Corte de Segredos E Beleza

Capítulo 7

Alguns dias haviam se passado desde a cerimônia de parceria de Cassian e Nestha. Os treinos foram interrompidos por um curto período, Cassian teria alguns dias ausente, juntamente com Neshta, e Azriel estaria em missão. Gwyn aproveitou o tempo para se aprofundar na pesquisa com Meril, mas os dias não eram mais os mesmos. Ela sentia falta das amigas e dos treinos. Finalmente era o dia do retorno, e ela estava tão animada que chegou antes do horário oficial. Encontrou Nestha sozinha e correu em direção a amiga, que a recebeu com o largo sorriso.
– Achei que Cassian não devolveria você. – Declarou Gwyn, abraçando-a com força.
– Bem que ele queria. – Brincou. – Gostaria tanto de te agradecer... – Nestha segurou as mãos de Gwyn.
– Não precisa... Eu fiz por mim! Eu precisava daquilo. – Admitiu Gwyn. – Claro que também fiz por você. – Nestha olhava confusa. – Você me inspira tanto, Nestha! Nunca serei grata o suficiente por tudo que você fez por mim, e a princípio, quis que aquilo fosse uma forma de agradecimento... Mas percebi que cantar poderia me libertar de algo que eu carrego a tanto tempo. E libertou.
– Ah Gwyn! Estou tão feliz por você. – Nestha tinha lágrimas nos olhos, mas o seu sorriso era radiante. Gwyn sabia que ela entendia.
– Espero que vocês não estejam falando de mim. – Interrompeu Cassian, acompanhado de Azriel, ambos exibiam hematomas. Gwyn abriu um sorriso tímido e preocupado para ele, que retribuiu. Era a primeira vez que se viam desde a noite no terraço.
– O que aconteceu com vocês? – Perguntou Gwyn, vendo que Nestha havia revirado os olhos ao seu lado.
– Nem queira saber, Gwyn. – Respondeu Cassian.
– Sabe... Eu até pensei ter sentido a sua falta, Cassian. Mas acabei de perceber que me enganei completamente. – Ele riu e abriu os braços para que Gwyn pudesse abraça-lo. Ela exitou por um segundo, ainda não era natural tocar em outros machos, mas Cassian era seu amigo e ela sabia que poderia confiar a sua vida a ele. Por isso, ela o abraçou timidamente. Mais uma vitória. Cassian exibia um sorriso tão largo que Gwyn se surpreendeu, e Nestha tentou enxugar uma lágrima que escorreu por seu rosto. Azriel olhava fixamente, e Gwyn pôde ver admiração em seus olhos. Seus amigos... sua família. Eles entendiam.

