Capítulo 2 - O fim e então o começo

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"É difícil manter o coração aberto quando até as pessoas que te amam parecem te machucar."

- Sei lá

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Ana nunca havia gostado de hospitais

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Ana nunca havia gostado de hospitais.

Que criança de seis anos gostaria?

Sempre que ela tinha que ir era porque sentia dor. Então hospitais a lembravam de sentir dor.

E é claro que não gostava de sentir dor.

Então também não gostava de hospitais. Havia médicos legais e tudo mais, porém ela não gostava.

Um médica cuidava dela. Cuidava de seu braço que estava roxo e doendo; cuidava de sua cabeça que latejava muito; de sua garganta que parecia queimar; penteava seu cabelo... Mas ela queria ir para casa... E não queria seu pai de volta. Sentia medo quando se lembrava da água.

Ela não tinha noção dos dias. Mas já havia dormido por duas noites. Então em sua contagem deveriam ter sido dois dias. Ela já havia lanchado, o que significava que outra noite já estava vindo.

— Olá, querida, como está hoje? - a médica perguntou.

Ela era legal, fazia o que sua mãe fazia. Ela era bonita também. E sempre tinha um sorriso no rosto.

Mas sua mãe não gostava de sorrir muito.

— Estou bem - respondeu timidamente.

A médica passou a mão por seu rosto e ela se encolheu. Não queria que a tocassem. Eram desconhecidos. Queria sua mãe. Só sua mãe podia tocá-la.

A médica sorriu um sorriso triste e baixou a mão.

— Você quer desenhar? - perguntou.

Balançou a cabeça de um lado para o outro.

— Quer brincar?

Balançou novamente.

— Senhora médica, eu quero a minha mãe - falou.

O semblante da médica mudou.

— Tudo bem... Vamos ter uma conversa, okay? - ela disse, ajoelhando-se ao seu lado. - Você pode me chamar de Dra. Grace, ou só de Grace.

— Meu nome é Anastasia, mas pode me chamar de Ana, ou Annie - a menina falou.

A doutora sorriu, antes de começar a falar...

Era uma vez uma garota de seis anos que havia sido destruída. Foi apenas uma leitura errada nas linhas do destino, e ela pagou o preço. Houve sirenes altas aquela noite e ela não conseguia se esquecer do motivo.

Às vezes, alguém te machuca tão feio, de uma forma tão destrutiva que você não sente mais nada. Até alguma coisa fazer você sentir de novo... E tudo acabar voltando.

Cada palavra.

Cada ferida.

Cada momento.

Cada segundo debaixo da água.

Como alguém poderia entender de onde ela veio? Mesmo que alguém pergunte, mesmo que você escute... ninguém nunca vai realmente escutar, ver ou sentir, ninguém nunca vai ver o que ela já viu, não vai se importar com a história dela ou com seus motivos, não da forma que ela precisa.

Não que seja culpa dela ou das pessoas ao seu redor. Como foi dito antes, foi uma leitura errada nas linhas do destino.

Às vezes parecia que o que a mantinha para cima, a puxava para baixo. Nada era como deveria ser. Seu mundo estava virado de cabeça para baixo, onde a ordem desapareceu.

E uma tristeza profunda encheu sua alma tão pura e brilhante. Cada vez mais fundo, ela se sentia dentro de si mesma. E nada conseguia tirá-la de lá. E dentro de si mesma era um pesadelo constante. Ela estava presa nas tragédias de sua própria vida. Incapaz de ver a luz. Incapaz de ver o sol nascer. De sentir. De ter esperança.

As noites mais negras da sua alma nunca pararam. Parecia que sempre era noite de pesadelos. E nunca chegava de manhã. Às vezes ela se perguntava "por quê?". Mas geralmente tentava não pensar nas respostas e passar por aquilo, e tentava sobreviver.

Todas as coisas se pareciam com nada comparadas com as coisas que eram importantes antes. Como desejar ver sua mãe sorrindo de novo e poder ouvi-la cantando sua canção favorita que sempre acalmou as coisas quando tudo estava difícil.

Ela sabia que precisava de ajuda, era dependente, desesperada, mas o que acontece quando aqueles que você mais precisa ameaçam sua existência? Ela ouviu um monte de promessas e todas pareciam iguais. Mas se pressionar bastante, cedo ou tarde, todas elas se mostram vazias.

O sol nasce toda manhã, mas ela não sabia onde. Em cada dia era como se fosse em local diferente. Era difícil achar o Leste quando ela vivia mudando, mas pelo menos o sol vinha.

E continua vindo.

Ele sempre vem.

Então ela começou a depender dele. Quando ele chegava, era sinal que os pesadelos iram dar um tempo.

Ela queria acreditar que tudo ficaria bem, e um dia talvez ficasse, ela iria se sentir normal.

Aquela era a sua história. E ela precisava estar em paz com aquilo. Aquele era o seu passado, e não era sua culpa. Não era por sua causa. E não precisava ser o que definiria seu futuro.

Mas não era fácil.

Nada era fácil.

Ela explodia. Às vezes devagar, às vezes de uma vez só. Mas ela sempre explodia.

E então, um dia, encontrou algo em que se segurar, algo que a apoiava. E foi ali que a história começou para ela - mesmo que ninguém ao seu redor concordasse, mesmo que ela soubesse que ninguem nunca iria concordar, nunca iria aceitar, ali foi o verdadeiro começo.

Elena Lincoln foi o começo, o meio e... Não havia final, na verdade. Não para aquele começo.

O final havia sido antes, com seus pais. Eles fizeram o seu final, e Elena lhe mostrou um novo mundo, começou algo novo. E aos poucos, devagarinho, as estações foram mudando dentro de dela, e dessa vez parecia que talvez o mundo não fosse arrancado debaixo de si mesma novamente.

Com os pés seguros, raízes começaram a crescer junto dela.

E 18 anos se passaram desde o fim.

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50 Tons de Uma SteeleOnde histórias criam vida. Descubra agora