capítulo 30

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 Pedro havia atravessado os muros dos tanques maiores e seguiu para nossa antiga casa atrás da fazenda, trancou a porta e ficou em um completo silêncio. A reação dele era compreensível, apesar de ser o oposto de quando soube que era filho de uma empregada da fazenda, ele com certeza não esperava que conhecesse e convivesse com sua verdadeira mãe. 

 Desde quando Pedro e os outros voltaram, eu não tive a mesma relação que antes tinha com eles, talvez por falta de tempo ou por ter ficado meses naquele quarto… Por causa disso, Pedro abriu a porta para Virgínia e não para mim e nem para dona Rosa. 

 — Como ele está? — perguntei para Virgínia quando ela saiu pela porta, que caia aos pedaços.

 — Está… Ele só me abraçou e não disse nenhuma palavra. Não estava chorando, ficou sério o tempo todo. Por fim, apontou a porta e eu saí. Devemos dar um tempo para ele.

 — Eu devia ter sido mais próxima dele, ser a irmã que ele foi para mim... — eu dizia, escorada no muro que cercava nossa casa. — Quando eu o vi, pensei que a vida, o destino, algo nos deu uma segunda chance para nos apoiar. Isso foi dado, mas para vocês dois. Conseguiram recuperar o amor… É lindo vê-los juntos, Vi.

 — Pedro se tornou minha vida outra vez, ele é tudo de mais precioso que eu tenho. Mas você não tem culpa, é ele que não dá abertura. Tivemos uma briga antes de vocês chegarem... 

 — O que houve? Já estão bem, né? 

 — Acho que sim, li. Só que ele parece se esconder de mim e dele mesmo. Sabe, ele se isola quando não gosta de algo, enquanto eu prefiro conversar. Hoje foi assim e já aconteceu antes também, mas estamos resolvendo. Eu não iria perdê-lo só por uma briga.

 — Fomos amigas por tanto tempo e você nunca me falou que teve algo tão forte com o meu irmão.

 — Desculpe… Mas se pensar bem, como é que eu ia falar? Você era uma criança quando começou a trabalhar, esperei você crescer e quando vi não tinha mais coragem…

 — Não precisa se explicar, era só uma dúvida.

 — Eu… Li, fiquei tão preocupada com você. Nos meses que ficou sozinha e agora, essa sua demora. Ainda somos amigas, né?

 — Claro que sim. 

 — Aquelas coisas de adolescente que eu tinha... acho que era uma forma de mascarar o que eu realmente estava sentindo e não conseguia suportar.

 — Espero conseguir vencer essa batalha para continuar nossa amizade, ou podemos começar do zero. — e ela concordou.

 — E… Você e Filipe? Estão bem, né?

 — Acho que decidirei isso melhor depois dessa batalha.

 — Que jeito careta, chama de missão que é melhor.

 — Você é muito chata, sabia? — Falei, rindo.

 — Parece que voltamos a amizade mesmo.

 Pedro finalmente disse alguma coisa, mas foi só para pedir para irmos embora. No casarão, dona Rosa, Else e Diana cuidavam de Mary na cozinha. Beth estava com os celestiais arrumando mais tendas com os meio-elfos, anciãos e os Guardiões. Filipe ajudava Máties a manter as meninas no quarto para não se amedrontar ao ver os Guardiões.

 Sozinhas, Mary contou que era vítima da "sala de espera", onde as moças da fazenda esperavam pelos homens a quem eram prometidas. Ela era uma simples empregada desde o início da fazenda, mas sua beleza a levou a ser prometida ao sr. Frederick. Quando ele soube que ela estava grávida, ameaçou matá-la. Como qualquer mãe faria, ela pensou em seu bebê. Isso aconteceu na mesma época em que Madeu e Evelyn se preparam para se mudar para sua casinha atrás da fazenda. Mary propositalmente deixou Pedro no caminho para que ele fosse encontrado. Para seu "dono" ela disse que a criança nasceu morta, assim ele permitiu que ela continuasse como empregada na fazenda. Mary não via motivos para estragar a vida que Pedro estava tendo em sua nova família, por isso escolheu vê-lo crescer de longe, mas próxima a ele.

A Sétima Poção (Pausado)Onde histórias criam vida. Descubra agora