22 . A COLINA DO PESCOÇO QUEBRADO

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Blake aparece na sala seguido de uma garotinha de mais ou menos uns doze ou treze anos. Ela também é loira e de olhos azuis, e me pergunto se poderia ser mais um membro da família que ainda não conheço.

A garotinha caminha sorridente enquanto tagarela para Blake a respeito de um desenho animado que nunca ouvi falar, e o que não me surpreende é que Blake sequer dá a mínima enquanto a criança está falando, e parece pedir ajudar em seu olhar.

A garota carrega uma cesto cheio de maçãs verdes brilhantes e de aparência muito suculentas.

Blake usa um jeans surrado preto muito desbotado pelo tempo ou por uma lavagem errada, e uma camiseta azul bebê que realça seus olhos de uma forma inexplicável.

— Eu vou pedir para que a mamãe faça uma torta para nós, Blakey! Você não quer ficar para me ajudar a fazer a massa?  — Ela pergunta euforicamente com um sorriso que eu posso reconhecer muito bem porque é exatamente igual da Sra. Harper.

— Mamãe sempre me deixe misturar o açúcar e a manteiga enquanto ela fatia as maçãs.

Ela parece adorar a companhia de Blake, e sei por um breve espaço de tempo a sensação maravilha que é a presença dele.

No entanto, certamente, e muito obviamente, o afeto que a pequena criança sente por Blake não se trata daquilo que uma vez por muito pouco quase me deixei permitir a sentir.

Chega a ser estranho pensar que agora tudo o que sinto por Blake Harper se resume em um sentimento amargo de fúria e que me sinto traído por ele em um nível que sequer consigo explicar de maneira coerente.

A verdade é que, não cheguei a desenvolver por Blake sentimento algum além de uma tensão sexual inexplicável que me consumiu até o dia em que abri as pernas para ele.

Mas conhecendo meu coração como eu o conheço, sei mais do que bem que por conta da situação bombástica que vivi em Los Angeles, não iria demorar muito para que o desejo sexual se elevasse em um patamar acima de apenas sexo sem compromisso.

A falta de segurança em meu interior, resultado da relação mentirosa que vivi com meu pai a olhos cegos, me causou uma reação que jamais imaginei que teria.

Trair meu Charlie e praticamente quase me apaixonar por um alguém que somente merecia uma desprezo sem igual da minha parte.

Acredito que aos ouvidos de muitos, se eu contasse uma coisa dessas, que Shane e sua grande fraude foram o pivô do meu ato antiético, eles dariam risadas ou me julgariam como um garoto californiano mimado além da conta.

No entanto, acho que eu pouco me importaria com comentários maldosos de pessoas que seriam burras o suficiente para não compreender o meu lado e que cada um sente a aflição da comiseração diferente dos demais.

Isso é um fato. A realidade de um, infelizmente não é a do outro assim como também a dor de um não é a do outro. Não se deve colocar-se como juiz medidor de sofrimentos quando não se sabe o que se passa no coração daquele que está machucado.

— Você vai ajudar eu e a mamãe a fazermos a torta? Eu quero muito que você participe, Blakey! Já faz um bom tempo que não fazemos nada juntos... — Choraminga a garotinha já cansada de tentar acompanhar os largos passos de Blake e se colocando na frente dele que para abruptamente com os olhos arregalados e a boca torcida em um certo desgosto de irritação.

— Droga, Zoe! Eu já falei para você não fazer isso, caramba! — ele rosna se desviando o caminho dela e voltando a caminhar em direção as escadas.

— Blake! — Exclama a Sra. Harper indo até eles. — Não fale assim com sua irmã! — Ela exige apontando o dedo indicador no rosto de Blake que faz uma careta mimada. Chega a ser engraçado.

APPLE HARVESTOnde histórias criam vida. Descubra agora