capítulo 4

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 Voltei para a fazenda à beira da estrada como da outra vez. E tudo se repetiu: encontrei dona Rosa voltando da tenda de frutas. Me vendo assustada e confusa, apenas me levou para o dormitório subterrâneo dos empregados, onde pude tomar um banho.

 — Sobre o que era a reunião na cozinha?

 — Alguns de nós cansaram de trabalhar e ser maltratados. Planejam negociar o pagamento da dívida que nos mantém aqui. — ela respondeu, parecendo não apoiá-los. — E então, não vai dizer nada? Onde ele está, Liz?

 — Antes, eu queria lhe pedir desculpas. — Comecei a me atrapalhar com as palavras, falando rápido e super nervosa. — Eu fiz tudo o que eu pude e o mais rápido que eu pude. Dona Rosa, eu... É culpa minha, tudo culpa minha. Ele estava lá quando cheguei, só que... Eu não sei como dizer...

 — Não diga mais nada. — Com semblante triste e lágrimas se acumulando em seus olhos, ela se levantou, tentando ser forte. Mas se sentou novamente. — Liz, eu sou uma mulher sozinha, que os outros não se agradam em ter ao lado. Lipe teve meu amor assim como você o tem. Mas todos os que amo se envolvem e morrem. Não vou deixar que isso te aconteça.

 — O que está dizendo?

 — Não me interessa saber o que houve lá, mas que você se afaste daquilo pra sempre.

 — Não, devo contar sobr...

 — Vamos subir. — disse, me ignorando.

 A reunião na cozinha havia saído dos trilhos, virou uma grande discussão e pancadaria. Dona Rosa e eu demos a volta pelo casarão para chegar na sala de estar, onde eu ficaria longe da briga. Até então, ela não deixava eu soltar uma palavra, pois me interrompia.

 — Eu falei com os elfos.

 — Não grite isso aqui. — dizia olhando ao redor enquanto tampava minha boca. — O que estava pensando?! 

 — Eram dois. Precisavam de ajuda para encontrar o resto deles.

 — Não.

 — Alguém tomou a família deles. 

 — Não, você não vai ajudá-los. Isso é fantasia, não existe.

 — Sabe que eles existem, essa capa prova isso.

 — Então queime a capa pois é amaldiçoada. Não se atreva a sair desta sala, você me entendeu?

 Ela saiu para tirar as meninas mais novas do meio da confusão na cozinha. Quase no mesmo segundo, ouvi uma risada e passos na escada. Era Paulo, o filho mais velho dos srs. e o preferido deles.

 Vestindo suas roupas de couro, não estava mais tão bonito como da última vez que o vi anos atrás. Tinha os olhos cheios de olheiras, cabelos loiros presos num coque e estava magro demais.

 Ele desceu as escadas e se esparramou no sofá. Ainda rindo chamou eu, a dona Rosa e os outros empregados de burros ou lerdos. Não deu intervalo entre as palavras e logo questionou a grande e extrema preocupação da mãe com seu pai. Ainda sem me deixar falar, insinuou que tudo, até mesmo eu, foi parte de um plano para ficar em paz no casarão.

 — O tempo sem sair da torre encantada te fez criar teorias?

 — O meu quarto tem visão para fora dos muros. Eu vi e ouvi toda a reunião de minha mamãe com os guardas. Ah, mas acho que isso não te interessa, né? Ok, eu já vou indo então.

 — ...Ta. Me conta o que sabe. Antes... quero saber porquê veio até aqui falar sobre isso. 

 — O processo explica.

A Sétima Poção (Pausado)Onde histórias criam vida. Descubra agora