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...Umas das coisas que mais irá aprender é sobre seus sentimentos, emoções difíceis de controlar. Infelizmente, além de Filipe, tenho outros compromissos urgentes na terra natal de Beth, então é ela quem vai te treinar. Torço que tudo ocorra bem e possamos comemorar seu aniversário dias depois da conversa com sua mãe, com ela junto. Boa sorte! — Asnum disse em um bilhete que deixou em meu quarto.
Em um andar acima da prisão, havia somente uma sala totalmente escura e silenciosa.
— Me ataque!
— Eu não consigo ver nada.
— Me ataque!
— Eu não vejo nada.
— Me ataque!
— Beth, não enxergo nada.
— Me ataque!
Então sua ordem acendeu meus poderes mentais como se eu me chocasse contra parede, mas foi encoberto quando a sala tornou-se minha casa antiga. Eu me lembrava daquilo. Olhei para mim e vi uma criança de 9 anos sozinha em casa à espera do pai que sempre viajava.
— Controle! — A voz de Beth me fez voltar para sala de novo.
— O-o que foi isso?
— Uma lembrança sua. Seu abandono é o que te faz ativar a mentalização inconscientemente. É bom pensar em somente uma lembrança para cada poder, de forma controlada. Portanto, quero que me conte sobre seu abandono sem ativar seus poderes.
— Ok, ok. Abandono... O que me lembro são as vezes que eu me pendurava na janela, depois do trabalho na fazenda, e passava a noite em claro admirando as estrelas e a lua, na companhia de meus próprios pensamentos e meus ursinhos, esperando que ele voltasse logo. Eu falava sozinha, conversava com os pássaros e com meus ursinhos. Toda manhã antes de sair para o trabalho, eu deixava o café pronto esperando ele voltar, porque parecia uma eternidade cada semana que ele estava fora.
— Continue falando, Liz, só respire devagar, calmamente, e me coloque no chão. E não se desculpe.
— Desculpe... Me lembro dos pesadelos que me deixavam com medo, mas também dos sonhos onde eu brincava com Pedro enquanto mamãe fazia o almoço em nossa casa na cidade. Era realmente um sonho. Mas era tão horrível quando eu acordava e percebia que aquilo não era verdade, que só havia eu em casa, e agora chorando como um bebê. Pode até parecer drama mas eu não tinha amigos e os que eu tinha só diziam que eu não servia pra nada. Filipe e dona Rosa se tornaram meus pontos de apoio aos poucos. Por isso eu só quero o bem dos dois…
— Você está indo muito bem. Quer fazer uma pausa?
Repetimos a atividade por milhões de vezes, afinal na primeira vez o que eu disse foi por telepatia com Beth, então acho que não valeu muito.
Sentada comigo, comendo algumas frutinhas, Beth me contou que sua região Natal eram as regiões geladas, onde foram um dos únicos celestiais que sobreviveram ao aquecimento após a criação das máquinas, já que seus corpos absorviam e distribuíam menos calor naquelas regiões pela falta de luz solar em algumas épocas do ano. Foi depois das tantas mortes da espécie que eles deixaram a admiração aos humanos de lado e saíram pelo mundo tentando encontrar outros sobreviventes. Antes disso tudo acontecer, Asnum e Maeve eram quase que os únicos a insistirem que as outras espécies ajudassem os celestiais em outros casos. Asnum foi o responsável por encontrar outros sobreviventes e ajudou a repovoar o céu. Por isso ajudá-lo era uma retribuição.
Quando chegou a vez dos Reytz, tudo se tornou ainda mais difícil. O que ativava a minha manipulação de energia eram as emoções quando revivia as perdas que tive. Essas lembranças e emoções deveriam ser ainda mais fortes para ativar o poder; isso sem que eu perdesse o controle. Neste dia eu não consegui, mas obtive uma vitória…
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A Sétima Poção (Pausado)
FantasyA descoberta de um bosque de elfos muda a vida de Liz e revela que tudo o que sabia sobre si era uma completa mentira. Mas foi a fuga de um elfo justiceiro e o surgimento de poderes misteriosos que a levam a outras direções. Ela agora terá que vence...