Capítulo 10

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Azriel não apareceu no treinamento do dia seguinte, deixando Gwyn se sentindo apreensiva e confusa. Ele nitidamente havia fugido do seu toque, e agora a estava evitando. Não tinha como piorar.
Gwyneth Berdara! – Disse Nestha em um sussurro nada discreto. – Que história é essa? – Gwyn sabia exatamente do que ela estava falando, mas não quis admitir.
– Que história? – Perguntou em uma inocência fingida.
– Você e Azriel! Andando pelas ruas de Velaris! Juntos! – Gwyn nunca ficou tão grata pelas largas estantes da biblioteca. Se elas estivessem no treino, todas as sacerdotisas teriam ouvido a declaração calorosa de Nestha.
– Eu não me incomodaria se você falasse mais baixo! – Falou enquanto Nestha esperava pacientemente. Na verdade, ela não estava nada paciente.
– Eu estou esperando uma explicação! – Gwyn respirou fundo, e agradeceu aos Deuses por poder se ocupar com os livros que Meril havia solicitado.
– Não tem o que contar. Eu decidi que era a hora de sair da casa, você e Emire estavam ocupadas. Azriel é um grande amigo, então...
"Azriel é um grande amigo"?  – Nestha praticamente gritou e Gwyn virou para olhar a amiga.
– Nestha!!! SSSHHHHHHH. – Disse Gwyn, tentando silenciar Nestha.
– Gwyn, você precisa me contar isso direito. – Não havia outro jeito. Ou Gwyn contava tudo a Nestha ou todas as sacerdotisas iriam saber sobre o assunto.
– Não há o que contar, Ness. Antes da sua cerimônia de parceria, ele acabou me vendo em um dia não tão bom e me ajudou. Ficamos próximos e eu o convidei a me acompanhar. Foi só isso! – Gwyn não contaria a Nestha sobre o momento com Azriel em uma das praças de Velaris, ou que o encantador de sombras foi o responsável por um dos instantes mais memoráveis de sua vida.
– Só isso? – Nestha perguntou um pouco incrédula, e nesse momento Gwyn se deu conta. Ela havia visto Azriel e Elain sozinhos após a cerimônia. A irmã de Nestha estava com a mão no rosto do encantador de sombras. Algo estava acontecendo entre eles.
– Você não precisa se preocupar, Ness. Sei que Azriel e Elain... – Tentou esconder toda a sua decepção com aquela frase, mas sua voz saiu baixa demais.
– Azriel e Elain? Do que você está falando, Gwyn? – Droga! Gwyn havia acabado de revelar um romance que nem sabia existir de fato. Não tinha como ficar pior.
– Ah não é nada! Eu me enganei. – Tentou desconversar e antes que Nestha pudesse questiona-la novamente, ouviu Meril solicitar os livros mais uma vez. – Tenho que ir, Ness! – Nunca se sentiu tão grata pela existência de Meril. Se despediu da amiga com um beijo no rosto e saiu praticamente correndo. Enquanto ouvia Meril falar sem parar, Gwyn decidiu que precisava avisar a Azriel. Não tinha dúvidas de que Nestha iria questiona-lo sobre a informação que Gwyn forneceu, mas precisava prepara-lo. Talvez ela apenas estivesse procurando um motivo para encontrá-lo, afinal, ele não apareceu no treino naquele dia e ela queria muito encontrar aqueles olhos cor de avelã. Mas precisava ser discreta.

