Capítulo 1

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Gwyn respirou fundo, uma tentativa de acalmar os sentimentos, mas as lembranças do Rito continuavam a atingindo. Todo o horror, o sangue, as mortes... Ela havia vencido, precisava se lembrar disso, mas a tentativa geralmente se tornava fracassada. Entre os treinamentos, o trabalho na biblioteca e as noites na companhia de Neshta e Emire, podia convencer a si mesma de que tudo estava bem – de que ela estava bem – mas ao colocar a cabeça no travesseiro as lembranças se tornavam arrebatadoras.
Faltava uma semana para a cerimônia de parceria de Neshta e Cassian, e Gwyn ainda não fazia ideia se conseguiria sair da casa. Dizia a si mesma que precisava, que podia fazer por Neshta o que não conseguiu fazer por Catrin, que seria corajosa. Um passo de cada vez, era disso que precisava. Determinada, saiu do seu dormitório na biblioteca e se dirigiu ao ringue de treinamento em uma tentativa de lembrar a si mesma de que havia vencido e estava viva – mesmo que no fundo, não acreditasse nem por um momento ser digna.

Azriel se dirigiu a casa do rio, era tarde, mas havia recebido a ordem de Rhys de reportar o que encontrou nas terras humanas

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Azriel se dirigiu a casa do rio, era tarde, mas havia recebido a ordem de Rhys de reportar o que encontrou nas terras humanas. Seria mais uma reunião inútil. Assim que posou na casa, pôde observar as luzes acesas do quarto de Elain e se deteve por um segundo.
Azriel. – Ouviu a voz de Rhys em sua mente, distraindo-o de seus pensamentos. Se dirigiu até a porta do escritório e entrou sem bater.
– Você não precisa me tratar como uma criança, Rhys. Não me lembro de ter desobedecido nenhuma ordem sua. – Disse enquanto se sentava em frente ao seu irmão e Grão-Senhor.
– Não se trata de obedecer, Az, antes de tudo, você é meu irmão. Só quero garantir que entendeu. – Azriel não respondeu, não sabia o que responder. A conversa com Rhys no solstício de inverno não foi agradável e a princípio, sentiu raiva do irmão por não entende-lo, mas nem mesmo ele conseguia entender os próprios sentimentos. A verdade é que não conhecia Elain, tudo que sentia – ou achava sentir – era fruto de uma expectativa infundada de que o Caldeirão o havia presenteado da mesma forma que fez com Rhys e Cassian.
– Você não solicitou a minha presença para falar sobre isso, Rhys. Vamos direto ao assunto. – Rhys apenas assentiu.
– Encontrou algo?
– Não, ainda não há nenhum movimento do Korshei ou das rainhas humanas. Estamos perdendo tempo. Se você...
– A ordem ainda é a mesma, Azriel. Não vamos arriscar.
– Já estamos arriscando, Rhys. – Disse Azriel.
– Assunto encerrado. – Pelo tom, Azriel sabia que não adiantaria discutir e apenas assentiu.
– Como quiser... – Antes que pudesse se levantar, ouviu um pequeno choro no andar de cima que o deteve e não pôde conter o sorriso em seu rosto.
– Se eu soubesse que Nyx era o único capaz de desfazer esse seu mau humor, teria trazido ele para nossa pequena reunião. – Disse Rhys se levantando. – Vamos, não chamei você aqui apenas para assuntos oficiais, Feyre e Nyx estão com saudades.
– Apenas Feyre e Nyx, hein? – Brincou Azriel enquanto seguia Rhys escada acima. Encontrou Feyre na varanda da casa com o sobrinho aninhado nos braços enquanto o balançava.
– Azriel! – Exclamou Feyre ao abrir um largo sorriso para ele, que retribuiu com os olhos fixos em Nyx.
– Alguém está dando trabalho? – Perguntou ao se aproximar a ver o sobrinho um pouco agitado.
– Você nem imagina... Ele é igual ao Rhys. Não fica parado um minuto. – Todos olhavam para o menino com completa adoração, afinal, ele era um milagre.
– O que acha de passar a noite, Az? Você pode ajudar Feyre com os preparativos da cerimônia de Cass e Neshta. – Azriel olhou perplexo para o irmão.
– Eu? Você quer minha ajuda para organizar a cerimônia de parceria? – Perguntou completamente incrédulo. Feyre conteve um sorriso, mas Rhys não conseguiu segurar a gargalhada que saiu da sua boca.
– Eu disse a você que ele ficaria completamente apavorado com a ideia. – Disse Rhys entre as gargalhadas.
– Esperava mais do meu mestre espião, Az. – Disse Feyre. Azriel sorriu junto, mas o seu peito apertou. Não eram os preparativos que o deixavam nervoso, mas o que a cerimônia de parceria significava para ele. Se alegrava profundamente da felicidade de Rhys e Cassian, mas não podia negar que a realidade enfrentada por Az em suas noites completamente solitárias era quase esmagadora. Dizia a si mesmo que entendia, afinal, seus irmãos mereciam aquela felicidade, mas no fundo ele sabia que jamais poderia ter aquilo, nunca foi digno, e nunca seria.
– Preciso ir! – Disse e percebeu que Rhys notou a sua mudança, mas se despediu antes que pudesse ser alvo de mais perguntas.

