capítulo 20

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 Já era noite quando cheguei na Floresta Sagrada. O que era para ser uma reunião se transformou em uma festa com a gritaria dos elfos quando Asnum subiu no "palco" erguido em pedra. O líder-diretor dos Camp o esperava, de cara fechada, para entregar a capa azul escura usada na batalha, garantindo a liberdade do justiceiro no mundo élfico e a permissão de participar de reuniões e morar na Floresta Sagrada. Com isso, ele fez seu discurso cheio de palavras rasas e que não prometiam nada, para terminar com:

  "Acredito que tudo tem um propósito e nada acontece por acaso; a Mãe Natureza diz isso. (...) Nenhuma jornada deve ser esquecida. Evelyn, apesar de seus erros, foi o exemplo de liderança que quero seguir, sim, e superar. Afirmo a vocês que eu, Asnum, revolucionarei o mundo élfico!". — E foi seguido de aplausos eufóricos. 

  Uma mesa enorme foi posta no pátio e foi recheada de frutas no espeto, salada de frutas e de legumes, chás e bebidas de ervas douradas; além de tortas e sorvetes. Fiquei perto da mesa até que o tal discurso acabasse.

  — Fiquei feliz que tenha vindo… — Asnum falou, se achegando ao meu lado, disfarçando ao pegar um espeto de morangos frescos. — e melhor te vendo totalmente recuperada.

  Ele foi saindo sem dizer mais nada. Fiquei parada por um segundo, sem reação, mas virei e o chamei.

  — Que fique claro que jamais te perdoarei por... Evelyn. Nunca vou esquecer aquele dia... Mas você pediu uma conversa nas cartas, acho que isso posso fazer.

  — Não sabe o quanto esperei por isso. — ele falou, ainda de costas, me olhando de canto.

  Antes mesmo de ocupar a casa dos líder-diretores, e consequentemente antes era de minha mãe, Asnum já havia encomendado a decoração e eu fui a primeira a ver, uma vez que seria onde conversaríamos.

  A casa foi dominada pelas cores roxo e preto; estava nos móveis, nas paredes, objetos, em tudo. Eu sentia poder naquele lugar, cada cômodo podia estar repleto de feitiços protetores. Por algum motivo ele não me deixou passar por dentro de toda a casa, fomos direto para a varanda, cortando para um corredor. E ainda bem, pois tudo me pareceu sombrio demais…

  — Então? — perguntei, me sentando na dana, sem intenção de ser grossa. — Foi você que me chamou pelas cartas.

  — Que bom que as leu. As cartas diziam muito sobre mim, mas não tudo… — e fez aquele sorriso bondoso para me oferecer uma bebida de ervas douradas, que recusei. — Quero… Preciso lhe contar a minha história, Liz, a minha vida. Sinto que fui vago demais com você, isso não é bom. Está disposta a me ouvir?

  — Estou aqui, não estou? Isso responde.

  — Não se exalte, eu estou calmo.

  — É essa calmaria que me estranha. Onde está o deboche de sempre? E o orgulho? Me "disseram" que você sempre se mostra bem orgulhoso.

  — Ando ocupado demais pra isso. E parece que alguém já ocupou esse meu lugar de deboche, não é mesmo? — ironizou também.

  Parece que tenho o dom de deixar as conversas em um silêncio onde ninguém sabe o que faz ou se continua a falar; pois foi o que aconteceu. Mas ele finalmente começou:

  — O meu pai era um humano acolhido por elfos que, antes disso, se relacionou com uma elfo Camp, minha mãe. Eles eram novos demais, então fugiram para grandes cidades quando descobriram a gravidez. Eu nasci pouco antes de minha mãe ser morta por humanos que a acusaram de bruxaria…

  — Você ainda parece sentir falta dela pelo jeito... o jeito doce que diz.

  — É, sinto falta, muita. Apesar de não conseguir lembrar nem a feição ou as suas expressões marcantes. Uma mãe me fez falta depois que meu pai… Depois que meu pai foi acolhido pelos elfos, fui criado no bosque Imizon, sem atenção, sem muito ensino, sem… amor.

A Sétima Poção (Pausado)Onde histórias criam vida. Descubra agora