Capítulo 14

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Eles estavam nos limites da Corte Estival com a Corte Outonal e Azriel pretendia encontrar um espião encarregado de informa-lo sobre possíveis movimentos de Beron. Como Tarquin, Grão Senhor da Corte Estival, já havia demonstrado sua lealdade com a Corte Noturna, não haveria problemas em encontrar com o seu espião ali. Azriel não pretendia ser pego, mas não poderia arriscar a segurança de Gwyn.
– Precisaremos caminhar um pouco. Não é indicado atravessar direto para o local de encontro. Caso o seu informante acabe revelando a localização, você pode ser atraído para uma armadilha facilmente. – Esclareceu Azriel. Gwyn estava vestida com o couro illyriano, o cabelo trançado, e os olhos completamente atentos. Azriel ficou orgulhoso ao notar que Gwyn buscava observar todos os detalhes do local em que eles estavam, catalogando informações e possíveis rotas. Naquela manhã, ela havia escolhido uma adaga de tamanho muito semelhante a sua, e a posicionou na lateral da perna direita, juntamente com uma espada que carregava nas costas, e uma pequena faca presa na parte de dentro da bota. Era mais do que suficiente.
– Você não confia nos seus espiões? – Perguntou a sacerdotisa, e só então ele se deu conta do quanto tinha sentido falta das perguntas dela. Na verdade, tinha sentido falta de tudo relacionado a ela, e admitir isso era assustador.
– Até onde é possível confiar. Mas algumas medidas são necessárias, tenho que estar preparado para tudo. – Esclareceu. Gwyn andava silenciosamente ao seu lado, cuidadosa com cada passo que dava.
– Se você não confia totalmente em seus espiões, como pode confiar nas informações deles?
– Nem sempre eu consigo verificar a veracidade completa das informações, mas sempre tento confirmar se estou de fato caminhando da direção correta. As vezes é um risco que eu preciso assumir.
– E as sombras? – Nesse momento, uma de suas sombras foi até Gwyn e envolveu o seu braço direito, como se tivessem sido atraídas para ela no momento em que foram mencionadas.
– Elas conseguem notar coisas que ninguém consegue. Passei a identificar suas reações e o que elas querem me informar. Posso saber de muitas coisas apenas por identificar sua agitação ou calma. – Gwyn passou a observar atentamente a sombra enrolada em seu braço e Azriel ficou cativado pelo momento. – Elas foram minhas únicas companheiras durante muitos anos. Eu provavelmente não teria sobrevivido... – Admitiu. Ela rapidamente levantou os olhos para encara-lo com uma ternura de partir o coração. Ele ensaiou um sorriso, mas ela não retribuiu, apenas manteve os olhos fixos aos dele.
– Fico feliz que elas o tenham encontrado. – Ele assentiu, e indicou o caminho em que eles deveriam seguir.

Eles caminharam silenciosamente por aproximadamente 3km, até que viu as sombras de Azriel se distanciarem dele

