Capítulo 9

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Os olhos de Gwyn brilhavam em completa admiração. Tudo para ela era novidade, e a cada esquina ela dava uma risada. Azriel caminhou ao seu lado, atento a qualquer desconforto aparente, mas tudo que pôde ver foi alegria. A cada cinco minutos Gwyn fazia uma nova pergunta a ele, desde a arquitetura e história de Velaris, até as trivialidades do funcionamento da cidade. Já era noite e eles andavam por uma praça conhecida pela forte presença de artistas e músicos, um deles ensaiou alguns acordes no instrumento. Gwyn parou abruptamente e Azriel sentiu o corpo ficar rígido.
– Você quer retornar? – Ele perguntou, preocupado. Gwyn parecia completamente absorvida pelas imagens e sons, até que Azriel percebeu a música. Estava tão acostumado com a cidade que não havia se dado conta. A canção descrevia a história de um macho que se encantou ao ver uma bela fêmea lavar os cabelos negros a beira do rio.
– Nós éramos gêmeas, mas ela tinha os cabelos escuros. Lembro-me que na nossa infância ela dizia amar o vermelho dos meus cabelos, e eu costumava cantar essa música. Era uma forma de dizer o quanto ela era linda e encantadora. Catrin poderia facilmente ser a fêmea que inspirou essa canção. Tão bela que faria qualquer macho apaixonar-se com um ato tão simples quanto lavar os cabelos. – Os olhos de Gwyn exibiam uma tristeza tão profunda que Azriel sentiu o seu coração doer. Sem pensar muito, ele se aproximou, ficando com a boca a poucos centímetros do ouvido dela, e começou a cantar a música em um tom tão baixo que apenas Gwyn poderia ouvir. Ela não se assustou, apenas fechou os olhos com força e o acompanhou. Eles continuaram até que a melodia se calou.

Gwyn não sabia ao certo o que aquele momento tinha significado, mas guardaria para sempre a imagem de Azriel ao lado dela, cantando em seu ouvido a mesma música que ela cantava para Catrin

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Gwyn não sabia ao certo o que aquele momento tinha significado, mas guardaria para sempre a imagem de Azriel ao lado dela, cantando em seu ouvido a mesma música que ela cantava para Catrin. Cantar na cerimônia de parceria de Nestha e Cassian foi capaz de libertar Gwyn, mas cantar ali, ao lado de Azriel, sem que ninguém além deles pudesse ouvi-los fez com que o última ferida do seu coração finalmente se fechasse. Ali, Gwyn não se sentiu incompleta. A canção chegou ao fim, e ela virou para olhar Azriel nos olhos, ele tinha a mesma expressão que ela. Gwyn ficaria ali para sempre, em silêncio com os olhos fixos ao dele. Sabia que deveria falar alguma coisa, mas simplesmente não conseguia. Ele sorriu e muito delicadamente tocou a mão dela. O toque foi tão suave e breve que Gwyn achou ter imaginado. De alguma forma, ao toca-la ele pareceu despertar e se afastou devagar, quebrando o contato visual. Ela imitou o movimento e encarou os próprios pés.
– Acho que podemos ir. – Declarou Gwyn. Ele assentiu e rapidamente a pegou no colo. Poucos segundos depois eles estavam de volta a Casa do Vento. Azriel tentou se despedir com um aceno de cabeça, mas antes que pudesse se deter, Gwyn o segurou pela mão. Ela não imitou o toque dele de momentos antes. Enquanto Azriel a tocou tão suavemente, Gwyn o segurou com firmeza. Ele parou imediatamente e respirou fundo antes de se virar novamente para ela.
– Desculpe... – Ela disse, soltando a sua mão. – Só gostaria de agradece-lo por hoje. Foi muito importante para mim. – Azriel não respondeu, apenas assentiu mais uma vez e Gwyn continuou em silêncio. Não sabia o que havia acontecido, mas aquela canção mudou algo não só dentro dela, mas entre eles.
– Boa noite, Gwyn. – Declarou Azriel ao se distanciar.

Pelo Caldeirão! O que ele estava fazendo? Azriel ficou tão assustado com ele mesmo que não foi capaz de dizer mais nada a Gwyn

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Pelo Caldeirão! O que ele estava fazendo? Azriel ficou tão assustado com ele mesmo que não foi capaz de dizer mais nada a Gwyn. A sacerdotisa o encantava em todos os sentidos. Ele admirava a força, a pureza, a coragem e a sinceridade de Gwyn. Até mesmo a sua teimosia era encantadora. Não! Não podia pensar assim. Já havia errado com Elain, não suportaria errar com Gwyn. Por isso, fez o que sempre jurou não fazer, fugiu. Seria incapaz de permanecer na Casa do Vento naquela noite, por isso, foi até a Casa do Rio. O relacionamento com Rhys não estava em seus melhores termos, mas Azriel precisava fazer algo.
– Senti que você estava chegando. Aconteceu algo? – Perguntou o irmão assim que ele pousou.
– Você precisa acabar com isso, Rhys. Chega dessa merda. Continuar me dando as mesmas missões não vai evitar uma guerra, você precisa fazer algo. Eu preciso fazer algo. – Azriel tentou justificar o momento se ocupando dos assuntos políticos que enfrentavam naquele momento de instabilidade.
Azriel! O que aconteceu? – Perguntou novamente.
– O que aconteceu é que você está sendo um completo idiota. Essas missões não estão levando a lugar nenhum. – Azriel jamais havia falado com Rhys sobre assuntos políticos dessa forma.
– Irmão, vou perguntar pela última vez antes de levá-lo para o ringue e socar a sua cara. O que aconteceu? – Azriel sabia o que Rhys estava fazendo, e o irmão deu exatamente o que ele precisava. Azriel decolou em um salto e Rhys o seguiu. Em um piscar de olhos, eles estavam se enfrentando no ringue. Azriel colocou todas as suas frustrações, dúvidas e confusões em cada soco que disparou. Rhys estava fora de forma, mas quando eles caíram no chão, exausto, ele se sentia melhor.
– Então... está pronto para falar? – Perguntou Rhys, quando Azriel sentia a sua respiração normalizar.
– Eu realmente acho que você está sendo um idiota, Rhys. – Disparou Azriel, sendo recompensado com uma gargalhada do irmão.
– Isso não é novidade, Az. Quero saber o que realmente está acontecendo. – Poucas foram as vezes em que Azriel recorreu a luta com os irmãos para relaxar. Rhys era quem constantemente achava um motivo para brigar e Cassian ficava feliz em ajudar o irmão. Com o tempo, os papéis se inverteram, e Cassian fazia de tudo para irrita-los até que terminassem os três em um ringue de luta.
– Não sei o que dizer a você, Rhys. Não sei nem o que dizer a mim mesmo. – Admitiu.
– Você se cobra demais, Az. Você sabe, eu estive nesse lugar. Acho que nunca vou conseguir me sentir bom o suficiente, mas Feyre uma vez me disse que nós merecemos essa felicidade, e eu escolhi acreditar. As vezes, acreditar é tudo que precisamos. – Azriel permaneceu em silêncio, absorvendo as palavras de Rhys.  – Me avise se precisar levar outra surra. – Azriel riu ao ver o irmão caminhar mancando em direção a Casa.
– Rhys... obrigado. – O irmão assentiu.
– Se ainda estiver disposto a enfrentar Feyre sobre as suas missões, traga o assunto até a reunião familiar de amanhã. Temos algumas pautas a tratar. – Disparou Rhys.

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