Gwyn estava ofegante e suada

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Gwyn estava ofegante e suada. Sua sessão noturna de treinos havia durado mais do que o esperado, e ela se deitou no chão, olhando para o céu de Velaris. Era lindo, e a visão ainda tirava o seu fôlego. Após alguns minutos deitada, ela se levantou e se dirigiu os limites do área de treinamento que ficava no alto da casa.
Catrin teria adorado Velaris. – Disse a si mesma ao olhar para baixo com os olhos turvos de lágrimas. Não conseguia entender por que ela havia sobrevivido se tinha sido tão covarde. Lágrimas passaram a cair do seu rosto e em um impulso, ela subiu no muro, sentindo o vento no rosto.
Eu não mereço essa vida. – Repetiu essas palavras enquanto respirava o ar frio. Não sabia se começou a tremer pelo frio, pela altura ou pelos traumas que havia colecionado. Por um segundo, fechou os olhos com força e pensou que seria mais fácil simplesmente... Antes que pudesse concluir o pensamento, sentiu uma mão em seu pulso a puxando do parapeito e se debateu ao cair contra um corpo firme.
– Gwyn! Gwyn! Sou eu, Azriel... sou eu! – Ouviu e finalmente parou de se debater. Levantou a cabeça e encontrou os olhos arregalados de Azriel.
– O que você estava fazendo? – O tom de voz que ele usou era diferente de todos que ela ouviu durante os meses de treinamento, mais urgente e livre de todo o cuidado que ele usava ao falar com as sacerdotisas. Nesse momento, Gwyn notou que estava sobre ele, notou as duas mãos de Azriel em sua cintura enquanto a segurava firmemente.
– Gwyn, você estava pensando em... – Disse Azriel, dessa vez com mais cuidado, quase como um sussurro.
– Não! Claro que não! – Respondeu saindo apressadamente de cima de Azriel. Poucos segundos depois ele estava de pé na frente dela, os olhos grudados ao seu.
– Gwyn... – Pena, ela só conseguiu ver pena no olhar que ele dirigia a ela.
– Eu só estava... precisava respirar um pouco. – Respondeu abraçando o próprio corpo.
– Em cima do parapeito? – Gwyn se forçou a encara-lo nos olhos e demorou alguns segundos para assentir com a cabeça.
– Gwyn, eu vi você...
– Eu só estava respirando, só isso. Agradeço se você não comentar nada disso com Neshta ou Cassian. – Respondeu forçando um sorriso. Azriel continuava com os olhos fixos aos dela. – Boa noite, encantador de sombras. – Disse rapidamente ao se retirar. Gwyn desceu as escadas e mesmo sabendo que Azriel não estava mais com a vendo, podia sentir a presença dele em volta de si. A noite tinha sido um desastre e agora teria que lidar com um de seus instrutores achando que ela não podia lidar com seus traumas.

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