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Eles caminharam silenciosamente por aproximadamente 3km, até que viu as sombras de Azriel se distanciarem dele.
– As sombras sempre vão antes de mim. – Explicou.– Droga. Algo não está certo. – Disse quando as sombras retornaram até ele. Todo o corpo de Gwyn ficou em alerta e ela seguiu Azriel silenciosamente, imitando cada movimento dele.
– O que há de errado? – Perguntou Gwyn.
– Quando as sombras retornaram até mim, elas trouxeram alguns cheiros, talvez quatro, ou cinco. Apenas um era familiar... – Azriel olhou em volta, atento a tudo, e o coração dela batia acelerado dentro do peito de Gwyn. – Pegue sua espada. Agora! – Disse Azriel, enquanto tirava a sua própria espada da bainha. Ela o obedeceu e os dois caminharam em silêncio por poucos metros. Gwyn notou o momento exato em que eles cruzaram os limites da Corte Estival.
– Gwyn, quero que preste atenção em mim. Não era para isso acontecer. Não deveríamos entrar na Outonal, a missão não era essa. Não vou dizer para irmos embora, a decisão é sua. Mas você precisa saber dos riscos. – Havia uma urgência na voz de Azriel, e Gwyn não poderia negar que estava nervosa. Mas foi para isso que ela se preparou, e não iria recuar agora.
– Estamos perdendo tempo. Vamos. – Ele assentiu e eles continuaram andando. As sombras dele constantemente iam adiante, sempre retornando em poucos segundos. Eles estavam diante de uma clareira quando avistaram um feérico caído, havia sangue em volta, muito sangue. Memórias do Rito a atingiram e Gwyn afastou os pensamentos, concentrando-se apenas naquele momento. Antes que eles pudessem se aproximar mais, ela e Azriel olharam na mesma direção, e a poucos metros deles, em cima de uma árvore, estavam dois féericos. Eles notaram a presença de Gwyn e Azriel praticamente no mesmo instante, e saltaram em sua direção. Azriel deu alguns passos adiante, assumindo a posição de combate logo em seguida. Gwyn adotou a mesma posição. Os dois féericos corriam na direção deles, ambos com espadas em mãos. O som de metal contra metal era familiar, e os dois desconhecidos se concentraram totalmente em Azriel que os enfrentava ao mesmo tempo. Apenas poucos segundos depois, ela notou uma movimentação a sua esquerda, e apenas um instante evitou que ela fosse atingida pela lâmina de um terceiro feérico. Gwyn recuou dois passos enquanto o macho investiu novamente contra ela. Dessa vez, ela estava preparada, e o golpe foi contido pela espada que tinha em mãos. As memórias a invadiram novamente, e dessa vez ela não as afastou, ao invés disso, as abraçou. Abraçou os momentos em que ela havia vencido, e não sentiu medo. Gwyn não esperou pelo próximo golpe para se defender, dessa vez ela o atacou. O macho era totalmente sem disciplina ou coordenação, e lutava como se seus movimentos não fossem minimamente pensados. Ela investiu contra ele novamente, que desviou do golpe, preparado-se para atingir o lado esquerdo do seu corpo. O próximo movimento dele foi firme, fazendo Gwyn recuar alguns passos, porém, antes que ela pudesse recuar mais, ele segurou a lâmina da sua espada, fazendo sangue escorrer, e a puxou, levando-a até ele. Ela soltou o cabo da espada, ficando praticamente desarmada. O macho jogou a espada dela no chão, fora do alcance de Gwyn. Ele ainda empunhava a sua espada, e ela rapidamente puxou a adaga da lateral da perna. Ele aproveitou o momento para tentar atingi-lá, mas quando ergueu a lâmina, Gwyn fez um corte no pulso em que ele empunhava a espada. O macho grunhiu, e a sua rápida reação a dor foi o suficiente para fazer Gwyn atingi-lo com um corte vertical na barriga. Ele cambaleou para trás, ficando a alguma distância de Gwyn. Ela estava se preparando para o próximo golpe quando a lâmina de Azriel atingiu o macho por trás, atravessando o seu corpo. O feérico caiu, enquanto o sangue escorria pela lâmina de Azriel.
– Você está bem? – Perguntou com urgência na voz.
– Estou... – Respondeu Gwyn, ofegante. Ela olhou em volta, e viu que Azriel havia lutado contra três machos. – Você está bem? – Um dos lado a da boca de Azriel se ergueu, em uma singela aparição de sorriso, mas Gwyn sabia que não era verdadeiro.
– Estou bem. – Ele virou com o pé o feérico morto que ainda sangrava e puxou a sua espada coberta de sangue do corpo do macho. Gwyn procurou a sua própria espada, também ensanguentada, e a guardou de volta na bainha. Ao se aproximar de Azriel, ela notou que o olhar dele analisava cada parte do seu rosto. Ele se aproximou mais alguns passos, e tocou o rosto de Gwyn do lado direito. Não havia dúvida no toque, e ela sentiu o roçar do dedão dele em sua bochecha.
– Você está ferida. – Disse o encantador de sombras, enquanto focava toda a sua atenção naquela parte específica do rosto de Gwyn. Ela sentiu uma leve ardência, mas não se encolheu. Não queria que ele parasse de toca-la, mas nesse exato momento Azriel fez o oposto, e rapidamente afastou a mãos, dirigindo seu olhar até a espada ensanguentada que tinha em mãos. Um pesar tomou os olhos do encantador de sombras, e então Gwyn entendeu. Culpa. Havia culpa em seus olhos. Ela conhecia aquela emoção muito mais do que gostaria de admitir.
– Precisamos ir. – Disse o encantador de sombras, interrompendo os pensamentos de Gwyn. Ela assentiu, e eles caminharam. Alguns metros na frente eles encontraram o espião de Azriel. Ele era o macho que eles viram caído na clareira. Azriel se abaixou, e parecia verificar se ainda havia como salvar o feérico. Seus olhos de fecharam com força, e ele respirou fundo.
– Ele ainda está vivo, mas carrega-lo só vai nos atrasar. Não sei por quanto tempo ele pode aguentar.
– Você não consegue atravessar conosco?
– Não posso arriscar usar magia na Corte Outonal. Fui pego por Eris uma vez. – Gwyn não poderia conceber a ideia de deixar aquele feérico ali, vivo, sem ajudá-lo. – Posso atravessar conosco se chegarmos na Estival, mas estaremos correndo riscos até chegar lá.
– Estão carregaremos ele até a Corte Estival. Não vamos deixá-lo aqui. Vamos, pegue o lado direito dele. – Azriel a analisou por alguns segundos, e ela pensou que ele iniciaria uma discussão, mas ao invés disso, ele se abaixou para suspender o lado direito do macho. Então, Gwyn teve uma ideia. – Espere. – Ele parou ao lado do feérico, esperando que ela continuasse. – Sou metade ninfa. A espécie da minha mãe tem dom de cura, nunca tentei, mas... onde ele está ferido? – Azriel levantou a blusa do macho, que tinha um profundo corte na lateral da barriga.
– O corte é profundo, mas não atravessou. – Observou Azriel. Ela assentiu e respirou fundo.
– Certo. Posso tentar... – Ela se abaixou a esquerda do macho, observando o ferimento.
– Gwyn, você não precisa... – Antes que ele pudesse terminar a frase, Gwyn colocou a sua mão no ferimento do feérico. Já havia visto sua irmã fazer isso, mas nunca tinha tentado. Catrin dizia que ela precisava se concentrar em algo que fluisse de si. Ela fechou os olhos e se concentrou, tentou se imaginar como um oceano, que fluía livremente. Se concentrou no ferimento que estava coberto por sua mão e desejou profundamente fazer algo por aquele macho. Sentiu que algo quente em sua palma, mas continuou. Repentinamente, ela sentiu um cansaço e parou. Tirou a mão muito devagar e arregalou os olhos ao notar que a ferida não estava completamente fechada, mas não havia sinal de hemorragia. Gwyn levantou os olhos e viu a admiração nos olhos de Azriel. Ela estava pronta para continuar, quando ele a deteu, segurando seu pulso.
– Não. É suficiente. Uso de magia demanda energia, você não pode se cansar demais. Vamos. – Ele tinha razão. Gwyn assentiu e se levantou, esperando enquanto Azriel levantava o macho.