A missão de Azriel foi uma completa perda de tempo, mais uma vez. Ele não podia acreditar que Rhys continuaria sendo tão estupidamente cauteloso.
– Cassian chegou. – Anunciou Rhys. – Teremos que ajudar alguém a se preparar para devolver Nestha a civilização. – Brincou o irmão. Azriel sorriu e caminhou ao lado de Rhys rumo ao ringue que havia na Casa do Rio. Ao vê-los, Cassian se atirou em direção a eles, envolvendo-os em um típico abraço apertado. Pouco tempo depois eles já estavam sem camisa, com espadas em mãos e completamente envolvidos em um combate. Rhys e Azriel não pegaram leve com Cassian, sabiam que ele precisava descarregar as energias antes de retornar as suas atividades normais, mas no final das contas, eles o deixaram ganhar.
– Então, preciso saber o que aconteceu de bom na minha ausência? – Perguntou Cassian. – Ou posso presumir que isso seria impossível sem a minha presença?
– Azriel está se comportando como a merda de um velho irritado, mas isso não é novidade. – Disse Rhys. Azriel sabia que era uma referência ao dia da cerimônia, mas ele e Rhys não haviam tocado no assunto. Por um lado, ele ficou grato pelo irmão ter escolhido aquele momento para falar sobre isso. 
– O que isso significa, Az? – Cassian olhava confuso, mas Azriel apenas respirou fundo.
– Signfica que eu estive muito perto de socar a cara do Lucien. – Admitiu.
– Você está sempre muito perto de socar a cara dele. – Disse Cassian. Era verdade.
– Elain pediu para conversar comigo. – Cassian não sabia do evento do solstício, e Azriel tinha certeza que Rhys manteve em segredo, mas Cassian o conhecia o suficiente para saber que ele agia diferente perto de Elain. – Fomos conversar no terraço da Casa do Rio. – Azriel pôde ver quando Cassian supôs que algo havia acontecido. Seu rosto ficou completamente pálido. – Nada aconteceu, mas estávamos sozinhos e Gwyn impediu que Lucien nos visse. – Ele não daria mais detalhes da noite. Rhys e Cassian eram seus irmãos, mas eram raras as ocasiões em que Azriel compartilhava tudo com eles. Após as centenas de anos que passaram juntos, os seus irmãos aprenderam a deixá-lo livre para escolher o que e quando iria compartilhar, e ele sempre foi grato pela compreensão.
– Gwyn? Gwyn impediu Lucien? – Cassian parecia completamente confuso.
– Ela o distraiu. – Disse Rhys, percebendo o desconforto de Azriel.
– Estou surpreso. – Declarou Cassian. Ela causa esse efeito, pensou Azriel. Pela sua expressão, os irmãos sabiam que o assunto estava encerrado.
– Nyx precisa de mim... Quando estiver mais calmo, quero você em casa, Cassian. Você também, Az. Feyre está com saudades e precisamos de uma reunião familiar. Avise a Nestha, Cass. – Informou Rhys.
– Reunião familiar? – Questionou Cassian.
– Não posso ter saudades dos meus irmãos? – Brincou Rhys, dando as costas. Azriel e Cassian voaram rumo a Casa do Vento, e encontraram Nestha e Gwyn de mãos dadas. Ela sorriu, e exibia a mesma leveza de dias atrás. Azriel viu quando Gwyn notou seus hematomas, fruto da luta com seus irmãos, e um lapso de preocupação passou pelos olhos dela. Não tinha como não se surpreender por Gwyn se preocupar com ele. Ouviu a implicância com Cassian, mas não esperava ver o irmão abrir os braços e convida-la para um abraço. Azriel prendeu a respiração. Sabia o que aquilo significava para Gwyn. Ela já havia sido tocada por Cassian antes, até mesmo por ele. Mas um abraço... aquilo era diferente. Gwyn se deteve por um segundo, e Azriel esperou que ela recuasse, mas ela se dirigiu a Cassian e o abraçou. Todos ali sabiam o que aquilo significava para ela. Ele não tirou os olhos de Gwyn, não conseguia, mas sabia que Nestha estava enxugando lágrimas que escorreram pelo rosto, e aquilo não o surpreendeu. O próprio Azriel sentiu seu corpo reagir ao momento, e suas sombras voaram até Gwyn quando ela se separou de Cassian, que sorria largamente. Gwyn não notou imediatamente, mas quando percebeu, direcionou um sorriso a Azriel e levantou as mãos para tocar uma de suas sombras. Por algum motivo, Azriel poderia jurar que sentiu aquele toque no seu corpo, e estremeceu.

Cassian decidiu pegar leve durante o treinamento, e Gwyn estava completamente concentrada nos socos que dava na espuma que envolvia a árvore. Golpe atrás de golpe. Era um exercício comum, mas ela se sentia mais forte do que nunca. Percebeu quando Azriel se aproximou e começou a avalia-la. Ele exibia um discreto sorriso.
– Você está projetando mais o soco do lado direito. – Declarou. Gwyn repetiu o movimento duas vezes antes de encara-lo.
– Não estou. – Disse. Azriel levantou as duas sobrancelhas.
– Você está. – Afirmou. Gwyn deixou que um leve sorriso tomasse o seu rosto antes de repetir o movimento mais uma vez.
– Estou convicta de que o meu movimento está perfeito. – Azriel riu baixinho. – Você está zombando de mim, encantador de sombras? – Perguntou, fingindo estar ofendida.
– Jamais faria isso. Mas preciso alerta-la de que o movimento está muito bom, porém não perfeito. O soco do lado direito está mais projetado. – Repetiu a orientação. – Deixe-me desmostrar. – Gwyn se afastou um pouco para observar, e viu quando Azriel acertou dois socos em sequência. Um movimento perfeito. – Viu? – Perguntou. Ela assentiu, não querendo admitir que estava errada. Tomou a sua posição e repetiu o movimento de Azriel.
– Perfeita. – Sussurrou. Gwyn arregalou os olhos e o encarou. – O movimento... O movimento foi perfeito dessa vez. Parabéns. – Ele esclareceu rapidamente e Gwyn segurou um sorriso. Era engraçado vê-lo tão constrangido.
– Obrigada. – Disse. Ela repetiu o movimento e ele continuou avaliando-a em completo silêncio.
– Gwyn... – Ele começou quando ela terminou a sua série, e o olhou nos olhos. – Estou orgulhoso de você. – Antes que ela pudesse responder, ele já havia se retirado. Gwyn sabia que ele não se referia aos seus socos.