capítulo 3

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  Permaneci sentada ao lado dele, segurando sua mão e sem ter ideia do que fazer. Eu estava sozinha num lugar sombrio, cercada de árvores e matos com espinhos. Olhar a lua naquele céu sem estrelas era o que me restava, pois o medo não deixava lembrar o caminho de volta.

  No meio do silêncio pude ouvir vozes de repente. Achei estar maluca. Mas a neblina começou a surgir e ficar mais forte, indicando que eu não estava sozinha. O medo foi tanto que nem olhei para os lados. Só que eu tinha acabado de dizer que iria vencê-lo...

  — Olá? — falei, mesmo com a sensação que não devia.

  As vozes pararam e a neblina foi sumindo devagar. Os morcegos que voavam pousaram nas árvores, notando minha presença. Eu congelei. Mas olhando as mãos de Lipe nas minhas, decidi me levantar. Então os morcegos retomaram o percurso; nada que me fizesse relaxar.

  Olhando atentamente, pude ver árvores caídas mais adentro do caminho. Entrelacei as mãos de Filipe e o olhei uma última vez antes de ir. Derramei uma lágrima sem querer. A sensação de sentir o gelado de seu corpo no deslizar de meus dedos era terrível, não mais que a sensação de aquela ser a última vez que eu o veria.

  Fui seguindo às cegas depois que a neblina tomou conta, até um ponto onde ela não se formava. Saí da neblina como se sai por uma porta e ela se desfez atrás de mim. Foi quando vi as árvores que, na verdade, estavam cruzadas formando um enorme paredão de espinhos pretos. Enquanto eu ainda pensava no que fazer, as vozes voltaram, e agora mais altas; eu não entendia o que dizia. Assim como aquele tronco pareceu me atrair, ouvir as vozes me fez pensar que alguém podia estar precisando de ajuda, da minha ajuda.

  Conforme eu me aproximava, um barulho fino ia aumentando e ficando ensurdecedor a cada segundo. Ao atingir um pico, o paredão começou a se mover. Me encolhi no chão, sem chances de conter o medo. Senti apenas o vento de algo passar rápido bem acima de mim e atingir uma árvore. Então se fechou.

  Neste momento eu estava desesperada, só queria sair daquele lugar, porém minhas pernas não se moviam. Mas o pensamento de alguém precisando de ajuda ainda insistia. De ofegante e trêmula para tranquila foi algo difícil que tornei fácil..

  — Tem alguém aí? Você precisa de ajuda? Estou aqui. — eu falava e ia me aproximando.

  Pensando que a passagem se abriria para mim, tentei passar por um pequeno espaço entre os espinhos. Tudo o que consegui foi um belo machucado que começou a sangrar. Só então vi que o que passou por mim foi uma flecha com um tecido envolto, uma capa preta que usei para estancar o sangue.

  — Olá? Sei que está aí— falei, voltando a me aproximar. — Meu amigo... viu o que houve?

  Então o barulho fino foi voltando aos poucos, o paredão começou a se mover e me encolhi novamente. Desta vez não fechei os olhos e vi uma sombra na luz forte que veio do outro lado. Não tive coragem de soltar uma palavra.

  Era uma pessoa, que passou por mim e seguiu até Filipe.

  — Não. Não, por favor, não faça nada com ele. Ele está... —e me calei, vendo a pessoa dizer palavras desconhecidas e galhos saírem do chão e abraçarem Filipe, o enterrando.

  Em seguida, veio em minha direção. Vestia uma capa idêntica a da flecha mas que parecia se misturar com raízes no chão.

  —Oh, perdoe-me caso tenha lhe assustado. Por favor deixe-me apresentar a ti. — falou com voz suave, e um português arrastado e formal. — Me chamo Márlety Imizon.

  —Como fez aquilo? Quem é você?

  Sua pele era incrivelmente pálida e seus cabelos ruivos escuros quase arrastavam no chão.

A Sétima Poção (Pausado)Onde histórias criam vida. Descubra agora