Azriel passou o dia fora

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Azriel passou o dia fora. Precisou encontrar pessoalmente com alguns de seus espiões para coletar informações importantes. Em alguns momentos, a sua mente se desligava quase que completamente. As folhas na fronteira da Corte Outonal tinham o mesmo tom de cobre do cabelo de Gwyn. Sempre que o azul de um de seus sifões brilhava, ele notava a semelhança com os olhos da sacerdotisa. Droga! Precisava parar com isso. Voltou para Casa do Vento frustrado por não conseguir controlar nem mesmo os seus pensamentos. A medida que caminhava pelo corredor em direção ao seu quarto, sentiu aquela estranha sensação de que estava sendo seguido ou observado, mas as suas sombras estavam quietas. Ele parou abruptamente, e sentiu um cheiro familiar. Definitivamente alguém o estava seguindo. Dentro de casa. Crescer com dois irmãos ensinou diversas coisas a Azriel, e uma delas é que deveria estar sempre preparado. Rhys e Cassian estavam sempre tentando pegá -lo de surpresa e de certa forma, isso ajudou Azriel a desenvolver as suas habilidades como espião. Os irmãos nunca conseguiram pegá-lo desprevenido. Por isso, ele não exitou ao atingir o indivíduo com um golpe que tinha como objetivo derrubar o oponente e deixa-lo encurralado pelos dois joelhos de Azriel. Mas nunca, em hipótese alguma, ele esperou ver o que viu.
Aí! – Gwyn praticamente gemeu, com uma das mãos alisando a lateral da cabeça, e ainda encurralada em baixo de Azriel.
Gwyn? O que você está fazendo? – Perguntou, completamente confuso.
– Seguindo você! – Declarou, como se não fosse nada demais.
– Isso eu percebi. Quero saber por quê você estava me seguindo. Eu poderia ter machucado você. – Como que em resposta, Gwyn inverteu a posição deles. Agora ele estava encurralado em baixo dela.
– Acho que não, encantador de sombras. – Considerando que Azriel estava distraído, o golpe foi perfeito, mas ele poderia facilmente se livrar daquela posição. Simplesmente não quis. Gwyn olhou em volta, notando que estava em cima de Azriel no meio do corredor e instantaneamente se levantou. Ela passou as mãos para limpar as vestes de sacerdotisa e logo a estendeu para Azriel. Ele olhou para a mão dela por um segundo, lembrando de forma como ela o segurou após o passeio por Velaris. Gwyn parecia observar, como se estivesse desafiando-o a toca-la novamente. Por isso, ele segurou e deixou que ela o ajudasse a levantar.
– Então, acredito que você não me seguiu apenas para provar que consegue me imobilizar. A propósito, parabéns, o golpe foi perfeito. – Ela parecia tímida, completamente diferente da fêmea que o golpeou momentos antes.
– Obrigada. Não... Eu queria avisar algo a você. – A voz de Gwyn era baixa, e ela o encarava nos olhos. Ele assentiu para que ela continuasse. – Então, eu estava na biblioteca e Nestha me perguntou sobre você. – Surpreendentemente Azriel ficou curioso para saber o que ela havia respondido sobre ele. – Quer dizer... sobre o nosso passeio. – Corrigiu. Ele sentiu algo murchar dentro do peito. O que estava acontecendo com ele? Sentia-se um menino. – Eu disse a ela que não tinha sido nada demais, que você tinha me ajudado. Nestha estava muito curiosa, e eu achei estranho. Presumi que ela estava preocupada por conta de você e... – Gwyn estava nervosa, ele podia notar. Já havia percebido que em situações assim, ela começava a falar tudo rápido demais e então, percebia o que estava fazendo e passava a medir cada palavra de maneira extremamente meticulosa.
– Eu e... – Disse Azriel, incentivando-a a continuar.
– Você e Elain. – Ele abriu a boca para responder que não existia "ele e Elain" mas Gwyn voltou a falar de maneira frenética. – Me desculpe, Azriel! Quando eu falei, notei que Nestha não sabia sobre vocês, já era tarde. Eu estava nervosa e acabei falando demais. Fiquei tão desesperada que decidi que precisava falar com você, então esperei que retornasse. De alguma forma eu sabia que você tinha voltado, não sei explicar, foi apenas uma sensação. Então, subi as escadas e vim por esse corredor. O resto você já sabe. – Ela praticamente não respirava para falar, e quando se deu conta, Azriel estava sorrindo.
– Gwyn... – Tentou falar mais uma vez.
– Do que você está rindo? Isso é uma tragédia! – Dessa vez ele não foi capaz de se conter e deu uma gargalhada. Ela continuava olhando confusa para ele.
– Você está me deixando nervosa, Azriel. – Ele parou de rir imediatamente.
– Me desculpe... – Então ela começou a rir, e quando se deu conta, os dois estavam gargalhando no meio do corredor.
– O que está acontecendo aqui? – Disse Cassian ao subir as escadas. Azriel viu o exato momento em que Gwyn ficou tensa. – Ouvi risadas e não acreditei quando percebi que Az estava rindo e não era de mim. Você me deixou decepcionado irmão, achei que eu fosse o único capaz de tirar essa cara mal humorada do seu rosto.
– Você me irrita mais do que me faz rir, Cass. – Brincou Azriel.
– Faz parte do pacote. – Devolveu o irmão. – Ouvi falar que vocês dois estiveram andando por Velaris. – Cassian e sua boca grande.
– Sim... Eu chamei Azriel. Precisava de uma companhia e como você e Nestha estavam ocupados, Emire também não podia... – Gwyn começou mais uma vez em alta velocidade, e Azriel reprimiu um sorriso. Era adorável.
– Você não é o único que gosta das ruas de Velaris, Cass. – Interrompeu Azriel, tentando evitar que Gwyn ficasse sem ar de tanto falar. Ela lançou um olhar de agradecimento até ele, que sorriu discretamente em resposta.
– Isso é ótimo, Gwyn! Fico feliz por você. Talvez devêssemos ir todos um dia, o que me diz? – Sugeriu Cassian. Gwyn sorriu timidamente.
– Eu adoraria! – Afimou. A animação em sua voz era completamente sincera.
– Az, não se atrase para a reunião familiar de hoje a noite. Vejo você no jantar, irmão. – Azriel assentiu em despedida e Cassian seguiu o seu caminho, deixando ele e Gwyn sozinhos novamente no corredor.
Droga! Reunião familiar? Nestha vai ter plateia quando comê-lo vivo. – Disse Gwyn, escondendo o rosto nas mãos. Azriel riu, e antes que pudesse se conter, tocou as mãos de Gwyn em uma tentativa de fazê-la olhar para ele. Ela permitiu que ele retirasse as suas mãos do rosto, e o olhou profundamente nos olhos.
– Gwyn, não se preocupe. Eu posso lidar com Nestha. E se ela me esfolar vivo, pelo menos Cassian é o seu instrutor favorito. – Brincou. Ela riu, mas de alguma forma, havia uma tristeza em seus olhos.
– Tudo bem. Vou voltar ao meu dormitório. Bom jantar, Az.
– Boa noite, Gwyn. – Ela assentiu, e Azriel a observou se distanciar.

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