APPLE HARVEST

16 . FLECHA FLAMEJANTE

— Estou com tantas saudades, gatinho. Parece que faz um ano que não te vejo. — Charlie diz me fitando com aqueles olhos que enchem meu coração de tristeza.

Por mais que estamos a quase treze mil quilômetros de distância, não posso deixar de sentir aquele peso que vem tomando conta do meu peito como se não somente meu coração, mas também todo meu corpo estivesse naufragando.

Posso dizer que me arrependo de ter deixado Blake me masturbar há vinte e um dias, mas admito que naquele dia, acabei por me deixar levar-me pela tentação muito dominante que não permitiu que eu negasse a caricia quente e imprópria de um homem que acabo de conhecer, sendo que estou compromissado em um noivado sério, com um juramento de um casamento no dia do meu retorno aos Estados Unidos.

Onde foi que eu estava com a minha cabeça por ter me permitido deixar Blake me masturbar? Eu amo Charles Ross, nenhum outro homem além do meu príncipe ruivo já tocou meu corpo, mas agora devo incluir Blake Harper nessa lista. 

Ele me tocou, puta merda, ele me tocou e eu gostei disto, mas não levou sequer doze horas para que eu fosse atingido pelo remorso e miséria da tristeza indescritível.

Me sinto sujo.

Imundo.

Perverso e louco, desgraçado e infame.

Eu traí o meu Charlie, permiti que outro homem pudesse tocar o lugar onde somente Charles Ross esteve até agora. Acho que nunca poderei superar isso, acho que nunca mais poderei olhar nos olhos de Charlie pessoalmente. Será que irei conseguir fazer sexo com ele quando nos vermos pela próxima vez?

VOCÊ TEVE UMA ESCOLHA... E ESCOLHEU DEIXAR-SE LEVAR PELA TENTAÇAO DO SEU PRÍNCIPE SAPO!

Ah! Eu quero poder apagar meu subconsciente... sempre esfregando em minha mente esse sermão desde o minuto em que caiu a minha ficha do erro que cometi.

Não tenho palavras suficiente para descrever o quanto chorei nas insones madrugadas desde aquele dia. 

Meus olhos sempre estão muito vermelhos quando me levanto pela manhã, o que faz com que eu minta para Naomi, alegando que apenas me mantive ocupado até altas horas da madrugada com alguns filmes de terror os seriados do fim dos anos noventa, e ligações de vídeo com Charles.

Tenho evitado Blake desde a manhã seguinte aquela tarde em que passamos vagamente no jardim secreto sob a cúpula. Sequer consigo olhar para o rosto dele, sei que é culpa minha, eu poderia muito bem ter dito NÃO quando ele tentou tocar meu pau, porém não o fiz. 

Tenho mantido as persianas do meu quarto fechadas, e também cobertas por alguns lençóis que encontrei no armário do meu novo quarto. Já foi o bastante ele ter me observado quando me masturbei pela primeira vez em meu dia de estreia em Melbourne. 

 Logo, eu não precisava que ele também me visse afogar-me em lágrimas grandes que encharcam meu travesseiro até que eu durma forçadamente pela imensa dor que me sufoca a ponto de causar-me falta de ar e me deixar roxo.

Consequentemente, por eu estar evitando a todo custo o meu impróprio vizinho, Blake tem tentado a todo custo falar comigo, parece sentir minha falta ou qualquer coisa parecida, talvez ele apenas queira fazer outro handjob em mim.

Quero poder sair de Apple Boulevard, voltar para a minha amada Los Angeles, e deitar nos braços de Charlie enquanto me afogo em uma gigantesca taça de sorvete de nozes com cobertura alcoólica de chocolate amargo. Esse costumava ser a sobremesa favorita de Shane. 

E por um curto espaço de tempo, admito que um abraço do meu pai é tudo o que mais quero.

Talvez ele pudesse me dizer que tudo ficaria bem, ele poderia me ouvir e o elefante em minhas costas seria retirado. Mas estou sozinho, sozinho em uma pais que não conheço, com uma tia que apesar de muito amar, não sei se me sentiria confortável em compartilhar tal informação.