APPLE HARVEST

9 . CACOS DE VIDRO

Blake nos olha abespinhado com os punhos cerrados e rosto vermelho como um tomate muito maduro. Não é nem preciso perguntar, não o conheço muito, e apenas estou na Austrália há três dias e meio, e já sei que ele é aquele típico tipo de homem que se irrita facilmente com qualquer coisa por mais mínima que seja. 

- O que? - Balbucia Matt confuso ainda parado ao meu lado em frente ao seu Prius. 

Cogito a ideia de puxar a macia mão de Matt, e correr para longe dali. Se Blake irritou-se tão facilmente quando recusei que trocássemos amassos no meu primeiro dia em que cheguei a Fazenda, logo, eu não queria sequer pensar em como ele reagiria por ter ouvido que Matt e eu estávamos indo fazer um passeio. 

- Blake... - Murmuro ainda querendo dar o fora dali. - Por que está aqui? - Pergunto sem entender como ele ainda estava pelas redondezas.

Tudo bem, eu sabia que Blake e Seamus muito provavelmente trabalhavam na fazenda de Naomi, mas achei estranho que especificamente naquele momento, ele estivesse pelas proximidades para dar chilique por eu estar prestes a sair com Matt.

Blake revira os olhos e faz uma careta para mim, como se novamente, eu estivesse perguntando o óbvio. 

- Eu trabalho aqui, já esqueceu? - Ele pergunta parando a alguns passos de distância. - Ou o Matthew já dominou seus pensamentos por completo e você não sabe mais quem sou eu? - Ele pergunta grosseiramente e se aproxima um pouco mais de Matt. 

Ah, é realmente estranho, mas também previsível que isso aconteceria. Mas aquela voz dele soa tão quente e sedutora aos meus ouvidos, que torna-se quase impossível não me recordar do momento magnífico que tive em minha primeira tarde na Austrália. Foi como se eu pudesse novamente, ter sentido exatamente aquele segundo maravilhoso que foi o minuto o qual gozei pensando em Blake Harper. 

OK, eu sabia muito bem que era um ato promíscuo e antiético da minha parte ter pensamentos obscenos com um homem que eu ainda não conhecia, sendo que eu já tinha um noivo que esperava por mim nos Estados Unidos. 

Eu me sentia sujo por isso, queria poder me bater por desejar um outro que não fosse o meu Charlie que tanto me amava imensamente. Eu não conseguia compreender a razão de sentir-me tão atraído por Blake Harper, em tal magnitude que toda minha mente fosse dominada pelo desejo de experimentar o toque de suas mãos ásperas em meu corpo enquanto fazíamos sexo. 

Não havia uma resposta que pudesse saciar meu questionamento para o meu próprio eu a respeito desse desejo que tomou conta de mim no primeiro dia em que Blake tocou em mim e me beijou repentinamente.

Aquele inesperado beijo, tão repentino, e que não teve absolutamente motivo algum para ocorrer, foi o que deu início no anseio que brotou em meu peito. Eu nunca esperaria ser beijado por alguém daquela forma. 

Nem sequer Charles, quando começamos a sair juntos, nunca me beijou daquele jeito. Foi totalmente uma ação desconexa da parte de Blake, que até então, eu não havia entendido a razão daquele beijo.

- Seria impossível alguém me fazer esquecer quem é você, Blake. - Respondo tentando não deixar transparecer minha ansiedade. 

Blake dá um sorriso de canto de boca, e me responde com uma piscadela daqueles deslumbrantes olhos azuis. 
Observar os olhos dele, é como estar próximo aos céus, eles são idênticos na cor, tão azuis que chegam a tirar meu fôlego.

- Fico feliz em ouvir isso, Cherry. - Ele diz com as mãos nos bolsos, seus braços estão sujos de terra e sua camiseta com marcas de grama outra vez. 

Matt ergue uma sobrancelha sem entender o que estamos falando porque para ele, é como se Blake tivesse dito alguma palavra em grego. 
O meu novo amigo não entende o significado de Cherry.