- CAPÍTULO QUATRO -

415 48 12
                                    

Meu colchão molhado? Eu posso aceitar isso.

Minha mãe brigar pela minha melhor amiga? Eu posso aceitar isso.

Sonhos com meu pai morto? Posso lidar com isso.

Mas a porra de um som alto as três horas da manhã é sacanagem.
Estou olhando para o teto faz vinte minutos.
O som continua alto, tocando uma música que nunca ouvi na vida.

Minha mãe tem sono pesado, então nem deve ter percebido mas eu não.

Como eu cochilei a tarde, demorei para pegar no sono. Mas quando peguei para dormir as uma da manhã o som estava baixo, estava suportável.

Mas parece que um zé, aumentou.

Ótimo. Já odeio vocês, novos vizinhos!

Me sentei na cama e coloquei os pés no chão, olhei a hora no meu celular para ver se eu não estava ficando louca.

Três e cinco.

Calcei minhas pantufas de arco-íris e desci as escadas. O tempo estava ótimo, nada de chuva.

Abri a porta e andei pela calçada, até chegar no portão dos vizinhos, estava destracado.

Entrei pisando duro na grama curta e verdinha da casa deles.

Passei minhas mãos pelos braços tentando esquecer o frio enquanto eu ia até a varanda e batia fortemente na porta.

Eles acham que é assim?

Não, não, meus lindos.

A porta é aberta pelo garoto de cabelos escuros, ele me olha de cima a baixo avaliando meu pijama.

Minha calça de listras cinzas e vermelhas e minha blusa de alças que não é bem do conjunto, preta.

Ele olha em meus olhos e percebo que seus olhos estão mais cansados.

- Bonita pantufa.- Ele diz com a voz baixa quando vê que não digo nada.- Eu queria uma do homem aranha mais não tinham, você acredita?

Sério?

Suspirei revirando os olhos.

- Olha eu iria pedir desculpas por incomodar em certas circunstâncias mas porra...- Abro os braços indignada.- São três horas da manhã e essa porcaria de som está alto para acordar a vizinhança.

Ele sorriu sem garça.

- Bom, eu também estou tentando dormir se não percebeu...- Ele aponta para seu pijama que é uma calça moletom preta que esta caindo pelos quadris e uma blusa de manga do homem aranha.- Desculpe por isso, meus pais receberam meus tios hoje e estão um pouco animados.

Quero gargalhar por conta da sua blusa do homem aranha.

- Eu só quero que abaixe o som, antes estava mais baixo e naquela altura não tinha problema pra mim.- Peço calma.

Brenna aparece por trás beijando a bochecha do, filho?

- Olá, vizinha.- Sua voz está baixa e mais calma.- Eu não sei seu nome, você não me disse, querida.

Suspiro buscando paciência.

Espero que ela não fale tanto quanto sã.

- Liz.- Digo e faço um beicinho.- Sr...

- Mendes.- Ela arruma a postura e joga o cabelo loiro para trás.

- Eu tenho que ir a uma consulta hoje cedo, as seis, porque estou fazendo exames para confirmar se tenho ou não câncer no fígado...- Abaixo a cabeça fingindo estar envergonhada.- A senhora poderia abaixar o som, por favor?

Perdão, senhor.

Ela tem um olhinho triste, parecendo sentir minha dor.

Atuação, sabia que as aulas de teatro iam prestar para alguma coisa.

- Claro, claro.- Ela começa sacudir a cabeça tentando não chorar.

Quando seu marido chega com uma garrafa de vinho aberta.

- Amor, estão nos esperando...- Ele franze a testa ao ver a mulher com a mão no rosto.- O que aconteceu?

O garoto tem um sorriso discreto para mim, como se dissese " Você mente tão bem."

- Nossa Liz, pediu para abaixar o som...- Ela soluça.

Nossa Liz?

Preciso ir para casa.

- Estava chorando por precisar abaixar o som?- Ele parece querer rir.

Percebi que ele tem os mesmos olhos que o menino e quase o mesmo sorriso escondido na boca.

Até o cabelo escuro e curtos é igual, só que o do marido está mais arrumado.

- Não, ela tem câncer no fígado...- Ela começa chorando.

- Não tenho certeza ainda...- Tento fazer alguma coisa mas o homem me olha com pena.

Os olhos azuis claros, profundo me encarando.

- Sinto muito, nossa Liz.- Ele coloca a mão no ombro da esposa.- O pai de Brenna tinha câncer no fígado antes de morrer.

Oh, Meu Deus é pior que eu pensava.

- Eu ainda não tenho certeza...- Comecei a mentir novamente e o garoto soltou uma gargalhada, rouca e alta.

- Está rindo da doença da Nossa Liz, Collin?- Seu pai perguntou franzindo a testa.

Brenna me abraçou forte.

- Não liga para ele, estamos aqui com você...- Ela começou a chorar no meu ombro.- Eu sinto...

Mais dois rostos apareceram na porta de entrada.

- Quem vai morrer?- Um homem de cabelos loiros perguntou sorrindo.

- Sinto muito por isso.- Collin falou trampando a boca.

Sente pelo o que? Eu quis questionar.

- Nossa Liz, tem câncer no fígado. Como papai, Richard...- Brenna me puxou para dentro.

O loiro abriu a boca e fechou várias vezes antes de se ajoelhar e chorar.

A mulher de cabelos longos e ruivos que está com ele se ajoelhou, e começou a fazer carinho em suas costas.

O que eu fiz?

Merda, eu saio correndo? Falo a verdade?

O que eu faço?

- Ele nunca soube o que fazer nessas situações, me desculpa Liz...- A mulher disse a mim.

Lambi os lábios.

Ok, arrume isso.

- Obrigada por tudo, abaixe o som e até mais.- Sai sem olhar para trás.

Quando cheguei no quarto gargalhei.

Meu Deus!

Nunca mais vou mentir sobre doenças.

Quando me deitei não ouvi mais o som, agora as luzes estavam todas apagadas menos da sala onde estava a gritaria.

Sonhos Escuros Onde histórias criam vida. Descubra agora