Capítulo 8

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A cada semana que se passava, Gwyn colecionava uma nova vitória. Passou a conseguir dormir sem dificuldades, o sono era tranquilo e os pesadelos não eram mais tão frequentes. Ainda enfrentava dias difíceis, mas tinha uma família ao seu lado que a respeitava e amava. Por isso, naquele dia, Gwyn tomou uma decisão: sairia da casa e andaria por Velaris. Desde a sua chegada, nunca havia descido até as ruas da cidade. Assistiu aquele céu inúmeras vezes, chorou e sorriu sob a luz da estrelas, mas ainda não havia desfrutado daquela beleza. Pensou em pedir a Nestha para acompanhá-la, mas desistiu assim que viu a amiga sair de fininho atrás de Cassian após o final do treino. Emire alegou no começo do dia que estava particularmente difícil na loja que mantinha próximo ao refúgio dos ventos. Por isso, e só por isso – pelo menos foi o que disse a si mesma – ela se aproximou de Azriel, tentando ser discreta, mas ele logo notou a sua presença.
– Oi. – Ela disse, envergonhada. Ele guardou uma das espadas na área adequada e se virou para ela, com o cenho franzido.
– Oi, Gwyn. – Respondeu.
– Você está guardando as espadas? – Perguntou. Era óbvio que ele estava guardando as espadas, ela podia ver. Azriel parecia confuso, mas assentiu. – Legal...
– Está tudo bem? – Toda a coragem de Gwyn parecia ter sido drenada do seu corpo, e ela estava com as mãos suando.
– Tudo! Claro que sim! Por que não estaria? Tudo ótimo! – Declarou rápido demais. Droga, ela era uma péssima mentirosa. Pôde notar na expressão de Azriel que ele havia identificado cada mentira que saiu da boca dela. – Ótima conversa. Obrigada, Az. Vou indo. – Tentou desconversar, virando de costas para ele.
– Gwyn... – Chamou Azriel. Ela respirou fundo e o encarou. – O que está acontecendo? – Seu tom era preocupado.
– Não é nada... não precisa se preocupar. – Azriel levantou as sobrancelhas em completa incredulidade.
– Achei que fôssemos amigos, Gwyn... – Golpe baixo. Ele sabia que aquilo iria atingi-lá.
– Nós somos! – Ela garantiu.
– Então... – Desafiou Azriel.
– Tudo bem! – Ela se deu por vencida. Sabia que não conseguiria tirar a ideia da cabeça, só estava adiando o inevitável. – Eu queria um favor. – Ele indicou para que ela continuasse. – Eu gostaria de andar por Velaris. – Admitiu por fim. Ele arregalou os olhos, surpreso. – E gostaria da sua companhia. – Ela concluiu com a voz tão baixa que pensou não ser audível. Azriel permaneceu em silêncio por alguns segundos, e Gwyn levantou os olhos para encara-lo.
– Deixe-me ver se entendi. Você quer que eu seja o seu guia turístico por Velaris. – Gwyn sorriu. Ele estava parcialmente certo, mas não era só isso que Gwyn queria dele.
– Sim e não! Sim, quero que você seja meu "guia turístico" – Ela imitou aspas no ar. – Mas principalmente, quero um amigo ao meu lado... – Ela não tirou os olhos de Azriel, mesmo quando sentiu seu rosto ficar quente. Ele sorriu discretamente. – Claro que se você não puder, não tem problema, eu...
– Gwyn, eu estarei com você. – Havia uma intensidade no olhar de Azriel que fez Gwyn sorrir ainda mais. Ela assentiu, sentindo uma estranha satisfação no peito.
– Certo... Preciso iniciar meu turno na biblioteca. Mas...
– Estarei aqui quando estiver pronta. – Ela sorriu e começou a se distanciar, percebendo que restaram apenas eles dois. Ao se aproximar do arco que dava acesso às escadas, se virou para encara-lo. Azriel retribuiu o olhar com um sorriso encorajador.

