47 . DOR ( RETA FINAL )

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Dimitri volta com a garrafa do champanhe rosé e sorri para mim me dando uma piscadela amigável mas também misteriosa que por muita sorte passa desapercebida pelos olhos do meu Charlie Ross. Ele nos serve atentamente e desta vez, Charlie agradece o feito dele e Dimitri parece surpreso com a ação do meu noivo que há minutos atrás, o tratou como se ele fosse menos do que um cão.

Charlie teve seus motivos que apesar de serem bobos, ainda assim, ao menos, serviram como uma pequena desculpa. Ele sabia mais do que bem que eu não gostava quando ele tratava os demais com arrogância ou estupidez.

Mas agora, eu não estava com tempo para pensar o quão supérfluo meu noivo costuma ser com aqueles que são de uma classe inferior a dele.

A carta ou o que quer que seja que recebi de Shane Daramour me desestruturou por inteiro. Era quase como se meu coração estivesse preso em minha garganta me impedindo assim, de respirar corretamente. Uma dor intensa e atordoante dominava meu peito me fazendo querer ter o poder de desaparecer da vista e da proximidade de todos. Tudo isso se devia apenas a dor do luto que estava de volta para ser sentida mais uma vez até que eu aprendesse a superar a perda precoce daquele único que cuidou de mim desde os meus quatro anos.

Ainda era tão difícil aceitar que meu pai havia cometido suicídio.

Eu não o julgava, bom, na verdade, eu não sabia exatamente o que eu deveria ou não pensar em relação a isso. Mas era doloroso lembrar-me que muito possivelmente, a razão a qual levou meu pai a cometer tal ato contra si próprio, era simplesmente o fato de que ele reconhecia que por mais que ele conseguisse a liberdade depois de seus crimes de estelionato, de um jeito ou de outro a América não esqueceria quem era ele já que seu negócio era conhecido em todo o país.

Meu pai se foi para todo o sempre. Será que ao menos um dia eu poderia aceitar essa minha condição? Eu amava Shane, e admito que por um curto espaço de tempo, esqueci-me que ele estava morto já que em meu coração era como se a sua presença estivesse sempre próxima de mim.

Mas ai, quando recebi a carta que Charlie trouxe, foi como se mais uma vez, eu recebesse o telefonema que também veio do meu noivo, me contando o ocorrido que ceifou a vida de Shane.

— Vocês já decidiram o que vão pedir? — Dimitri pergunta me fazendo despertar-me do meu pequeno transe emocional da terrível e abominável dor do luto.

— Vou querer um risoto de salmão e ervilhas, por gentileza. — Charlie diz sem olhar para o cardápio. — E para sobremesa, uma éclair de chocolate com baunilha.

Acredito que no tempo o qual passei submerso em meus pensamentos sobre Shane, foi o bastante para que ele pensasse no que irei comer.

Dimitri anota o pedido em seu bloco de notas, fitando Charlie com um olhar estranho como se estivesse diante de algo incógnita.

Eu não o julgava por isso já que Charlie no início agiu feito um babaca com nosso garçom.

— E você gatinho? Sabe o que vai querer? — Charlie pergunta docemente para mim.

Eu pisco e olho para o alto. Dimitri me olha com piedade ainda esboçando um doce sorriso meigo no rosto.

Engulo em seco e apanho o cardápio para pedir qualquer que seja o prato que eu veja assim que meus olhos baterem no menu.

— E então? — Dimitri me pergunta calmamente sem se importar com a presença de Charlie.

Passo os dedos no menu e mordo os lábios pensando naquilo que deve ser o meu jantar.

Meu estômago não parecia muito disposto a digerir sequer um cupnoddles de vegetais, quem dirá os pratos daquele restaurante, contudo, apenas para acompanhar Charlie, decido pedir algo e escolho a carne.

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