Capítulo 18

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Faziam dez dias desde que Gwyn encontrara com Azriel pela última vez, e não tinha como negar que sentia falta dele. A presença do encantador de sombras se tornou constante, e a ausência foi mais dolorosa do que o esperado. Para ser sincera, Gwyn não imaginava que a missão na Corte Estival iria demorar tanto, e uma parte dela gostaria de estar com ele, mas a outra parte de Gwyn questionava se Azriel não a estava evitando. Havia passado a conhecer bem demais as reações de Azriel, e não seria uma surpresa se após os momentos que eles compartilharam juntos, ele decidisse simplesmente evita-la. O encantador de sombras mostrou-se capaz de se abrir, e mais do que ninguém, Gwyn entendia a dificuldade de se deixar ser visto, mas ela queria que Azriel soubesse que ele sempre seria visto por ela. Gwyn queria que ele soubesse que nela, havia um lugar seguro, assim como ela encontrou nele o seu.
– Vocês estão prontas para hoje? – Perguntou Cassian. Elas estavam prontas, mas nada poderia prepara-las para a imprevisibilidade que seria treinar com as tropas Illyrianas no Refúgio dos Ventos. Elas se entre olharam, e não responderam. Aquela manhã estava especificamente mais silenciosa. Não haviam brincadeiras ou risadas, apenas a apreensão das fêmeas que venceram o Rito. – Se vocês não se sentem... – Continuou Cassian, notando a insegurança 
– Não! Nós estamos prontas. – Garantiu Emerie.
– Vocês chegaram ao topo do Ramiel. Não vamos sair daqui até que as três tenham uma postura de quem venceu o Rito. Se vocês se deixarem abater, então eles venceram. É isso que vocês querem? – Perguntou Cassian, e Gwyn sentiu o peso das palavras. Elas venceram.
Eu sou a rocha contra a qual as ondas quebram. – Disse Gwyn, recitando a frase que se tornou uma convocação.
Nada pode nos quebrar. – Finalizaram as três, em uníssono. Elas estavam prontas.
– Quero que saibam que eu estou orgulhoso. – Disse Cassian, exibindo um sorriso encorajador.

Após dez dias, Azriel estava de volta a Velaris

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Após dez dias, Azriel estava de volta a Velaris. Poderia ter retornado antes, sabia disso, mas precisava de tempo. Antes, dez dias não seria nenhum sacrifício, mas parecia que tudo havia mudado. Durante o tempo que estava fora, pensou em tudo que tinha deixado para trás. Pensou em Gwyn, no seu sorriso leve e nos seus olhos expressivos.
– Fico feliz que tenha retornado para nós, Az. – Disse Feyre ao recebe-lo na Casa do Rio.
– Foram apenas dez dias, Feyre. – Respondeu, em tom de brincadeira.
– Bom, não é isso que seu rosto diz. Você parece cansado. Deve ser a idade... – Provocou. Ele sorriu.
– Foram dez dias difíceis. A propósito, você está ótima. Não a vejo com uma cara tão péssima desde que a ensinei a voar. – Disse, devolvendo a provocação.
– As vezes acho que você tem ensinado o meu filho como destruir uma fêmea. – Brincou Feyre.
– Vocês estão contando fofocas na minha ausência? – Disse Rhys, interrompendo-os.
– Apenas falando sobre o quanto vocês estão velhos. – Respondeu Feyre. O irmão lançou um olhar provocador até a parceira, e Azriel pigarreou, lembrando-os de sua presença.
– O que nos diz, irmão? – Perguntou Rhys, referindo-se ao tempo que passou na Corte Estival.
– Beron não parece estar se preparando para agir contra a Corte Estival, mas defitivamente está monitorando os movimentos de Tarquin. – Informou Azriel.
– Nestha e Cassian tiveram um encontro com Eris, e ele garantiu a sua lealdade a Corte Noturna, por enquanto. Mas não podemos confiar nele como antes. – Disse Rhys.
– A lealdade de Eris é sempre "por enquanto" , mas nós ainda precisamos dele. – Lamentou Feyre.
– Algum sinal de influência da coroa? – Perguntou Rhys.
– Não. Nenhum soldado da Corte Outonal parece estar monitorando os movimentos na Corte Estival por influência da coroa. – Esclareceu Azriel.
– Avisaremos a Varian. – Disse Feyre, e Azriel assentiu.
– Cassian está treinando as sacerdotisas? – Perguntou o encantador de sombras, após informar a Rhys e Feyre sobre todos os detalhes da missão.
– Não hoje. – Disse Rhys. Azriel levantou as sobrancelhas, em sinal para que o irmão continuasse.
– Elas foram treinar no Refúgio dos Ventos. – Completou Feyre. Ele respirou fundo. Odiava aquele lugar e fazia o possível para não colocar os seus pés ali, mas ao pensar em Gwyn, tudo que ele quis foi atravessar diretamente para lá. Rhys e Feyre se olharam, e Azriel adotou a sua postura mais neutra.
– Querido, gostaria de conversar em particular com Azriel. – Disse Feyre.
– Claro, Feyre querida. – Respondeu Rhys ao deixar o escritório e lançar um olhar de "boa sorte" até Azriel.
– Como você está, Az? – Perguntou Feyre. Ele sabia que ela o estava distraindo para perguntar aquilo que realmente queria.
– Você pode fazer melhor, Feyre. – Respondeu o encantador de sombras. Feyre sorriu.
– Você é meu irmão também, Az. Sabe disso, não sabe? – Perguntou a grã senhora. Ele assentiu e ela continuou. – Na noite anterior a sua partida para a Corte Estival, eu fui até o quarto de Elain... Ela não estava lá. – Azriel sentiu o seu corpo ficar tenso, mas manteve a postura neutra. – Quero que saiba, Az, que se você a amasse e Elain assim desejasse, se ela tivesse negado a parceria com Lucien e escolhido você, eu daria minha bênção. Mas não acho que você a ama. Sabe, Az, amar Rhys me ensinou que eu não preciso esconder nem mesmo as partes que considero deformadas. Você merece alguém que o ame por quem é. Que o ame não apesar das suas sombras e cicatrizes, mas por causa delas. E eu acho que você encontrou alguém assim... Rhys me pediu para não me meter, mas somos uma família e eu gostaria de vê-lo feliz. Não se sinta pressionado, por favor, mas se precisar de alguém para conversar, saiba que eu estou aqui. – Finalizou Feyre, e ele não sabia o que dizer. Não podia ignorar as lembranças de Gwyn. De suas sombras dançando em volta dela, ou do doce beijo que Gwyn depositou nas mãos cheias de cicatrizes que Azriel tanto tentava esconder. Ele colocou as duas mãos no rosto e apoiou os braços nos cotovelos.
– Eu sei que é difícil entregar o nosso coração a alguém quando estamos feridos, Az. Mas posso garantir que tudo foi mais fácil com Rhys. Parece que toda dor e esforço vale a pena – Disse Feyre, colocando uma das mãos no braço de Azriel. Ele respirou fundo e assentiu. Naquele momento, Azriel soube onde deveria estar.