Azriel ficou completamente surpreso com o pedido de Gwyn

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Azriel ficou completamente surpreso com o pedido de Gwyn. De todas as pessoas, entre Nestha, Emire e Cassin, ela havia escolhido ele para acompanhá-la. Era final da tarde quando suas sombras o avisaram da presença de Gwyn. Ele se virou e viu que ela usava os trajes de sacerdotisa com um casaco fino por cima.
– Estou pronta. – Ela declarou antes que ele pudesse perguntar.
– Se você quiser voltar, me avise. Certo? – Ela assentiu. – A escolha é sua, descemos os degraus ou voamos? – Perguntou Azriel.
– Descer os degraus? Eu não sei se você sabe, encantador de sombras, mas essa vitória é completamente da Nestha. Eu nunca conseguiria descer todos esses degraus. – Ela riu.
– Eu discordo de você. Acho que conseguiria. – Respondeu dando de ombros. Gwyn vinha se mostrando tão extraordinária, e teimosa  que não havia nada que Azriel duvidasse que ela pudesse fazer. Ela sorriu em agradecimento e olhou fixamente para o céu, parecendo apreensiva.
– Então nossa única opção é voar? No dia da cerimônia de Nestha nós conseguimos atravessar.
– Rhys sabia que você não gostaria de voar, então alterou momentaneamente as defesas das casas para que eu pudesse atravessar com vocês. – Esclareceu. Ela parecia entender. – Prometo não ir rápido demais. Não será um vôo longo. – Garantiu Azriel.
– Confio em você, encantador de sombras. Vamos lá. – Ele sorriu, em uma tentativa de encoraja-la. Mas na verdade, estava encorajando a si mesmo. Nunca havia tocado Gwyn dessa forma e não sabia como ela poderia reagir ao ter o seu corpo junto ao dele. Azriel olhou rapidamente para as suas mãos cheia de cicatrizes, e sentiu o peito apertar.
– Posso? – Perguntou. Ela assentiu. Muito devagar ele colocou a mão na cintura de Gwyn e passou o outro braço por baixo de seus joelhos. Esperou que Gwyn ficasse rígida ao sentir o seu toque, mas ela pareceu relaxar.  Seus olhos se encontraram enquanto ela estava em seus braços e Azriel pode sentir uma de suas sombras passarem pelo cabelo de Gwyn. Ele decolou, tentando ser delicado. Sentiu Gwyn enterrar o rosto momentaneamente em seu peito e a sua respiração falhou. Ela levantou o rosto e poucos segundos depois eles pousaram em uma das ruas de Velaris.

O mínimo toque das mãos de Azriel no corpo de Gwyn, foi capaz de aniquilar todas as dúvidas da sua mente

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O mínimo toque das mãos de Azriel no corpo de Gwyn, foi capaz de aniquilar todas as dúvidas da sua mente. Como ele havia prometido, o vôo foi rápido, mas Gwyn esteve ciente da respiração e do toque de Azriel a cada segundo. Ele a colocou no chão devagar, e pela primeira vez na vida ela quis ser tocada novamente. O pensamento causou um espanto em si mesma, e ela tentou expulsa-lo ao olhar em volta. Era tudo tão belo e vibrante que todo o seu corpo reagiu a beleza da cidade. Ou pelo menos, foi o que ela tentou dizer a si mesma. Sua reação corporal foi inteiramente causada pela cidade, tinha que ser.
– Uau. – Ela declarou, sem saber para onde olhar primeiro. Azriel estava bem ao seu lado, e ela sentiu que ele observava cada movimento seu.
– Você está bem? – Perguntou. Ela assentiu, ainda absorvendo.
– Só estou... sem palavras. Eu olhei por tanto tempo pelas janelas da Casa. Nunca pensei que conseguiria estar aqui. – Sentiu uma lágrima escorrer pelo seu rosto. – É tão belo. – Uma das sombras de Azriel a tocou, em uma tentativa de limpar a lágrima que havia escorrido.
– Me desculpe. – Azriel se apressou em dizer, e imediatamente a sombra retornou até ele.
– Tudo bem! – Ela sorriu, e colocou a mão no próprio rosto, onde a sombra a tocou.
– Vamos? – Ele sinalizou o caminho, e ela o seguiu.

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