capítulo 10

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  O meu sangue ferveu em ódio, que passou a me controlar por completo.

  Asnum escolheu manter-se apenas atrás do escudo, enquanto analisava meus ataques incrivelmente ágeis. Ele via que eu não possuía nenhuma experiência em batalha e que não sabia o que estava fazendo naquele momento.

  Foi quando todo o poder do tridente pareceu sair e formou uma massa azul na palma da minha mão esquerda, mas ainda estava ligada a mim. Vendo isso, ele atirou raios vermelhos. Assim como eu, Asnum não esperava a massa azul formar uma barreira transparente, semelhante ao escudo, em volta dele.

  Todos os raios que Asnum tentava lançar eram rebatidos e atingiam ele mesmo, o enfurecendo.

  Por algum motivo, ele não sugava meus poderes e suas chamas não me queimavam ao se canalizar. Mas não fui capaz de manter a barreira por mais tempo, e assim que se desfez, ele combinou os raios com as chamas roxas. Por um momento, o escudo da capa me protegeu, mas eu decidi desfazê-lo para revidar. Os raios pretos da capa agora eram um só, revestidos de faíscas azuis do tridente. Ventos fortes foram gerados ao se chocarem contra os raios dele. O acúmulo de poder crescia cada vez mais rápido no centro, mas lentamente fui avançando sobre ele, com meus raios se esbranquiçando cada vez mais.

  — Você não sabe do que é capaz, não sabe pelo que luta nem pelo que realmente deveria lutar. — ele dizia, sustentando o poder sem fazer tantos esforços; acho que estava me deixando avançar. Foi me deixando pensativa aos poucos, até dizer… — É preciso aprender que pessoas precisam ser mortas para que outras vivam.

  — Não. Não eu, não a minha mãe.

  — Eu não morro tão cedo. — Evelyn disse, estando de pé ao fundo da estrada.

  Asnum não teve tempo de atacá-la, ela jogou adagas de poder no centro de acúmulo dos raios, provocando uma explosão muito mais forte que a de antes.

  Só vi o clarão da explosão me arremessando para longe. Senti o baque contra o chão, e meu corpo falecendo bem lentamente, enquanto assisti os poderes se dispensarem no céu em trovões e relâmpagos.

  — Liz! Filha, olha para mim — Evelyn disse, virando meu rosto para ela.

  Lágrimas escorriam e se misturavam ao sangue em seu rosto. Eu tentei dizer algo mas minha cabeça e meu corpo todo estavam doendo demais.

  — Você está bem? O que está sentindo? Vai ficar tudo bem, eu estou aqui, não vou sair daqui, ok?

  Atrás dela, ao fundo, uma luz verde acendeu. Quindel erguia Asnum e eles sumíam pelo matagal ainda aquecido pelo incêndio mas sem chamas. A minha visão já se escurecia, eu sabia que ia desmaiar pela milésima vez só que não deu tempo de avisar minha mãe do que vi.

  Escutei Evelyn gritar meu nome no meio de uma escuridão depois de meus olhos se fecharem. Eu via uma escuridão mas não me via nela. Foi como se viajasse para outro lugar. Até que, ainda no escuro, o silêncio foi quebrado com a voz de minha mãe tão nítida quanto da última vez, e ainda senti minha mão tocar na dela mesmo sem me ver ou vê-la.

  — Acho que tenho as respostas do que aconteceu e quero muito, muito estar errada. Eu nunca quis te envolver nisso, mas um só momento de desespero estragou tudo. Agora vou ter que conversar com seu pai e não sei se estou preparada para isso. Ah, filha, ainda tem tanta coisa que você precisa saber; e eu vou estar aqui. Nos piores momentos eu prometo sempre estar aqui assim: segurando sua mão e te sentindo comigo. Eu só temo não poder te proteger sempre... Será que você me ouve?

  — Estou ouvindo — Falei, com dificuldade, e com os olhos entreabertos.

  Evelyn estava em pé ao meu lado com um sorriso desabrochando no rosto, e eu estava deitada numa cama. Vi uma televisão ligada, e sentia algo prendendo meu dedo indicador num cabo.

A Sétima Poção (Pausado)Onde histórias criam vida. Descubra agora