Gwyn pingava de suor e tudo no seu corpo parecia doer, mas ela continuou executando cada um dos exercícios que Cassian direcionava a toda a tropa

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Gwyn pingava de suor e tudo no seu corpo parecia doer, mas ela continuou executando cada um dos exercícios que Cassian direcionava a toda a tropa. Não estava sendo fácil. A cada minuto, ela ouvia risadas, piadas e ameaças dos Illyrianos, mas de alguma forma, conseguiu silencia-los em sua mente. Tudo que existia era a voz de Cassian e suas amigas ao seu lado.
– Descansar! – Disse Cassian. Os machos obedeceram. Alguns caíram no chão, outros resmungavam xingamentos ao general. Gwyn viu Emerie desabafar no chão, enquanto Nestha se apoiava nos joelhos. A sacerdotisa imitou o movimento da amiga, respirando fundo. Ela poderia vomitar a qualquer momento. Elas se deitaram no chão e iniciaram o seu resfriamento, com alguns machos em volta fazendo o mesmo.
– É normal querer matar Cassian nesse momento? – Perguntou Emerie, sentando-se.
– Completamente normal. – Respondeu Nestha.
– Não sei se vou conseguir andar por alguns dias. – Disse Gwyn ao se colocar de pé.
– Sei que não deveria ouvir a conversa alheia, mas concordo com tudo que vocês disseram. – Falou um macho ao lado de Gwyn.
– Ei! Eu conheço você. Balthazar, certo? – Perguntou Nestha. O macho assentiu com a cabeça, e estendeu a mão para ajudar Nestha a se levantar. – Fico feliz que você tenha sobrevivido. – Emerie e Gwyn se olhavam, confusas. – Ah, me desculpem. Balthazar me ajudou durante o Rito. – Esclareceu Nestha.
– Ouvi falar de uma Illyriana e de uma sacerdotisa que chegaram ao topo do Ramiel. Meus parabéns. – Disse Balthazar. Gwyn sorriu, surpresa pela falta de hostilidade em um macho illyriano.
– Acho que nos conhecemos, mas eu estava desmaiada. Me desculpe por não lembrar. – Brincou Emerie.
– Posso relevar. – Respondeu Balthazar, antes de lançar um olhar curioso até Gwyn, que retribuiu com um sorriso. – Acredito que você seja a sacerdotisa. – Completou o macho.
– Você acertou. Prazer, Gwyn. – Disse a sacerdotisa, apresentando-se. Balthazar sorriu novamente, avaliando a mão que Gwyn o ofereceu. O macho apertou a mão dela, demorando um pouco mais do que o necessário. Gwyn sentiu um cheiro familiar, e um arrepio percorreu o seu corpo. Era o cheiro de Azriel. Ótimo, agora ela sentia tanta falta dele que passou a sentir o seu cheiro. Antes que pudesse se virar para conferir o ambiente, uma mão foi colocada em suas costas gentilmente. Ela não precisava virar para saber de quem era aquele toque.

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