Meu colchão molhado? Eu posso aceitar isso.
Minha mãe brigar pela minha melhor amiga? Eu posso aceitar isso.
Sonhos com meu pai morto? Posso lidar com isso.
Mas a porra de um som alto as três horas da manhã é sacanagem.
Estou olhando para o teto faz vinte minutos.
O som continua alto, tocando uma música que nunca ouvi na vida.Minha mãe tem sono pesado, então nem deve ter percebido mas eu não.
Como eu cochilei a tarde, demorei para pegar no sono. Mas quando peguei para dormir as uma da manhã o som estava baixo, estava suportável.
Mas parece que um zé, aumentou.
Ótimo. Já odeio vocês, novos vizinhos!
Me sentei na cama e coloquei os pés no chão, olhei a hora no meu celular para ver se eu não estava ficando louca.
Três e cinco.
Calcei minhas pantufas de arco-íris e desci as escadas. O tempo estava ótimo, nada de chuva.
Abri a porta e andei pela calçada, até chegar no portão dos vizinhos, estava destracado.
Entrei pisando duro na grama curta e verdinha da casa deles.
Passei minhas mãos pelos braços tentando esquecer o frio enquanto eu ia até a varanda e batia fortemente na porta.
Eles acham que é assim?
Não, não, meus lindos.
A porta é aberta pelo garoto de cabelos escuros, ele me olha de cima a baixo avaliando meu pijama.
Minha calça de listras cinzas e vermelhas e minha blusa de alças que não é bem do conjunto, preta.
Ele olha em meus olhos e percebo que seus olhos estão mais cansados.
- Bonita pantufa.- Ele diz com a voz baixa quando vê que não digo nada.- Eu queria uma do homem aranha mais não tinham, você acredita?
Sério?
Suspirei revirando os olhos.
- Olha eu iria pedir desculpas por incomodar em certas circunstâncias mas porra...- Abro os braços indignada.- São três horas da manhã e essa porcaria de som está alto para acordar a vizinhança.
Ele sorriu sem garça.
- Bom, eu também estou tentando dormir se não percebeu...- Ele aponta para seu pijama que é uma calça moletom preta que esta caindo pelos quadris e uma blusa de manga do homem aranha.- Desculpe por isso, meus pais receberam meus tios hoje e estão um pouco animados.
Quero gargalhar por conta da sua blusa do homem aranha.
- Eu só quero que abaixe o som, antes estava mais baixo e naquela altura não tinha problema pra mim.- Peço calma.
Brenna aparece por trás beijando a bochecha do, filho?
- Olá, vizinha.- Sua voz está baixa e mais calma.- Eu não sei seu nome, você não me disse, querida.
Suspiro buscando paciência.
Espero que ela não fale tanto quanto sã.
- Liz.- Digo e faço um beicinho.- Sr...
- Mendes.- Ela arruma a postura e joga o cabelo loiro para trás.
- Eu tenho que ir a uma consulta hoje cedo, as seis, porque estou fazendo exames para confirmar se tenho ou não câncer no fígado...- Abaixo a cabeça fingindo estar envergonhada.- A senhora poderia abaixar o som, por favor?
Perdão, senhor.
Ela tem um olhinho triste, parecendo sentir minha dor.
Atuação, sabia que as aulas de teatro iam prestar para alguma coisa.
- Claro, claro.- Ela começa sacudir a cabeça tentando não chorar.
Quando seu marido chega com uma garrafa de vinho aberta.
- Amor, estão nos esperando...- Ele franze a testa ao ver a mulher com a mão no rosto.- O que aconteceu?
O garoto tem um sorriso discreto para mim, como se dissese " Você mente tão bem."
- Nossa Liz, pediu para abaixar o som...- Ela soluça.
Nossa Liz?
Preciso ir para casa.
- Estava chorando por precisar abaixar o som?- Ele parece querer rir.
Percebi que ele tem os mesmos olhos que o menino e quase o mesmo sorriso escondido na boca.
Até o cabelo escuro e curtos é igual, só que o do marido está mais arrumado.
- Não, ela tem câncer no fígado...- Ela começa chorando.
- Não tenho certeza ainda...- Tento fazer alguma coisa mas o homem me olha com pena.
Os olhos azuis claros, profundo me encarando.
- Sinto muito, nossa Liz.- Ele coloca a mão no ombro da esposa.- O pai de Brenna tinha câncer no fígado antes de morrer.
Oh, Meu Deus é pior que eu pensava.
- Eu ainda não tenho certeza...- Comecei a mentir novamente e o garoto soltou uma gargalhada, rouca e alta.
- Está rindo da doença da Nossa Liz, Collin?- Seu pai perguntou franzindo a testa.
Brenna me abraçou forte.
- Não liga para ele, estamos aqui com você...- Ela começou a chorar no meu ombro.- Eu sinto...
Mais dois rostos apareceram na porta de entrada.
- Quem vai morrer?- Um homem de cabelos loiros perguntou sorrindo.
- Sinto muito por isso.- Collin falou trampando a boca.
Sente pelo o que? Eu quis questionar.
- Nossa Liz, tem câncer no fígado. Como papai, Richard...- Brenna me puxou para dentro.
O loiro abriu a boca e fechou várias vezes antes de se ajoelhar e chorar.
A mulher de cabelos longos e ruivos que está com ele se ajoelhou, e começou a fazer carinho em suas costas.
O que eu fiz?
Merda, eu saio correndo? Falo a verdade?
O que eu faço?
- Ele nunca soube o que fazer nessas situações, me desculpa Liz...- A mulher disse a mim.
Lambi os lábios.
Ok, arrume isso.
- Obrigada por tudo, abaixe o som e até mais.- Sai sem olhar para trás.
Quando cheguei no quarto gargalhei.
Meu Deus!
Nunca mais vou mentir sobre doenças.
Quando me deitei não ouvi mais o som, agora as luzes estavam todas apagadas menos da sala onde estava a gritaria.
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Sonhos Escuros
RomantikLiz é uma garota que carrega um passado triste, mas sua vida deu uma reviravolta e agora está satisfeita por ter superado. Mas, sua vida muda completamente quando ela recebe novos vizinhos e com essa nova mudança ela experimenta novos sentimentos e...