sentia mais segura.

E ela não conseguia dormir com as portas da varanda fechadas.

_ Fala comigo - Christian pediu.

_ Quero te machucar - ela respondeu.

O Grey inspirou o ar depois de engolir em seco após ouvir a confissão de Ana.

Ele não sabia bem o que sentia sobre aquilo. Eles haviam conversado antes, ela viu como ele se sentiu.

_ Por que? - questionou.

Ela deu de ombros.

Christian se afastou alguns centimetros, deitando no colchão de barriga para cima e cruzando os dedos sobre o abdômen, encarando o teto escuro. Seu coração bateu mais rápido.

_ Não fica bravo comigo - Ana pediu, e o tom dela quebrou Chrsitian. - Eu não sei porque estou sentindo isso... Eu só... estou com raiva e... e queria que você ficasse também, me desculpe. Eu sei que não deveria estar sentindo isso, eu não deveria querer que você se sentisse como eu estou me sentindo.

_ Eu não estou bravo - ele respondeu.

Realmente não estava. Ele apenas estava tentando lidar com a situação. Era o que ele mais fazia desde que conheceu Ana. Ele ia contra todos os seus conceitos, contra todas as crenças que achava serem parte de si, ele lidava com a morena de uma forma que nunca imaginou que poderia lidar com alguém sem simplesmente ir embora.

_ Não posso deixar você me machucar - ele falou, odiando a lembrança daquela noite sendo revivida em sua mente.

O calor do cinto, a dor de cada vez que ele tocava em sua pele, as marcas horríveis que ficaram visíveis por dias, a forma como Ana pareceu gostar daquilo...

Ana balançou a cabeça, e logo teve os olhos de Christian nos seus.

_ Queria poder fazer isso por você, mas não posso - ele declarou.

_ Entendo...

Ana se aproximou, se apoiando em um braço e se virando totalmente para Christian.

_ Você poderia fazer em mim - ela declarou.

50 Tons de Uma SteeleOnde histórias criam vida. Descubra agora