26 . UM PRIMEIRO PASSO

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— Você não quer me contar o que houve? — Pergunto sem desviar minha visão da estrada parcialmente escura a minha frente que é parcialmente iluminada pelos faróis do Honda Accord de Blake.

Ele limpa um pouco de sangue que escorre de sua boca com a camiseta que já está escurecida pelo liquido vermelho. Eu me esforço ao máximo que posso para não desviar minha atenção para o peitoral e abdômen dele que estão expostos.

Tento focar minha atenção totalmente meu campo de visão no caminho o qual dirijo, para que minha mente não tome outro rumo e acabe se rendendo em meio a uma estrada escura e assustadora totalmente ao desejo fervoroso que queima e arde em meu interior.

— Eu não sei se quero falar sobre isso, Cherry. Você não precisa se preocupar comigo. Eu me preocupando contigo já está de bom tamanho. — Ele diz sem muita emoção e sei que terei de apelar para que ele abra o jogo comigo.

— Eu só quero te ajudar, poxa! Eu estou aqui por você! — Exclamo mas ele me ignora e volta sua atenção para a paisagem escura ao nosso redor.

— Já passou, Cherry. Deixe isso pra lá. Austin e eu nunca nos demos bem afinal de contas. — Ele dá de ombros e me arrisco dizer que ele está lutando contra o choro.

Qual seria o problema de ele me contar o que levou ele e Austin a uma troca de socos? Não seria vergonha alguma ele ser sincero comigo. Ele ainda não havia percebido que eu me importo com ele a ponto de me colocar entre uma briga para salvar a pele dele?

— Blake, se você se importa comigo, é obvio que eu preciso me importar com você. — Eu respondo em advertência a ele que bufa com irritação.

— Não, você não precisa se importar comigo, Cherry. Eu estou bem. — Ele diz com veemência quase até irritado.

Reviro os olhos e começo a reduzir a velocidade do carro quando avisto a casa da fazenda da minha tia.

— Por que eu não posso me importar com você? — Questiono tristemente e ele me fita boquiaberto e com piedade presente em seus olhos.

Começo a me sentir triste em saber que ele não quer que eu me importe com ele. O que eu deveria fazer para que esse homem perceba que eu estou aqui por ele disposto a fazer de tudo que esteja ao meu alcance para salvá-lo da tenebrosa escuridão que ele tem estado submerso?

— Porque eu não quero que você esquente a cabeça com preocupações idiotas ao meu respeito. Você é perfeito demais para se preocupar comigo, Cherry. — Ele diz baixinho com uma voz chorosa conforme vou estacionando o carro dele debaixo da árvore que fica em frente à casa de Naomi.

É difícil dizer mas posso quase ver de relance algumas lágrimas pequeninas escorrerem do seu rosto. Ele parece chorar em silêncio sem querer que eu veja sua dor. Por que é que não quer eu me importe com ele? Eu não sou tão perfeito tanto quanto ele acha que eu sou.

— Eu não sou perfeito, Blake. Eu só me preocupo com você porque tenho uma certa consideração por ti. — Respondo calmamente para ele que dá de ombros e continua a encarar a quente e calada noite que nos cerca.

— Só deixe isso pra lá, Cherry. Austin é um babaca filho da puta que se sente superior a todos por ter um pouco mais de dinheiro do que qualquer outra pessoa nessa cidade. — Blake comenta sem expressar muita emoção em sua voz.

Abro a boca para protestar ou ao menos falar algo que possa ser confortável e que Blake possa ouvir agora, mas é estranho quando permaneço calado enquanto ele apenas me fita com seu habitual misterioso e gélido olhar que me encanta.

— Vamos ficar aqui a noite inteira?! Não sei bem se eu conseguiria dormir de conchinha no banco de trás do meu carro. — Ele diz com malicia presente em sua voz que me provoca.

APPLE HARVESTOnde histórias criam vida. Descubra agora