6 . MELBOURNE

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Engulo em seco e caminho até uma das duas cadeiras vagas em frente à mesa a qual Shane está sentado na parte de trás. Sinto meus passos pesados e duros, como se não quisessem aproximar-se do meu próprio pai. 

Shane, sempre teve uma boa aparência, junto de um charme encantador, mas agora ele tinha um olhar pesado que expressava melancolia e escuridão. 

Estranhamente, havia bolsas de olheiras debaixo de seus olhos, e seu rosto estava pálido como se ele não tomasse sol há milênios. Listras brancas de lágrimas estavam marcadas em sua face, era óbvio que meu pai havia chorado. 

No entanto, aquilo que me chamou atenção, foi que o mais estranho daquilo tudo, era que  ele parecia inclusive mais magro do que quando o vi naquela manhã, quase como se estivesse doente ou cansado demais. 
Eu concluí, que pudesse ser os dois. 

— Pai... o que significa tudo isso? - Pergunto com uma voz fraca que aos meus ouvidos soam quase inaudíveis. 

Charles se senta ao meu lado, e passa o braço ao redor dos meus ombros. Seu corpo quente próximo de mim, me causa uma sensação amistosa, porque estar naquela sala sem vida, fria e fedorenta é quase semelhante a estar afundando em um lago congelado durante um rigoroso inverno no Alasca. 

Shane abre a boca para me responder após um minuto de silêncio, e fecha novamente como se estivesse hesitando em contar-me com antecedência toda aquela situação. 

Mordo os lábios e algumas lágrimas causadas pela ansiedade rolam pelo meu rosto. Dói saber que agora, perdi também basicamente o único familiar que tenho por perto. Shane é aquele que mais amo depois de Charles. 

— Por favor! Fale comigo e me responda, porra! - Exclamo com exasperação dando um soco na mesa.

Não sinto a dor que o impulso do soco pode ter causado em meu punho, estou irritado demais para sentir isto. Mas percebo que meu punho incha quase instantaneamente com a pressão. 

— Eu não sei se consigo fazer isso... nunca quis que você descobrisse dessa maneira, Cody. - Shane diz tentando não fazer contato visual comigo. 

Charlie toca suavemente meu punho vermelho e inchado, e eu sei que ele apenas deseja que eu fique calmo. Meu namorado tinha conhecimento de que eu estava a poucos passos de me exceder ali.

— Droga! Então você achou melhor que eu descobrisse quando a polícia simplesmente arrombasse a nossa porta, e eu visse o meu próprio pai ser levado?! - Questiono retoricamente me levantando da cadeira e começando a caminhar de um lado para o outro da sala.

Shane cobre o rosto com as mãos. Seu terno daquela manhã, está surrado e amassado, até parece um pouco sujo com algum tipo de poeira ou limo. Sei que é a última vez que o verei vestido daquele jeito, porque eu sabia que não iria demorar até que ele precisasse usar um macacão laranja da prisão. 

Minha cabeça está girando e minha mente se sente cansada, eu estou exausto. É quase como se eu tivesse passado um dia inteiro mergulhando e nadando na piscina, cada centímetro do meu corpo dói, minha visão ainda está turva e parcialmente escurecida, temo que eu possa desmaiar. 

— Gatinho! - Exclama Charles vindo até mim para me acalmar. 

Olho para ele e me jogo em seus braços. Charlie é o único realmente que me transmite segurança e tranquilidade naquele momento. Eu nunca conseguiria viver em um mundo que o meu Charles Ross não existisse, porque ele sempre foi e sempre seria, aquele que eu poderia contar em meus terríveis dias de insegurança. O meu Charlie era o meu porto seguro. 

— Eu só quero acordar... Eu preciso acordar... isso tem de ser um pesadelo! Eu não aceito que realmente estou perdendo o meu pai! - Digo repetidas vezes com o rosto afundado no peito de Charles enquanto choro excessivamente, manchando o tecido de sua camiseta com minhas lágrimas. 

APPLE HARVESTOnde histórias criam vida. Descubra agora