capítulo 24

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Como disse para Liz, enganei facilmente eles, principalmente os policiais locais, sem precisar usar poderes; foi só dizer ser uma daquelas humanas que cedem o corpo por papéis de troca nas cidades, e isso valeu se julgar pelas minhas roupas. Quando pensei que seria abordada por parecer meio suspeito uma moça sair da "cena do crime", Liz foi encontrada e tomou o foco de todos.

"Ela caiu na armadilha, como previsto..." - pensei.

Tudo o que eu queria era sair dali e ir até Márlety, precisava de notícias boas dela. Ao tomar posse como líder-diretor, Asnum planejava concluir a Sétima Poção com Márlety, isso só pareceu mudar quando Quindel teorizou que o cargo iria facilitar a procura do Lírio e produzir a mais rara das poções, que precisaria do sangue de um elfo absurdamente poderoso: Liz. Asnum assumiu que estava abaixo dos níveis dela. Mas, meus poderes e os dele batem de igual para igual, por isso o ataquei, me opondo ao plano. Para me parar, ele me aprisionou em minhas próprias lembranças antes que eu usasse a Anusyus. Então, fui despertada por Liz.

Agora, vagando pela cidade, sem poderes, eu não sabia como conseguir papéis de troca. Passava nos pés de prédios cada vez mais altos, por entre multidões. Eram tantas pessoas que algumas esbarraram em mim, e demorei a perceber que não era por acaso. Cada um deles derrubou um cartão, que dizia: "qual o seu propósito?".

- Como assim? - disse, olhando o cartão e buscando a pessoa ao meu redor.

"Meu antigo propósito era destruir a divindade e acabar com as punições severas dos descumprimentos de suas regras sem sentido. Mas isso passou, meu propósito se tornou Márlety, salvá-la." - pensei comigo.

Então outro cartão caiu: "muito bem, vou ajudá-la".

- O que? - falei, em voz alta.

- Pegou todo esse dinheiro do chão, agora? Que sorte! - falou um senhor engravatado, muito bem vestido, que saiu pela porta de um prédio.

Ele parecia um homem rico e mesmo assim era gentil e ficou surpreso ao ver o dinheiro. Não se importou nem um pouco com minha aparência, não como os outros humanos.

- Dinheiro?

- O dinheiro na sua mão. Você não é daqui? Quer ajuda? - sua voz soou me cativando.

- Quero notícias da minha irmã. Preciso resgatar uma amiga. Não tenho como ir para casa.

- Ah, como não tem? O dinheiro em sua mão pode pagar desde um táxi até uma passagem de avião, de ida e volta. Não roubou isso, né? Se não, deveria guardar num banco. - dizia ele, entre cochichos e exageros.

- Onde troco isso por uma passagem de avião?

- No aeroporto, é claro. Por coincidência, estou indo para lá agora buscar minha filha, ela desembarca em alguns minutos. Posso lhe dar uma carona, venha. Sou William Smith, a propósito, mas pode me chamar de Wil.

Wil praticamente me carregou para dentro do luxuoso carro comprido e preto, sem teto numa parte. Curiosamente, não me fez nenhum momento desconfiar de suas intenções, talvez por passar todo o trajeto falando o quão orgulhoso estava em ir buscar sua filha formada em medicina. Ele comprou a passagem comigo e me acompanhou até o embarque.

- Fico agradecida, senhor Will. Agora, vai buscar sua filha, vá. Vai perder o desembarque dela. - falei, me esforçando em parecer a mais doce possível e agradecida como eu estava.

- Lhe ajudei pela sua mudança. Você importa para este mundo escondido. Sua irmã tem muita possibilidade de ser salva por você, entretanto, tenha a jovem na sua lista de prioridades. - ele soltava as palavras como uma máquina - Você nasceu de uma regra descumprida, eu sei, mas suas habilidades não podem girar em torno disso. Não tenho como mudar o destino, mas vocês podem, com suas escolhas.

A Sétima Poção (Pausado)Onde histórias criam vida. Descubra agora