Capítulo 13

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Após o esclarecimento de todos os detalhes sobre a nova fase de treinamentos, Gwyn se sentia pronta. Apreensiva, mas pronta. Na verdade, uma parte dela parecia duvidar que de fato iria acontecer, mas estava confiante. Todos estavam prontos para retornar à Casa do Vento, e dessa vez não foi Rhysand que atravessou com Gwyn. Mor se propôs a levar uma delas com a justificativa de que não visitava a Casa do Vento a algum tempo, e Gwyn pôde ver quando Emire se pôs à esquerda da fêmea.
– Já que estamos todos aqui, hoje poderia ser uma boa noite para dar uma volta por Velaris. – Sugeriu Cassian, passando os braços ao redor de Nestha.
– Acho uma excelente ideia, Cass. – Concordou Mor, seguida por Emire. Gwyn não tinha dúvidas de que a amiga concordaria.
– Não é o tipo de noite apropriada para o Rita's, Mor. – Lembrou Nestha.
– Claro que não! Apenas uma volta pela cidade. – Respondeu a fêmea, em um completo som de inocência.
– Gwyn, você vem? – Perguntou Cassian. Ela não sabia exatamente se gostaria de sair naquela noite. O jantar foi agradável em todos os aspectos, mas não poderia negar o quão desgastada se sentia.
– Eu agradeço, mas estou cansada. Vocês podem ir. – Informou.
– Podemos ir outro dia. – Sugeriu Emire, com um certo pesar na voz.
– Não! Tudo bem. Teremos outras oportunidades. – E fácil assim, Emire foi convencida. A amiga tinha sua atenção totalmente em Mor, apenas não havia percebido ainda.
– Posso levá-la de volta para casa. – Disse Azriel. Todos na sala trocaram olhares entre si, e só então Gwyn notou a presença de Elain ao lado de Rhys e Feyre, que se mantinham atentos ao bebê acordado e agitado no colo da Grã Senhora. Gwyn rapidamente desviou o olhar, se sentindo constrangida de alguma forma. Ainda não sabia que tipo de relação ela mantinha com Azriel, e não pôde deixar de notar que o encantador de sombras não confirmou nada, mas também não negou.
– Ok! Estamos todos de acordo. Vamos. Rhys, Feyre, estamos indo. – Disse Nestha. O processo de despedidas foi rápido, e Gwyn sentia o olhar de Elain fixo nela o tempo todo. Foi constrangedor, mas ela finalmente estava pronta para ir.
– Sinto muito, mas teremos que voar hoje – Esclareceu Azriel. Uma estranha sensação de satisfação atingiu Gwyn, e ela tentou ignorar o sentimento.
– Tudo bem. – Respondeu timidamente, tentando esconder a expectativa de ser tocada por ele novamente. Cassian e Nestha já haviam partido, assim como Emire e Mor. Restavam apenas ela e Azriel. Muito gentilmente, ele colocou uma das mãos nas costas de Gwyn, como se estivesse testando o toque. O mínimo contato foi capaz de enviar uma corrente elétrica por todo o seu corpo. Quando Azriel a suspendeu, ela esperou que ele levantasse voo, mas Azriel não o fez. Ele apenas a olhou nos olhos, o rosto a poucos centímetros de distância. Gwyn estava completamente presa ao momento, ao olhar dele e a sensação que batia em seu peito. Ela se sentiu completamente presa a ele. Naquele momento, não existia nada além de Azriel. Não existiam os seus medos e traumas. Até mesmo o seu passado parecia pequeno comparado àquele momento. Gwyn viu um rápido lapso de dúvida nos olhos de Azriel, e aquilo foi suficiente para traze-la de volta a realidade.

Ter Gwyn tão perto novamente causou um impacto muito maior que o esperado no coração de Azriel

