- CAPÍTULO TRÊS -

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Eu tinha acabado de chegar da faculdade, estou ansiosa para ler o livro mas a vizinha veio saltitante até mim.

Fiquei com dó de entrar e com medo de parecer sem educação.

Então parei com a mão na maçaneta.

— Oi, eu sou a nova vizinha. Meu nome é Brenna.— Ela me puxou para um abraço que fez minha mão ser arrancada da maçaneta.— Eu estou tão feliz, tentei conhecer os outros vizinhos ontem mas são tão sem papo, e não falei com vocês por que não vi o momento...

Meu Deus, como ela fala.

Fingi escutar cada palavra que saia da sua boca pintada com um batom vermelho, seus cabelos loiros presos em um rabo de cavalo e suas roupas sujas.

Ela não parecia com os vizinhos daqui, sem alegria.

Sorri vendo sua blusa com macha de tinta.

— Esse vizinhos são horríveis mesmo.— Falei tentando tranquiliza-la.— Hum... Você pinta?

Apontei para sua blusa branca que estava com macha azuis.

Ela sorriu mexendo na blusa.

— Oh, isso aqui é... só...— Suas bochechas coraram e eu sorri.

— Uma vizinha artista? Ainda não conhecida?— Tentei deixar ela mais a vontade.

Ela negou sorrindo.

— Eu e meu filho...— Ela começou.

Calma, essa garota...

Tem filho?

Eu a vi com um homem no quintal...

O garoto da janela, não era marido e não parecia mesmo.

— Você tem filho?— Perguntei descrente.

As vezes quando estou tão surpresa com a ideia de algo, eu assusto as pessoas.

Já aconteceu antes.

Agarrei minha mochila, com medo da reação mas ela só riu.

— Eu sei, não parece.— Ela mexeu a cabeça fazendo os cabelos balançarem.— Eu tive filho muito cedo e...

Ela começou a falar de novo.

Santo Deus.

Quando estava quase mandando ela parar a porta da minha casa é aberta.

— Entre logo, Lili.— Meu padrasto começou me olhando.— Cat está miando de mais querendo você, ela sabe quando você chega e fica assim...

Outro falador.

Suspirei e olhei para Brenna.

— David essa é  Brenna, Brenna esse é o David, meu padrasto.— Ela sorriu simpática.

— É muito bom conhecer os vizinhos, já que os outros são...— E ela começou de novo, enquanto apertava a mão de David.

Ele estava com os olhos arregalados, pedindo socorro para a falação da mulher.

— Mãe, seu telefone.— Escutei um grito grosso. Foi ai que Brenna parou de falar.

— Foi muito bom conhecer vocês...— Ela começou a tagarelar novamente.

Nem vi quando ela saiu da porta de casa, mas entrei rapidamente.

David está com a gata no colo e seu uniforme.

— Essa mulher fala de mais.— Ele estava acariciando a gata.

— Como você, David. É assim que eu me sinto.— Joguei a mochila no chão tirando o casaco de frio.

Hoje quando acordei para ir levar a lição de Sara o tempo estava de chuva, quando sai para faculdade tinha piorado e agora estava trovejando.

— Eu não falo tanto assim.— Ele se defendendo colocando a gata no chão.— Estou indo.

Ele bagunçou meus cabelos soltos antes de voltar a sala, pegar sua mochila e sair.

Subi para meu quarto, tomei um banho e me deitei.

Continuei ler o livro e depois adormeci.

"Quando acordei a casa estava escura.

Eu estava deitada em um lugar muito molhado, parecia uma piscina.

Senti tapas em meu rosto.

Meus olhos ainda estavam fechados, quando um puxão em meu pé me derrubou em um lugar cheio de água, eu fiquei submersa e comecei a me afogar.

Depois de um tempo na água, levantaram minha cabeça.

— Não pode desobedecer o papai, você sabe, Liz...— Ele beijou minha bochecha.— Agora receba seu castigo."

Acordei com água em meu rosto.

Sentei rapidamente, buscando ar.

Porra, porra...

— Liz? Você está bem?— Senti mãos em minhas costas.

Então comecei a chorar, com as mãos em meu rosto.

Um pesadelo, mais um.

— Estou bem.— Falei me levantando e limpando o rosto.— Por que minha cama está molhada?

Vi um baude caído no chão, perto da minha porta.

— Você não acordava, eu... eu tentei mas...— Ela se levantou confusa.— Você tinha parado, Liz, tinha parado.

Eu caminhei até ela e a abracei.

Passamos tempos difíceis com meu pai, esse foi um dos motivos que minha mãe se separou dele.

Ele batia em mulher.

Quando o velho morreu eu dei graças a Deus, ele morreu a cinco anos atrás mas agora ele sempre volta em meus sonhos.

E eu menti para minha mãe, meu padrasto, meu irmão a três anos atrás... falando que tínham parado.

Quando minha mãe saiu, eu tirei os lençóis da minha cama e tirei o colchão, deixando ele em pé para secar.

Vou precisar dormir no quarto de hóspedes.

— Amanhã vai ser tudo perfeito, vamos decorar logo cedo e vai ter vinho, cerveja...— Minha mãe dizia animada sobre o rodízio de amanhã.— Vai ter música e luzes...

Ela suspirou e eu sorri.

— Parece ótimo, vou estar lá para dar a nota.

— Não precisa de nota, vai estar tudo dez!

Ela sacudiu os peitos como sempre faz quando está animada.

Já falei sobre isso ainda mais quando aconteceu em um restaurante, ela estava com um vestido com um decote e quando fez isso tinha um garçom servindo o vinho para ela.

Ele não tirou os olhos até ela parar.

— Gostou meu amigo?— Foi o que ela perguntou.

David só olhava para ela, como se fosse a coisa mais linda do mundo e apesar sempre dos meus avisos sobre, ele insiste em falar que é fofo.

O garçom saiu envergonhado por ter olhado, isso rendeu muitas risadas e piadas durante semanas.

— Nina foi aceita na Universidade de dança.— Falei enquanto bebia um refrigerante.

— Sério? Ela não me falou.— Minha mãe fez um som frustrado.— Eu deveria saber primeiro, sou a chefe dela!

— Meu Deus! Quanto drama.— Eu sorri.— Sou a melhor amiga dela, eu tinha que saber primeiro.

— Claro que não! Eu quem fico com ela por horas.

— Mãe!— Repreendi.— Nossos horários não batem e você está em vantagem porque trabalham no mesmo lugar.

Depois de vencer com esse argumento fui dormir quem nem um anjo no quarto de hóspedes.

Mas teria sido melhor se não fosse os malditos vizinhos.

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