APPLE HARVEST

8 . DIAS ENSOLARADOS

Meu estômago ronca me fazendo abrir os olhos. Alguns raios brilhantes de sol entram pelas frestas da persiana do meu novo quarto, aquecendo minha pele, que me clama por um generoso copo com água gelada e gelo. 

Estou cem por cento desorientado, meus olhos ardem quando os esfrego, a minha boca está seca como um deserto escaldante, meu estômago ronca alto por um alimento qualquer que seja, e minha cabeça além de parecer girar, está doendo como se estivesse sendo frequentemente atingida por um martelo. 

Estou deitado exatamente da forma em que fiquei após me masturbar há algumas horas atrás, mas agora minha virilha e abdômen já estão secos do sêmen que deixei escorrer em meu corpo. 

Eu estava com muita preguiça para tomar banho, mas sinto o meu próprio fedor por ter passado todo aquele tempo sem tomar uma ducha. Pelo o que me lembro bem, a última vez que senti a água morna de um chuveiro levar meu corpo, foi quando eu ainda estava em minha mansão em Los Angeles. 

Nunca fui o tipo de garoto que evita o chuveiro, muito pelo contrário, eu tomava dois ou três banhos por dia. Fiquei sabendo certa vez, que eles faziam isso no Brasil, e decidi tentar seguir esse método, e por fim, me adaptei com velocidade, e me tornei inclusive, mais vaidoso do que o normal. 

Eu gostava de andar muito bem perfumado pelos lugares, e adorava mais ainda quando Charlie se deitava sobre mim, e beijava meu corpo, dizendo que o meu perfume noturno de baunilha era um dos melhores que existia. 

Eu sentiria falta das noites que costumava ter junto de Charlie, adormecer em seus braços era maravilhoso, me fazia sentir-me contente. Sentir o toque quente das mãos dele em meu corpo, seus lábios tocando os meus, seu perfume tão bom me dominando e do seu calor quando eu adormecia em seu peito. 

Me doía saber que pelos próximos meses, eu não poderia mais ter nada daquilo que até então, eu tinha quando acordei pela última vez em solo americano. 

Eu não fazia ideia de quanto tempo iria durar toda a repercussão do caso de estelionato imobiliário de Shane Daramour, nunca entendi muito bem como funcionava a área jurídica quando se cometia um crime. Porém, não era preciso que fosse um gênio em advocacia ou um advogado para saber que com toda certeza, não seria um caso que se resolveria do dia pra noite. 

Meu pai estava sendo processado por muitas pessoas, e eu pude imaginar o tamanho da dívida que ele iria acumular no final das contas. Ele precisaria desembolsar todo o valor roubado em devolução a suas vítimas, e eu sequer era capaz de imaginar o quanto seria aquilo, porque somente a nossa mansão estava avaliada em trezentos e setenta milhões de dólares, que foi uma aquisição de Shane após uma excelente semana de vendas em um condomínio fechado. Logo, era fácil de se raciocinar, ao menos, uma pequena parcela daquela dívida.

Eu me sentia preso em um limbo, caindo em um poço de águas escuras e profundas, sem ninguém que pudesse me socorrer lá na parte de cima. Acho que eu preferiria morrer ao invés de estar vivendo toda aquela mirabolante situação, que me afetaria pelo resto da vida nos Estados Unidos.

Agora que Charlie estava distante de mim, que eu estava vivendo por amparo em um outro país, outro continente, apenas para me manter a salvo das manchetes dos jornais e revistas de fofoca, eu não via mais razão para sequer me levantar da cama. Nada mais fazia sentido para mim, porque praticamente, eu havia perdido aquilo que eu tinha de maior preciosidade em meu universo. 

No entanto, eu precisava ser o Cody Daramour otimista que costumava existir na Califórnia antes da manhã que mudou minha vida completamente. Charles disse que viria em carne e osso me buscar na Austrália quando tudo se acalmasse em Los Angeles, nós iríamos nos casar, e eu passaria a ser o Cody Ross, podendo enterrar de muita boa vontade o Cody Daramour que Shane destruiu com as revelações de suas farsas e mentiras.