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Ter Gwyn tão perto novamente causou um impacto muito maior que o esperado no coração de Azriel. Mas não foi apenas o toque. O seu cheiro, o olhar... E foi então que percebeu. Tê-la daquela forma não parecia mais suficiente. Pensava em Gwyn mais do que deveria, e a percepção o assustou profundamente. Não poderia querer Gwyn. Tudo nela era puro, enquanto tudo nele parecia sujo. Repentinamente, algo em Gwyn mudou, tirando-o do momento. Ela rapidamente quebrou o contato visual, e ele achou ter visto algum desconforto em seu rosto. A ideia de que ele causava desconforto a ela colocou um peso dentro do peito de Azriel, e ele odiou a si mesmo. Odiou saber que jamais seria bom o suficiente. Antes que pudesse fazer algo estúpido, levantou voo com Gwyn em seus braços. Dessa vez Gwyn parecia rígida e tensa, e ele voou mais rápido que deveria. Tudo que queria naquele momento era livra-la do desconforto que o toque dele causava. Pousou rapidamente na Casa do Vento e a colocou no chão, certificando-se de que estava com os dois pés equilibrados.
– Obrigada. – Disse Gwyn, ele apenas assentiu. Percebendo a estranheza do momento, ela adotou uma postura mais ereta e passou a encara-lo como se houvesse um segredo a desvendar.
– Boa noite, Gwyn. – Ele sabia que deveria ir embora, mas se deteve por alguns segundos, memorizando todos os traços do rosto de Gwyn. O azul de seus olhos, o leve tom de vermelho de seus lábios, o rubor de seu rosto. Ela respirou fundo, ainda o encarando. Azriel se apressou em dar as costas, mas ela o segurou pela mão da mesma forma que o segurou no dia em que andaram por Velaris.
– Não! – Sua voz era firme, e seu rosto tão doce adotou uma expressão dura. – Não vou permitir que você faça isso novamente. – Completou. Azriel levantou as duas sobrancelhas, surpreso.
– O que você quer dizer com isso? – Perguntou, genuinamente confuso.
– Quero dizer que em um momento parece que você estará sempre presente por mim, e logo em seguida eu o vejo se afastar como se precisasse fugir. Você me diz e faz coisas que não fazem sentido, Azriel. Você me disse que não suportaria me ver machucada, mas toda vez que age assim, você me machuca. Me diga o que há de errado! – As palavras o atingiram fortemente e só então ele percebeu o quanto estava sofrendo. Toda vez que afastava Gwyn, sentia seu coração se partir, e ouvir da boca dela que ele era responsável por causa-la algum tipo de dor, por menor que fosse, fez com que Azriel se odiasse ainda mais. Era exatamente por isso que jamais poderia tê-la. – Pensei que fôssemos amigos... – Admitiu Gwyn, dessa vez em um tom tão baixo que parecia um sussurro. Ela não o olhava mais nos olhos, ao invés disso, abraçava o próprio corpo, e sua atenção estava fixa em seus próprios pés.
– Me desculpe, mas não posso ser seu amigo, Gwyn. – Durante todos os seus anos, Azriel foi ferido de diversas formas. Alguns ferimentos eram tão graves que ele desejou a própria morte. Desejou dormir e não acordar, pois acreditava que não suportaria mais um dia vivendo aquela agonia. Mas nenhuma dor ou agonia se comparou ao que sentiu ao ver a mágoa nos olhos de Gwyn naquele momento. Imediatamente, desejou retirar o que havia dito, mas não o fez, pois havia sido sincero. Não poderia querer Gwyn mais do que queria naquele momento e definitivamente, não poderia tê-la. Esperou que ela falasse algo, mas nenhum ruído saiu de sua boca, e então, Gwyn se afastou.

Uma semana havia se passado desde que Gwyn ouviu as palavras de Azriel

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Uma semana havia se passado desde que Gwyn ouviu as palavras de Azriel. Não posso ser seu amigo, Gwyn. Desde então, se encontraram todos os dias nos treinamentos da manhã, e surpreendentemente, ela conseguiu manter a sua dor apenas para si. As palavras machucaram profundamente, mas ela não deixaria que isso a abalasse. Talvez tivesse se tornado muito boa em contar mentiras a si mesma, pois sempre que trocava o mínimo olhar com ele, tentava acreditar que o seu coração estava intacto. Mas naquela manhã, seria especialmente difícil contar aquelas mentiras. Naquela manhã, ela sairia para a sua primeira missão com Azriel.
– Você tem certeza? – Perguntou Nestha pela quinta vez.
– Sim, tenho certeza. – Elas combinaram que as missões aconteceriam na ordem em que a fita foi cortada. Gwyn, Nestha e Emire. Ela só não imaginava que aquele dia chegaria tão rápido e que não estaria trocando nenhuma palavra com Azriel. Seria um dia longo.
– Estaremos esperando por vocês. – Disse Emire.
– Não sabia que você seria uma mamãe urso, Ness. Isso me deixou empolgado. – Brincou Cassian.
– Eu não estou sendo uma mamãe urso. Só quero garantir que ela...
– Tem certeza. Já entendemos, Nestha. – Disse Gwyn, completando a frase que a amiga estava prestes a falar.
– A missão de hoje será apenas um reconhecimento de área. Gwyn e eu encontraremos um de meus espiões, ouviremos a informação que ele tem para mim, e voltaremos. – Era a primeira vez que Gwyn ouvia a voz dele em muitos dias. Talvez não a primeira vez, já que ela estava sempre atenta a tudo que ele dizia ao longo dos treinamentos, mesmo que não fosse direcionado a ela. Mas definitivamente era a primeira vez que ouvia a voz dele de maneira tão nítida desde o dia da reunião. Parecia que seu corpo inteiro reconhecia o quanto sentia falta de ser amiga de Azriel, pois um arrepio a percorreu. – Pronta? – Perguntou o encantador de sombras, estendendo a mão para ela.
– Pronta. – Respondeu ao segurar a mão dele.

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