Azriel se sentia péssimo

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Azriel se sentia péssimo. Sua negligência havia colocando Gwyn em risco. Ele não deveria esperar que uma missão nos limites da Corte Outonal seria apenas uma missão, nunca era. Porém, ela foi extraordinária. Gwyn estava atenta a tudo, e todas as suas reações foram de acordo com o treinamento. Ela previa cada movimento do oponente e revidava de maneira magistral. Mas era bondosa demais, e isso a colocava em riscos desnecessários. Essa era a grande diferença entre eles. Mas não podia pensar nisso agora. Ele se permitiria sentir culpado quando ela estivesse em segurança. Agora, ele precisava ter todos os sentidos em alerta até chegarem até a Corte Estival. Não era uma caminhada longa, mas precisavam estar atentos a cada movimento.
– Me desculpe se eu causei algum problema a você. – Disse Gwyn, quebrando o silêncio, enquanto sustentava o lado esquerdo do corpo do espião de Azriel. Ela estava ofegante, mas insistia em ajudar.
– A missão era responsabilidade minha, Gwyn. Se alguém causou problemas aqui, fui eu. – Ela balançou a cabeça, como se o que ele falou não fizesse sentido.
– Não estou falando de hoje, ou dessa missão. Sinto muito se causei algum problema entre você e Elain. – A menção ao nome de Elain o pegou de surpresa, mas ele continuou a andar.
– Do que você está falando? – Ela ficou em silêncio por alguns segundos, e ele achou que não iria responder.
– Eu sinto que atrapalhei vocês na cerimônia de Nestha... E na reunião que tivemos com Rhysand e Feyre, pareceu que havia algum desconforto. Logo depois disso, você me disse que não poderia ser meu amigo. Quero que saiba que por mais magoada que eu tenha ficado, eu entendo, e não quero causar problemas a você. – Droga! Ela tinha entendido tudo errado. Aquela não era uma conversa para se ter naquele momento. Após mais ou menos duas horas de caminhada e completo silêncio, eles estavam de volta a Corte Estival, e imediatamente Azriel os atravessou.

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